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Terceiro maior consumidor de alimentos do Brasil, o Estado do Rio de Janeiro tem forte potencial para produzir grãos, especialmente soja e milho. A conclusão está no estudo apresentado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no encontro virtual promovido pelo Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio de Janeiro, órgão da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), no dia 24 de agosto. Somente na Região Norte Fluminense, foram mapeados mais de 320 mil hectares de solos aptos para cultivo de grãos, sendo oportunidade de geração de emprego e renda.
De acordo com a Embrapa, o custo de produção de soja nessa região é de mais de R$ 6 mil por hectare, com lucro líquido superior a R$ 3 mil por saca, superior a outras regiões produtoras do país. “Foram testados mais de 50 cultivares e o desempenho em relação a outras áreas de cultivo no país é maior, são 3 toneladas por hectare”, destacou o pesquisador Jerri Zilli, em sua apresentação. Segundo ele, há oportunidades para se introduzir a produção de feijão, grão de bico, feijão-caupi e soja verde, aproveitando áreas abandonadas e a oferta de linhas de financiamento.
Um desafio, no entanto, é a distribuição de chuvas. Para isso, é preciso desenvolver boas práticas de produção para enfrentar os veranicos e as secas na região. O pesquisador ressaltou ainda que há, inclusive, possibilidade para a exportação de grãos, já que o Porto do Açu, em São João da Barra, está estruturado para o carregamento destes produtos e hoje já realiza exportação de fertilizantes. “A Alerj pode desenvolver um plano político econômico de desenvolvimento de recuperação territorial voltado para a cadeia produtiva de grãos, coordenado pelo governo estadual, e isso vai gerar empregos”, disse Zilli.
Diagnóstico do agronegócio
Durante o encontro, foi apresentado um diagnóstico do agronegócio fluminense, encomendado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e pela Federação da Agricultura, Pecuária e Pesca do Estado (Faerj) à Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro). O presidente da Faerj, Rodolfo Tavares, destacou que esta cadeia produtiva envolve todos os outros setores da economia, desde o comércio e serviços, óleo e gás, “antes e depois da porteira”, representando um desafio muito grande para o estado.
“A produção de grãos não é uma tradição de nosso estado. A maior baixada agrícola do nosso estado é a baixada campista, que sempre se dedicou à atividade sucroalcooleira. É um grande desafio pensar em outras alternativas. Não tem infraestrutura própria para esta atividade, é preciso análise profunda, desde o sistema de drenagem e irrigação, certamente, outras medidas que serão claramente visíveis para que o produtor possa empenhar seu esforço nesta direção”, disse o presidente da Faerj.
O presidente do Conselho Empresarial de Agronegócios, Alimentos e Bebidas da Firjan, Antônio Carlos Cordeiro, apresentou os dados do estudo que traça um retrato do agronegócio nos anos 2000 no estado, bem como propostas para aumentar a competitividade de cinco cadeias econômicas estratégicas – látex, pescado, café, sucroalcooleiro e grãos.
“O estudo aponta que, se fosse um país, o Rio teria o maior déficit comercial entre todos os estados – São Paulo tem o maior superávit e Santa Catarina o segundo. Compramos mais do que vendemos R$ 86,9 bilhões. Na questão de alimentos, 80% a 90% do que a gente come vem de fora”, destaca.
Mesmo sendo pequeno, o Rio tem apenas 9,5% de seu território ocupados por áreas agrícolas – no Rio Grande do Sul, essa fatia chega a 41%. De 1995 a 2020, houve uma involução na área plantada, por conta da queda no setor sucroalcooleiro no Norte fluminense. Consequentemente, o estado tem o pior desempenho do país em evolução da área plantada: 64,4% em 25 anos – de 294 mil para 111 mil hectares. Com isso, o valor real da produção caiu para menos de 38,2%, só à frente de Acre e Paraíba.
Com a atividade agrícola em baixa, o número de contratos e crédito rural também vem caindo ano a ano, apesar de o valor estar aumentando – em 2021, teve um pequeno aumento, ficando em 5.694 contratos, contra 5.444 em 2020 e 5.625 em 2019. O número de pessoas ocupadas também vem caindo, de 376 mil para 296 mil, uma tendência que se observa em todo o mundo.
Enquanto o rebanho bovino fluminense manteve a mesma participação no cenário nacional (1,2%), o rebanho de frango e suíno vem caindo consideravelmente – de 2,5% para 0,7% e de 0,8% para 0,2%, respectivamente. A produção leiteira do estado, se mantém na faixa de 443 mil litros, porém, caiu de 2,6% para 1.3% no cenário nacional.
Projeto de lei para reduzir ICMS
A exportação de grãos já é uma realidade na região, só que por outro caminho, o Porto de Santos (SP). Durante o encontro, Jonas Kluppel Figueira, gerente da Fazenda Primus, em Macaé, que planta 600 hectares de milho e 300 de soja, contou que já exporta soja para a China e outros países, mas enfrenta dificuldades na questão tributária.
“Antes, a gente mandava para São Paulo e pagava 12%. Para comercializar dentro do Rio, a tributação passa para 20%. Isso é um desestímulo, um ponto com dificuldade para aumentar a produção e gerar mais empregos”, disse. Hoje a soja produzida na fazenda é exportada e também consumida para alimentação animal. Já o milho é vendido dentro do estado e utilizado para consumo próprio na fazenda.
“Isso desincentiva a produção, que é o que precisa para desenvolver o estado. Há uma série de caminhos possíveis para corrigir esse problema, em parceria com a Firjan. É preciso que a questão chegue à Alerj, para ver caminhos. A proposta de um projeto de lei pode iniciar esta discussão, a partir de uma conversa com a Secretaria de Estado de Fazenda”, disse a secretária-geral do Fórum da Alerj, Geiza Rocha.
Outro tema abordado no encontro foi um estudo desenvolvido pela Embrapa Agrobiologia sobre os sistemas integrados de produção agropecuária de baixo carbono. “Temos o desafio de crescer a produção de grãos, tornar isso mais importante para o estado e o país, mas temos que conviver com o desafio das mudanças climáticas e dificuldades que se impõe ao sistema. O estado tem que contribuir para a mitigação dos gases do efeito estufa. Então, a integração parece ser a melhor estratégia. A mitigação não é negativa. A pegada de carbono – quantidade de gases do efeito estufa do produto (proteína animal) tende a reduzir”, explicou o pesquisador Bruno Alves.
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