“GAC – Amigos para sempre”, por Celso Frauches

Em pé: à direita, Geraldo, à esquerda, Ceslo. À mesa, no mesmo sentido: deputaodo Walter Vieitas, jornalista José Naegele, deputado Alberto Torres, Matilde Peçanha, Estefânia de Carvalho, Dr Liz Sá Vieira (Chefe do Gabinete Civil do governador Miguel Couto), poeta Arthur Nunes da Silva, jornalista e escritor Acácio Ferreira Dias, promotor Angrense Pires, prefeito Henrique Luiz Frauches e Casemiro Marques, orador na solenidade.

Em 1954, um grupo de amigos concluiu seus estudos de nível médio, na cidade de Cantagalo, no Colégio Euclides da Cunha, que funcionava no local onde hoje é o Banco do Brasil. Dois terminaram o curso técnico de contabilidade e dois o científico. Geraldo (Geraldo Arruda Figueredo) e Joãozinho (João Nicolau Guzzo) estavam técnicos de contabilidade; eu concluí o curso científico, juntamente com o Júlio (Júlio Marcos de Souza Carvalho).

Eu, Geraldo e Joãozinho fomos morar em Niterói, a então capital do Estado do Rio, e o Júlio no Rio de Janeiro, uma ex-cidade maravilhosa.

Geraldo ingressou no curso de Direito, Joãozinho e Júlio no de Medicina e eu, bem, eu “ia” fazer Direito e resolvi “dar um tempo”. O Latim, matéria eliminatória no vestibular para os cursos jurídicos, era a minha “desgraça”. Resolvi optar pelo trabalho, em vez dos estudos sistemáticos. Assumi um cargo na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro como auxiliar de almoxarife, uma espécie de burocrata do último escalão, com paletó e gravata.

No início, o expediente normal da Alerj era das 13 às 18h. Tinha muito tempo ocioso. Resolvi trabalhar como jornalista (não havia exigência de diploma, exceto para o redator responsável). Trabalhava como revisor, noticiarista ou redator em diversos órgãos da imprensa, periódicos sem circulação regular, além de atuar como noticiarista de um jornal falado – O Estado do Rio em Marcha –, na rádio Mundial, das 6h30 às 7h30, muito em voga à época, quando ainda não havia a televisão. Tinha uma boa audiência no interior fluminense, sob a segura direção do jornalista e radialista Wilson Kleber, um grande amigo.

Eu, Geraldo, Joãozinho e Júlio nos encontrávamos periodicamente em um bar que havia na estação das barcas Niterói-Rio, antes da ponte Rio-Niterói. Era um bate papo descontraído, regado por umas cervejinhas e muita saudade da nossa terra natal.

Geraldo, Celso e João em registro de 1956
Geraldo, Celso e João em registro de 1956

O Joãozinho dava um duro danado. Era escrevente de um cartório (como o Geraldo, também), fazia um monte de bicos e estudava pré-vestibular para Medicina. Tinha pouco tempo disponível. O Júlio morava do outro lado da baía, estudava pra caramba. Aqui um parêntese: o Geraldo e o Júlio sempre foram bons alunos; eu e o Joãozinho não éramos cdf’s. Mas o Joãozinho fez um bom pré-vestibular, passou para Medicina na UFF. Como o Júlio, formou-se médico; o Geraldo advogado.

Cantagalo, na década de 50, era um município pobre, essencialmente agropecuário, sem expressão econômica no cenário fluminense. Sua ligação com a capital era por via férrea. As rodovias que lhe davam acesso não eram asfaltadas. A prefeitura municipal tinha uma receita irrisória, que mal dava para pagar o funcionalismo e os serviços essenciais.

Esses temas eram objeto dos papos entre mim, Geraldo, Júlio, Joãozinho e mais dois amigos: Lizt Sá Vieira e Casemiro da Costa Marques, por exemplo. Todos desejávamos que a terra de Euclides da Cunha e Rogéria, uma honra para todos os cantagalenses, saísse daquela estagnação socioeconômica, mas os caminhos eram difíceis, pelo isolamento do município.

Corria 1956, quando, numa dessas conversas, surgiu a ideia de se comemorar o centenário da elevação da vila de Cantagalo à categoria de cidade, em 2 de outubro de 1957. Foram levantados, ainda, alguns problemas do município, que reclamavam soluções. Constatou-se que a prefeitura não tinha recursos e nem importância política para resolver ou encaminhar a solução dos problemas e promover o desenvolvimento do município. Surge, então, a iniciativa de se criar uma entidade de cantagalenses e amigos de Cantagalo, na Capital do Estado, que pudesse intermediar, estimular ou apoiar ações e movimentos no sentido de viabilizar o progresso da nossa terra natal. Não sei exatamente quem deu o “pontapé” inicial e batizou a entidade: o Geraldo, eu, o Júlio ou o Joãozinho. Isso não importa. Dessas conversas de cantagalenses e amigos nasceu o Grêmio dos Amigos de Cantagalo, com a sigla GAC, com sede em Niterói.

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

O Geraldo e eu, contudo, éramos jovens (20 anos de idade!) e precisávamos de apoio de pessoas mais experientes, de maior prestígio no meio político, econômico e social, para que as nossas ideias e os nossos anseios – e dos nossos amigos – pudessem ser concretizados.

O Casemiro, uma das peças mais importantes para que o GAC se transformasse em realidade, havia nos aproximado do dr. Lizt Sá Vieira, um cantagalense do PSD (Partido Social Democrático), personalidade expressiva no governo fluminense, uma figura de real valor, simples e dinâmico. Esse apoio foi fundamental para a criação do GAC e de sua efetiva atuação em prol do desenvolvimento de nossa Cantagalo. O prefeito de Cantagalo, Henrique Luiz Frauches, também estimulou a iniciativa, porque via nela um instrumento de apoio à sua gestão.

Esse fato foi noticiado pelo jornal Cantagalo Novo, em sua edição de 28 de abril de 1956, sob o título: BOA NOTÍCIA: SURGIRÁ EM NITERÓI O GRÊMIO DOS AMIGOS DE CANTAGALO, “tendo à frente os jovens acadêmicos Geraldo Arruda Figueiredo e Celso da Costa Frauches”.

Disseminamos a ideia, empolgamos cantagalenses e amigos de Cantagalo e, no dia 27 de maio de 1956, lá estávamos no salão nobre da Associação Comercial, no Palácio do Comércio, em Niterói, fundando o Grêmio dos Amigos de Cantagalo.

Essa história continua na próxima edição.

Cantinho da poeta Amélia Thomaz
Fim
Há na tristeza do poente
Uma mágoa singular.
Soluço do sol morrente…
Sorriso triste do luar…
(Extraído do livro Alaúde (Cantagalo, RJ: Ed. Autor, 1954, p. 12))

Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

Ver anterior

Menino de 8 anos de idade é uma das pessoas mais inteligentes do mundo e o mais novo brasileiro a entrar na Mensa Internacional

Ver próximo

Procon-RJ identifica variação de cerca de 35% no valor do arroz e do feijão entre estabelecimentos

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais Populares

error: Conteúdo protegido !!