Friburguense encara o desafio da Série A do Estadual e o medo das chuvas

O Friburguense passou 13 anos na elite carioca. Foi rebaixado em 2010 para, em uma ironia do destino, disputar a Série B justamente no ano da tragédia. A preparação foi atrapalhada pelas águas. Treinamentos e amistosos foram cancelados. O gramado do Estádio Eduardo Guinle serviu como heliporto para a remoção de feridos. O ginásio foi usado para estocar doações. E o clube reagiu.

O primeiro jogo na Série B foi em 13 de fevereiro, contra a Portuguesa. Também foi o primeiro grande evento na cidade desde o desastre de um mês antes. E ali o Friburguense já deu um sinal de que ajudaria a aliviar a dor de seus simpatizantes. Goleou por 6 a 0.

Foi uma campanha de 40 jogos e apenas duas derrotas. O Frizão chegou à última rodada podendo ser campeão. Mas empatou por 2 a 2 com o Serra Macaense. Ficou como vice do Bonsucesso. Lucas Santos Siqueira, apesar de volante, foi um dos grandes destaques da equipe, com nove gols. “A nossa responsabilidade aumentou muito com tudo que aconteceu na cidade. Viramos uma referência de alegria, de falarem coisas boas de Nova Friburgo. O Friburguense fez muito bem isso no ano passado. As pessoas sempre comentavam na rua, satisfeitas com o que fazíamos”, disse Lucas.

Bidu, outra referência do time que forma a dupla de volantes com Lucas, referenda o que diz o colega de time. Acostumado com a cidade, ele percebeu um ambiente diferente no decorrer do ano passado. “Eu sou nascido e criado em Friburgo. Vi uma situação que não via há muito tempo: o estádio cheio de torcedores. Foi devido a esse fato, a essa tragédia. Conseguimos trazer um pouco de alegria a nosso povo. Ainda vemos muita tristeza, um povo muito sofrido, e ficamos felizes por ter feito nosso povo torcer, sorrir”, afirmou Bidu.

A equipe usou a tragédia como motivação. Os jogadores tentaram se valer do futebol para alegrar Nova Friburgo. “Foram feitos filmes da cidade, do jeito que estava, e o grupo comprou a ideia de dar uma felicidade para o povo, mesmo que em uma dose pequena. Foi gostoso ver o estádio lotado, com a torcida gritando o nome do time”, comentou o técnico Gerson Andreotti, que assumiu o comando do Frizão em meio à disputa da Série B.

Futebol e drama

Faz um ano que Lucas Santos Siqueira acordou assustado com o temporal que atingiu Nova Friburgo durante a madrugada daquele 12 de janeiro de 2011. Por mais que pesasse no ar a impressão de que algo além do aceitável havia ocorrido, ele não podia imaginar que a cidade estava destruída. Não podia imaginar que sua namorada havia sido arrastada pela correnteza – sobrevivido em um último esforço. Não podia imaginar que sua sogra, com apenas 37 anos, estava morta. Lucas é volante titular do Friburguense. Ele ajudou a colocar a equipe serrana novamente na elite carioca. E, passado um ano, lida com o pânico natural por nova tragédia.

Faz um ano que Marcos Guindani Soares, o Bidu, acordou assustado com o temporal que atingiu Nova Friburgo durante a madrugada daquele 12 de janeiro de 2011. Por mais que pesasse no ar a impressão de que algo além do aceitável havia ocorrido, ele não podia imaginar que seu bairro estava devastado. Não podia imaginar que parentes haviam perdido a casa. Não podia imaginar que amigos de infância e conhecidos de décadas haviam perdido a vida. Bidu é volante titular do Friburguense. Ele ajudou a colocar a equipe serrana novamente na elite carioca. E, passado um ano, lida com o pânico natural por nova tragédia.

A semelhança é inevitável. A diferença está em um detalhe aqui, um acaso ali, um lance de sorte ou um lamento de azar acolá. De resto, as histórias da dupla de volantes do Friburguense são quase cópia uma da outra. O drama as deixou parecidas – entre si e entre aquelas vividas por todos os habitantes de uma cidade que caminha devagar para voltar a ter pedras sobre pedras. O porém é que Bidu e Lucas são protagonistas de um símbolo de renascimento. No pior ano da história de Nova Friburgo, o clube da cidade venceu. Tirou esperança do meio da lama. Voltou para a Primeira Divisão. Vai disputar o Campeonato Carioca. E acredita que poderá ir mais longe, munido das cicatrizes daquele 12 de janeiro de 2011.

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