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Cantagalo tem sido berço de lendários ícones da medicina, da farmácia, da sociologia, das ciências jurídicas, das letras e das artes. Só para lembrar dos mais salientes nessas áreas, na mesma sequência: Chapot Prevost, Rodolfo Albino, Américo de Castro, Júlio Veríssimo da Silva Santos, Euclides da Cunha, Honório Peçanha.
Frederico Carlos Eyer (1885/1962) é considerado o “ícone da Odontologia brasileira”. Veio ao mundo em 15 de outubro de 1885, em Cantagalo, na Fazenda Gavião. Era filho de João Frederico Eyer e de Carolina Meyer Eyer.
Os Eyer, no Brasil, são descendentes de Johann Heinrich Caspar Eyer¹, nascido em 1799, em Godramstein, Landau, Palatinado, Alemanha. Ele emigrou para a colônia de Nova Friburgo, vindo pelo barco Justine, em 1837. Faleceu em 18 de janeiro de 1867, em Nova Friburgo. Era casado com Elisabeth Schuck, oriunda de Marlautern, Kaiserslautern, que morreu em 8 de junho de 1890, em Nova Friburgo. Eles tiveram onze filhos, entre os quais, Frederico Carlos Eyer, neto do patriarca Eyer, filho de Johann Friedrich Gaspar Eyer e de Maria Carolina Meyer, que migraram para Cantagalo e foram residir na Fazenda Gavião.
Os estudos primários de Frederico Eyer foram em Nova Friburgo; os secundários na cidade do Rio de Janeiro. Após exames preparatórios no Colégio Pedro II, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil. Foi diplomado em 1904, aos dezenove anos de idade, como Cirurgião-Dentista (CD). Não contente, cursou e foi diplomado em Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais.
Em 1911, Eyer já era professor de Clínica Odontológica, na mesma faculdade em que se diplomou como CD. Constatando que os estudantes de Odontologia recebiam, praticamente, ensinos teóricos, criou a disciplina de Clínica Odontológica, na Faculdade de Medicina, para que os estudantes pudessem executar os serviços clínicos, durante o curso de graduação.
No início do século XX, fundou, no Rio de Janeiro, então capital da República, em 1911, a Associação Central Brasileira de Cirurgiões-Dentistas. Fato inédito, característica de líderes com convicção de sua missão e visão de futuro.
Foi diretor da Faculdade Nacional de Odontologia da Universidade do Brasil, hoje UFRJ, diretor do Centro Odontológico Escolar da Prefeitura do Distrito Federal, presidente da Federação Latino-Americana de Odontologia, fundador do primeiro Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas e da Federação Odontológica Brasileira, da qual foi o primeiro presidente.
No Sindicato por ele criado, realizou dezenas de congressos nacionais e internacionais, desenvolvendo ações concretas para a formação técnica dos cirurgiões-dentistas, com a prevenção e o acesso da população ao tratamento odontológico. Presidiu o Congresso Dentário da Filadélfia (EUA).
Em abril de 1925, Frederico Eyer criou, na Cidade do Rio de Janeiro, a Assistência Dentária Zeferino D’Oliveira que, durante décadas, desenvolveu um excelente trabalho pedagógico-dentário atendendo, com zelo e carinho, milhares de crianças pobres. Zeferino D ́Oliveira (1870/1929) era um imigrante português, empresário de sucesso e pessoa caridosa, que mantinha a Clínica para assistência dentária a crianças.
Sob a liderança de Frederico Eyer fundou-se, em 1949, a Academia Brasileira de Odontologia (AcBO). Foi o primeiro presidente da AcBO. Com ele, a Academia foi estruturada, organizada em seus setores acadêmico-administrativos e deslanchou em tempos em que esse tipo de associação estava nascendo na França, servindo de exemplo para muitos países. Na AcBO, ocupou a Cadeira 32.
Em 1940, antes da fundação da Academia, Frederico Eyer publicou um ensaio clássico sobre a Evolução da Odontologia no Brasil e no Mundo − As Primeiras Faculdades de Odontologia do Brasil e do Mundo, sob o título A Odontologia.
No II Congresso Mineiro de Odontologia, realizado em Belo Horizonte, na década de 60 do século XX, foi outorgada a Comenda FREDERICO EYER − 1869/1969, criada e concedida a personalidades da Odontologia brasileira.
Frederico Eyer exerceu as funções de inspetor-geral da Associação Paulista de Assistência Dentária Escolar e foi um grande defensor da prevenção e do tratamento dos dentes de crianças. Afirmava que São Paulo teve um papel pioneiro nesse campo.
Em 1915, estava realizado o seu sonho: ver o ensino prático da odontologia implantado e consolidado. Revistas de renome internacional exaltavam a proeza do professor Eyer: dentistas recém-formados já dominavam as técnicas odontológicas, aptos ao exercício da profissão.
Foi nomeado, em 1933, catedrático da disciplina Prática Odontológica, da Faculdade de Medicina.
No 3º Congresso Latino-Americano de Odontologia, com a unanimidade dos participantes, cerca de dois mil profissionais, foi eleito Presidente da Federação Odontológica Latino-Americana.
A tese de odontologia de Frederico Eyer, apresentada ao Congresso do Instituto Brasileiro de Cultura, mantido pelo Governo Federal, foi aprovada por unanimidade.
Ao completar trinta anos de magistério, foi homenageado com uma placa de bronze, com missa solene na Igreja da Candelária e almoço comemorativo no então famoso Automóvel Clube.
Foi autor de inúmeros artigos, publicados nos periódicos especializados da área da Odontologia. São de sua autoria os livros: A Odontologia, Clínica odontológica − lições para estudantes, Nos domínios da Odontologia, Clínica Odontológica, A descoberta da anestesia, A investigação da paternidade pelos dentes, A pyorrhéa alveolar e seu tratamento, A higiene dentária escolar, Preceitos básicos de higiene dentária, O dentista não precisa ser médico, A vida de um dentista, Anais do 1º Congresso de Prótese Dentária (organizador), Actas e trabalhos de odontologia e Boletim Odontológico (organizador).
Frederico Carlos Eyer é o único ícone da odontologia brasileira. Um cantagalense que nasceu num palácio e morreu famoso, na simplicidade com que conduziu sua existência, sem se vangloriar de seus feitos na área da Odontologia. A ele as homenagens do Instituto Mão de Luva, que continua garimpando memórias de cantagalenses que contribuíram ou contribuem para o desenvolvimento da educação, ciência, letras, artes e tecnologia.
¹ Imigrantes Alemães em Nova Friburgo – César Raibert Valverde. Disponível em: http://raibert-friburgo24.blogspot.com/p/eyer.html.
Você, amigo leitor, pode contribuir para a descoberta de cantagalenses que se destacaram, desde a segunda metade do século XVIII aos nossos dias, nas diversas áreas de conhecimento. Contatos: diretoria@maodeluva.srv.br – (22) 98183-3095 (Celso, diretor-presidente) / (22) 98115-7200 (Angela, diretora) / (22) 98140-9519 (Sérgio, diretor-executivo).
2 Comentários
Beleza de artigo. Muito me emocionou o texto. Notei, entretanto, que nos parágrafos 17 e 20 trocaram o nome de Frederico Eyer para Fernando Eyer, talvez um lapso de revisão, que não chega a prejudicar o brilho da pesquisa.
Corrigido! Obrigado pelo aviso!