“Glorioso São Pedro”, por Júlio Carvalho

São Pedro

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A paróquia de Cantagalo jamais foi denominada Paróquia de São Pedro; desde o início, 1806, foi criada como Freguesia do Santíssimo Sacramento de Cantagalo, enquanto a localidade era conhecida como Vila de São Pedro de Cantagalo. Talvez, por isso, a devoção de muitos cantagalenses por São Pedro tenha sido grande desde o início.

Lembro-me com saudade das festas juninas em louvor a São Pedro que, na minha infância, eram realizadas num terreno da Dona Suíça, na rua Rodolfo Albino. Eram grandes a animação e a fartura, com o quentão estimulando os presentes. Comparecia com meus pais e meu irmão Maurício, que temia o ruído dos fogos, tapando os ouvidos e chorando nestes momentos.

Depois, as festas de São Pedro passaram para o sítio do Sr. Oscar Monteiro e sua esposa Dona Maria Marques, na estrada da Batalha, hoje rua Maria Zulmira Torres. Tudo igual, fogueira, fogos juninos, músicas e fartura; em um determinado ano, deixaram um pacote de bombas juninas na cozinha, próximo ao fogão. Com o calor, as bombas passaram a explodir, causando pânico e correria para todos os lados. Minha mãe foi parar dentro de um quarto, puxando um filho de cada lado do seu corpo. Passado o susto, a festa continuou tranquila até a madrugada.

O Sr. Américo Marques, primo do meu pai, depois de viver vários anos na cidade de São Paulo, retornou para Cantagalo; procurou reviver a Festa de São Pedro, junto com sua filha Léa e o genro Japéramo, além de várias senhoras da nossa comunidade. Foi um sucesso! A Festa dos Carecas atraia pessoas de todos os municípios vizinhos. Vinha, também, gente de longe, como o Sr. Justino, representante do Laboratório Bayer, residente em Campos, que, com sua cabeça completamente pelada, ganhava sempre o prêmio Rei dos Carecas. Era uma figura simpática que a todos sabia conquistar.

As diretorias se sucediam e a Festa dos Carecas cada ano era melhor. Certa vez, a parte esportiva ficou a cargo da Seleção de Cantagalo contra o C.R. Vasco da Gama, no Estádio Acúrcio Torres, com enorme público. O final do jogo foi 1 a 1. A seleção era formada por nove jogadores do Cantagalo E.C. e dois do Flamenguinho A.C. O Vasco da Gama trouxe um time misto com excelentes jogadores: um goleiro argentino, o zagueiro Conceição (contratado do Cruzeiro), Jansen e Vasconcellos (no ano seguinte foram titulares do Santos), Chico (ponta esquerda do Brasil em 1950), além de outros atletas de alto nível.

Nesse dia, quatro jogadores se destacaram em nossa seleção, Bibinho resolveu fechar o gol e José Vieira, maior zagueiro central da nossa região, cercou o ataque vascaíno. Terminado o jogo, os dois foram convidados a treinar no clube carioca, onde Vieira não ficou por motivos particulares. Os dois jogavam no Cantagalo EC.

Os outros dois pertenciam ao Flamenguinho AC. No início da partida, o ponta esquerda Chico, que voltava de uma contusão grave, escapou em direção à área da seleção quando levou um rapa firme do Alcides. Ele pediu então para sair, dizendo para o técnico: “não quero ser quebrado outra vez”. Foi atendido e substituído. Jogou 15 minutos. Maninho Leitão, ponta esquerda, no segundo tempo, escapou em alta velocidade pela lateral do campo e, com fortíssimo chute de esquerda, cruzado, venceu o goleiro argentino, empatando o jogo. Bons tempos em que era novidade ver um time carioca jogando no interior. Hoje, com a televisão, não é mais novidade.

Grandes e famosas corporações musicais vinham a Cantagalo; lembro-me da Banda de Música dos Fuzileiros Navais, da Polícia Militar RJ, e da Euterpe Friburguense, que desfilou pelas ruas principais, tendo, à frente, o cantagalense Sr. Manoelzinho Figueira, conduzindo, orgulhosamente, o pavilhão da organização musical, sendo muito aplaudido por seus conterrâneos à passagem do desfile.

Durante muitos anos, presidiu a comissão da Festa dos Carecas o Sr. Waldir P. dos Reis, verdadeiro baluarte na manutenção da tradicional festa, com lutas e total dedicação ao trabalho.

Neste ano, a Festa dos Carecas apresentou vastíssima programação, preenchendo todos os horários desde sexta-feira, dia 28, às 15 horas, até dia 30, com atividades para todas as idades e gostos, com diversos shows, apresentação de documentários históricos, peça teatral (A Promessa) de alto nível, com grupo de friburguenses, incluindo três cantagalenses, que, após a apresentação, fizeram referências a atuação médica de meu pai, quando elas eram crianças e residiam em nossa cidade. Fiquei emocionado e grato pela feliz lembrança.

Na tarde de domingo, durante a apresentação de Pedro Garcia, os casais dançavam, animadamente, na Praça Cônego Crescêncio Lanciotte, cercada por barracas com alimentos e cerveja artesanal, completamente lotada pelo povo, comemorando com alegria, ordem e segurança, mantida por dois veículos da PM-RJ.

Muito mais teria para escrever sobre a Festa dos Carecas, em louvor a São Pedro, primeiro Papa do catolicismo, escolhido por Jesus Cristo, que congrega, hoje, em todo mundo, 1.200.000.000 (um bilhão e duzentos milhões de adeptos), fruto dos ensinamentos do Grande Mestre: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 16-20).

Nós passaremos, mas a Festa dos Carecas será eterna, símbolo de Cantagalo, em memória a seus fundadores e em louvor a São Pedro!

 

Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo
Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo

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