“Festa dos Carecas”, por Celso Frauches

Ao céu coberto de estrelas
Sobe, ardendo, um balão
Mas meus olhos, só de vê-las,
Fazem logo uma oração.
Leva ao céu, ó balãozinho,
Meu pedido com fervor
Entrega a Antônio, o santinho:
‒ Preciso de um grande amor!
(Angela Araújo de Souza)

A minha amiga Eny Baptista cedeu, ao Instituto Mão de Luva, um caderno sobre a vida e a obra da professora, poeta e escritora Amélia Thomaz. Nele, encontro as origens da Festa dos Carecas, evento realizado em torno de 29 de junho, dia de São Pedro, mas englobando São João e Santo Antônio, santos que, no Brasil, estão ligados aos festejos juninos.

Conta Amélia Thomaz que, por volta de 1910, algumas pessoas se reuniram para fazer uma fogueira, no dia de São Pedro, entre a Rua Mão de Luva e a Praça XV de Novembro, hoje, Praça Papa João XXIII. Eram eles Eliseu Gomes Braga, Manoel João de Freitas, Antônio Francisco Torres, José Pacheco dos Reis e sua esposa, Isabel Reis, além de Américo e Oscar Monteiro.

Esse foi o início da Festa dos Carecas.

Arraiá da Educação, em CantagaloNoite fria, tão fria de junho! Capelinha de melão! Balão fogueira, danças, quentão, milho assado. Quantas recordações! Era a Festa dos Carecas. A festa do ano para Cantagalo. A festa que ficou no meu coração, talvez ainda mais bela do que a que acontecia na praça, nas ruas.

É dessa que quero falar. Da festa que guardo na memória. Lembro-me de que ela era preparada com empenho e zelo pela Comissão da Festa. Mas todo o povo participava. Cada rua fazia sua festa particular, cuja renda ia para a organização da festa principal. E como era bom! Uma família fazia o quentão, outra as broas, aquela outra o chocolate, o milho, a batata doce assada na fogueira. As barraquinhas vendiam o que se fazia. Havia música. Uma bandinha aparecia na hora, com certeza.

Me vem à memória a festa junina de “seo Dodô”, que morava pelos lados onde hoje é a Frigalo. Muito animada, com grande fogueira, comilança e os fatídicos busca-pés que faziam a garotada pular e correr com ele atrás. Será que ainda existem busca-pés? Pés ainda existem…

Ah, que festa! Todo o mês de junho corria por sua conta. São João Batista, Santo Antônio, São Pedro, embora tenham vivido em tempos diferentes, na Festa dos Carecas eram irmãos siameses e se entrelaçavam na fé dos festejos.

No principal dia da celebração havia, claro, a Missa Solene para a qual Padre Crescêncio, de saudosa memória, escolhia sempre um grande pregador, para encantar a multidão que se reunia à porta da Matriz na chegada da procissão.

Celso Frauches
Celso Frauches

Não podemos esquecer da procissão que atraía o povo de Cantagalo e da redondeza em torno dos andores de nossos santos juninos, criados pela amada mestra de todo cantagalense: Maria de Lourdes Dietrich Gonçalves, a Dona Lurdes da Geografia, da Psicologia, do Canto Orfeônico ‒ Do, Re, Mi, Sol… Ela caprichava nos andores. Havia sempre um São João na Capelinha de Melão, o Santo Antônio dos milagres, o São Pedro pescador com suas redes e peixes, tantos já pescados, mais ainda a serrem pescados: “Eu vos farei pescadores de homens, de almas” ‒ disse Jesus.

Ao som da Sociedade Musical XV de Novembro o povo caminhava solene pelas ruas da cidade.

Como foi bom! Como são maravilhosas as festas juninas. Na pandemia, não há festas nas escolas, os caipiras devidamente vestidos. Dá uma saudade!…

A Festa dos Carecas é centenária. Mas não acabou… Mudou, seguiu os novos tempos.

Ah, não posso esquecer do concurso para escolher o Rei dos Carecas, ganho algumas vezes pelo companheiro de página ‒ Júlio Carvalho. “É dos carecas que elas gostam mais”… Vou confessar, tenho um sonho: ainda hei de ser Rei dos Carecas. Será que vamos competir, amigo Júlio?

Nesses poucos meses que estou residindo em Cantagalo, não ouvi nenhuma história dessa festividade tipicamente caipira, junina. Talvez não haja mais a Festa dos Carecas, o concurso de Rei dos Carecas. E eu não poderei realizar o meu singelo sonho de ser rei de alguma coisa. Nem que seja dos Carecas…

Ah, Santo Antônio querido,
Atendeu minha ansiedade
Trouxe-me um grande amor
Trouxe-me a felicidade.
(Angela Araújo de Souza)

Celso Frauches é professor, escritor, pesquisador, ex-secretário Municipal de Cantagalo e consultor Especialista em Legislação

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