“Gaia”, por Dr Júlio Carvalho

Quando estudamos História Geral, aprendemos que os gregos eram politeístas, isto é, adoravam vários deuses, havendo deus para várias coisas; eram tantos deuses nos altares e nichos que havia até o deus desconhecido, que São Paulo, dono de prodigiosa inteligência, em Atenas, se aproveitou para pregar e ensinar sobre Jesus Cristo como o deus desconhecido. Gaia era a Deusa Terra, planeta que tudo oferecia ao homem e a outros seres orgânicos para que permanecessem vivos.

O cientista inglês, James Lovelock
O cientista inglês, James Lovelock

Na década de 60, um cientista inglês, de nome James Lovelock, realizando estudos sobre a atmosfera da Terra, de Vênus e de Marte, a pedido da NASA, concluiu que enquanto a atmosfera daqueles dois planetas era dominada pelo bióxido de carbono, nocivo à vida, na Terra a atmosfera possuía oxigênio e nitrogênio, necessários à vida. Esse equilíbrio da atmosfera é mantido graças aos vegetais, que absorvendo o bióxido de carbono da atmosfera liberam o oxigênio.

Chegou, também, à conclusão que o planeta Terra não é apenas um conjunto de matérias minerais circulando em torno do Sol, mas que é um ser vivo, capaz de se defender quando excessivamente atacado, prejudicado, mal tratado, com risco de sua existência e das vidas nela existentes, portanto vive!

É apenas uma hipótese, que recebeu o nome de Gaia, em homenagem à deusa grega. Muitos contestam essa teoria, achando que é pura fantasia, coisa de loucos!

O planeta Terra (Gaia) é auto regulável, vivendo em equilíbrio, fornecendo ao homem e a todos os seres viventes que nele habitam alimentos de variadas espécies, água tão necessária a vida e oxigênio. Ao homem ainda foi dado o domínio sobre todos os animais da Terra. “Então Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre os répteis que se arrastam sobre a terra” (Gn 1,26).

O planeta Terra, como mãe generosa, além de doar à espécie humana tudo que possui, ainda recebe o seu corpo, no final de sua existência, para que a matéria orgânica possa completar o seu ciclo químico. O homem, todavia, levado pela ambição insaciável, quer mais, deseja ficar rico e em busca da riqueza agride a terra a todo momento, rompendo o equilíbrio ecológico tão necessário à vida, esquecendo-se de que ele também é componente de um sistema tão complexo necessário a sua própria existência.

Preocupado com as degradações do meio ambiente e as agressões sofridas pela Terra, principalmente por parte dos países mais industrializados, cujos modelos econômicos só visam lucro, o Papa Francisco lançou a encíclica Laudato Si, buscando conscientizar a humanidade sobre os riscos impostos ao equilíbrio ecológico do nosso planeta.

Na primeira parte do documento alerta sobre diversos aspectos que ocorrem em vários países:

Máscaras contra poluição na China
Não são máscaras contra Covid-19, mas sim contra a poluição, na China

I – Poluição e mudanças climáticas – Frequentemente os noticiários mostram a poluição do ar atmosférico, principalmente em países que usam o carvão como fonte de energia.

Na China, em algumas ocasiões, a população urbana necessita usar máscaras para se defender da poluição do ar atmosférico. O mesmo já ocorreu em Cubatão (SP), onde os hospitais necessitaram socorrer grande número de pacientes acometidos de processos respiratórios agudos determinados pela poluição atmosférica provocada pelas indústrias.

II – Água – A poluição da água de rios, lagos e mares é outro risco para vida humana e de outras espécies animais e vegetais.

São frequentes as notícias da poluição criminosa de rios da Amazônia por garimpeiros que usam mercúrio, substância altamente tóxica, em suas atividades ilegais, colocando em risco a vida de populações que se utilizam das águas desses rios, principalmente indígenas.

Em muitas cidades sem rede de esgotos sanitários, ou insuficientes, as fezes são lançadas nos rios e córregos que banham as cidades, facilitando a transmissão de muitas doenças infectocontagiosas.

Na minha infância e juventude, andávamos no córrego São Pedro disputando quem pegava mais peixe “barrigudinha”, que depois eram soltos. As águas eram limpas e córrego lavado duas vezes ao dia com abertura do açude no sítio do Sr. Oscar Monteiro. Além disso, todos os esgotos domésticos era lançados na rede sanitária. Com o crescimento da cidade o poder público perdeu o controle. Hoje, incontáveis residências lançam os dejetos diretamente nas águas do córrego São Pedro, que é um afluente morto do rio Negro. Não possui vida!

Mata Atlântica
Mata Atlântica

III – Perda da Biodiversidade – A riquíssima biodiversidade do Brasil pouco a pouco está sendo destruída, com o desaparecimento de espécies animais e vegetais.

A mata Atlântica foi quase que extinta. Hoje, o que resta, pertence as reservas ecológicas estaduais e municipais ou se encontra nas praças públicas dos municípios brasileiros.

A floresta Amazônica parece ter o mesmo destino, cada ano é mais agredida, espécies vegetais centenárias, que jamais voltarão a existir, são cortadas e a madeira exportada clandestinamente. E nenhuma medida punitiva é tomada!

Deveriam ser criados batalhões florestais nos três ramos de nossas forças armadas com a função exclusiva de zelar pela integridade da floresta Amazônica. Ela é o gigantesco pulmão terrestre, absorvendo bióxido de carbono e liberando oxigênio. Resumindo, ela gera vida!

IV – A poluição do ar atmosférico e a contaminação das águas tem como consequência a deterioração da qualidade da vida humana e a degradação social, com aumento da temperatura global, desgelo dos polos terrestres e outros resultados negativos para a vida das populações.

V – As práticas econômicas super ambiciosas visando exclusivamente o lucro e a riqueza de alguns grupos, além de gerar desequilíbrio ecológico, aumentará a desigualdade social na Terra.

Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.
Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.

Creio que a encíclica Laudato Si deveria ser lida não apenas por católicos mas por todo ser humano alfabetizado; ela é um alerta profético sobre o destino da humanidade, escrita sob inspiração divina.

Como será a vida das futuras gerações humanas e de todas as formas viventes? Ainda bem que já estou com 86,9 anos de vida e não sofrerei as consequência de tanta ambição e loucura!

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.

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