Veterano de guerra participa de encontro com alunos em Itaocara
Os três reis foram chamados pela Estrela-Guia
Incenso, ouro e mirra para o Santo Filho de Maria
Nós cantamos neste dia com muita alegria
Louvando os Santos Reis e o Santo Filho de Maria.
(Roque Augusto Ferreira, por Maria Betânia)
Reisado, Festa de Santos Reis, Folia de Reis ou Companhia de Reis é uma manifestação católica, cultural e festiva, com origem em Portugal e adotada pelo folclore brasileiro. Comemorativa da Epifania do Senhor, é a celebração ou adoração dos Reis Magos ao nascimento de Jesus de Nazaré. No Brasil, aconteceu a influência das culturas africana e indígena.
Em nosso país, essa manifestação religiosa e folclórica é geralmente realizada entre 20 de dezembro a 6 de janeiro, data consagrada aos Três Reis Magos. As pequenas cidades dos estados do Rio de Janeiro, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, São Paulo e Paraná são, em geral, o palco para essas comemorações. Lembro-me da minha infância, na Fazenda da Serra, no distrito de São Sebastião do Paraíba, quando nossa casa era visitada por grupos fantasiados, àquela época toscamente, com máscaras e o famoso “boi pintado”. Eu me divertia muito! Depois de várias cantigas, o mestre do grupo estendia o chapéu para recolher a mesada pela apresentação.
A professora, escritora e poeta Amélia Thomaz, nos “arquivos implacáveis” da amiga Eny Baptista, tem um texto sobre “O nosso folclore”, escrito em 23 de dezembro de 1989. Ela acentua a influência africana, trazida pelos negros escravos, e pelos índios que habitavam a região da antiga “Serras do Macacu” ou o território da antiga Vila de São Pedro de Cantagalo, da qual nasceram cerca de catorze municípios no Centro-Norte e Região Serrana fluminense. Sobre a Folia de Reis, registra tratar-se da mais ativa manifestação folclórica que faz parte do ciclo natalino. As Folias de Reis ou Companhia dos Santos Reis são coloridas e festivas, não lhes faltando a figura do palhaço e uma certa dramaticidade relacionada com a Matança dos Inocentes, após a visita do Reis Magos a Belém, narrada em Mt 2,16-18. O instrumental é rico e variado, “dançam e cantam, visitam os presépios e espalham, em meio ao espírito de festa esfuziante, o profundo entendimento popular dos grandes mistérios da fé que se concentram ao redor da Encarnação do Verbo”. Os escravos introduziram inúmeras práticas cultuadas ou praticadas em suas nações de origem, onde muitos eram reis, rainhas, princesas.
A poeta Amélia Thomaz cita a pobreza dos grupos da época, registrada, em 1982, em uma trova inédita:
O céu generoso cobre
Com o manto claro da lua,
O sono humilde do pobre
Que dorme, sem lar, na rua.
Eny Baptista organizou e participou ativamente do Encontro de Folias de Reis de Cantagalo, com o apoio da Prefeitura Municipal e de vários empresários, que foram padrinhos dos diversos grupos folclóricos existentes em nosso município. Vou destacar alguns grupos que estiveram presentes nesses encontros.
“Estrela Dalva do Oriente”, do bairro São José, tinha como Mestre o Zezinho e dezoito foliões. Os padrinhos: Dilmar M. Noronha e Lucinha, Manoel Francisco de Paula Bon e Nancy, Geraldo Pires Guimarães e Marineth, Nigel Caruso Nara e Neida, João Luiz Reis e Suely, Navaldo Tiberto e Ilenyr, Amaro Gomes e Dea e Olinto Ferreira e Eny.
O grupo “Flor dos Anjos”, de Campo Alegre, desfilava com o Mestre Geraldo Vital dos Santos e mais 25 foliões. Tinha como padrinhos: Eny Chevrand Baptista e Marina Longo, Erly Bon Cosendey e Maria Stela, Álvaro Augusto Romero e Rejane, Celso Japour e Amélia, Jorge Valverde e Maria Eugênia, Gian Carlo Sally Figueira e Oneida, Geraldo Nóbrega Figueira e Iracy e Paulo César Richa e Nívea.
O “Estrela do Oriente”, das Lavrinhas, desfilava com o Mestre Ciro ou Eduardo e mais vinte foliões. Seus padrinhos: Geraldo Pires Guimarães e Marineth, Celso da Silva Guimarães e Jaíza, Renê Noronha e Dalva, Daniel Fernandes Carvalho e Camila, Carlos Fernandes Carvalho e Camila, Carlos Fernando Gomes (Dondoca), Lêda Pereira Guzzo e Caroline, Joaquim Maurício de Souza Carvalho e Wellington Folly e Cirnéa.
Havia, também, o grupo “Raiz Nova de Cordeiro e Cantagalo”. O Mestre era Juca Caboclo, que comandava 25 foliões. Os padrinhos conhecidos: Geraldo Pires Guimarães e Marineth, Amaro Valente Gomes e Déa, Davi Salomão e Eliane, Dilmar M. Noronha e Lucinha, Joaquim Gerk Tavares e Virgínia, Lauro e Kátia, Toninho Gerk Tavares e Rosângela e Eny Chevrand Baptista.
Curioso é que, muitas vezes, as crianças ficavam temerosas diante das Folias e se escondiam com medo do palhaço, talvez por causa das máscaras e das danças, pois ele se aproximava dos pequenos, cantando e pulando. Muitos palhaços pareciam verdadeiros repentistas, dizendo ou cantando versos criados na hora e para a ocasião.
Era muito interessante, há alguns anos, ver a Folia de Reis vir pelas ruas da cidade, chegar próximo às casas das famílias e entregar a bandeira para percorrer o interior da casa, como que a abençoando. Havia um “quê” de respeito pela manifestação.
Hoje em dia não acontece muito assim. Em geral, as Folias se atêm ao centro de nossa cidade, à Praça da Matriz e ao nosso belo Jardim para se concentrarem e fazerem suas apresentações.
No Portal da Prefeitura de Cantagalo, encontrei notícia, publicada em 6 de dezembro de 2017, sobre o XIX Festival de Folia de Reis na Cidade: “As canções, os instrumentos e a perpetuação da cultura folclórica invadem pela décima nona vez as ruas de Cantagalo! A Prefeitura Municipal de Cantagalo, por meio da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, irá promover no próximo domingo, dia 10 de dezembro, o XIX Festival de Folia de Reis na Cidade. A expectativa para este ano é que mais de 30 Folias estejam presentes, abrilhantando o já tradicional encontro”.
Em 9/12/2019, a Assessoria de Comunicação noticiou no portal da Prefeitura: “XXI Festival de Folia de Reis de Cantagalo homenageará Chiquinho Feijó, Odir Nacif e Arlete Lins. O Município de Cantagalo irá respirar ainda mais a Cultura no próximo Domingo, 15. A Secretaria de Cultura e Turismo irá promover o XXI Festival de Folias de Reis do Município. As canções, os instrumentos e a perpetuação da cultura folclórica invadem pela vigésima primeira vez as ruas de Cantagalo!”.
2020 e 2021 foram tomados pela pandemia do vírus chinês. Não houve Folias de Reis.
Com abrandamento da pandemia, espero que as Folias de Reis voltem a circular em Cantagalo, no próximo período Natal/Dia de Reis (2022/2023), resgatando o rico folclore cantagalense e região.
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.