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No último artigo de 2022, quero focalizar e homenagear a figura de um ilustre e autêntico cantagalense, amigo com quem convivi durante vários anos, mas que já partiu para a eternidade.
Era um cidadão educadíssimo, falava baixo e só o necessário, suas palavras eram sempre buscando a concórdia entre pessoas estremecidas, era um verdadeiro agente da paz. Seu nome era Dr. Cesar de Azevedo Goulart. Nascido em Cantagalo, no dia 19 de fevereiro de 1922, filho dos cantagalenses Sr. Leopoldo Ferreira Goulart e Sra. Hilda de Azevedo Goulart.
Ainda muito jovem, terminados os primeiros estudos em Cantagalo, seguiu para o Rio de Janeiro, passando a trabalhar no escritório do Dr. Ary Pinheiro de Andrade Figueira, considerado um dos principais especialistas em Direito Comercial, cujo escritório funcionava na Rua do Rosário nº 107, 3º andar, no centro da então capital federal. Todavia, com a morte súbita e precoce do pai, necessitou retornar a Cantagalo, assumindo o comando da família junto com sua mãe, passando a trabalhar como auxiliar do cartório do 2º Ofício de Cantagalo, sob o comando do Sr. Carlos Beliene Éboli, que assumira a titularidade em substituição ao Sr. Leopoldo Ferreira Goulart.
Durante mais de meio século, Dr. Cesar atuou no Fórum de Cantagalo, passando, a seguir, por Tabelião Substituto no Cartório do 2º Ofício, Escrivão do Registro Civil em Euclidelândia e Titular do Cartório do 1º Ofício da Comarca de Cantagalo, aposentando-se em 1983.
Sua atuação cartorária sempre se caracterizou pela correção profissional, competência e amabilidade com todos que necessitassem de seus trabalhos, sendo educadíssimo com todos que penetravam naquele recinto sob seu comando.
Durante muitos anos, foi o responsável pelo Cartório Eleitoral de Cantagalo, onde manteve a correção que caracterizou sua vida profissional.
No momento da apuração dos votos, após cada eleição municipal, no tempo das horríveis cédulas de papel, Dr. Cesar sabia manter a emoção dos eleitores das duas facções. Quando um candidato começava a vencer, Dr. Cesar trazia a urna de uma sessão onde o outro era o favorito; desse modo, quase que somente nas últimas urnas a situação ficava decidida.
Na Justiça Eleitoral, era ajudado pelo seu saudoso irmão Dr. José Expedito de Azevedo Goulart, dentista e funcionário do Fórum de Cantagalo. Lembro-me que o Dr. José Expedito era quem fazia o cálculo para verificar qual vereador seria eleito pelas sobras. Era outro momento de enorme expectativa no final das apurações!
Em 1965, quando retornei para Cantagalo, passei a ter maior contato com o Dr. Cesar, principalmente à noite, quando ele tinha o hábito de caminhar serenamente pelas ruas do centro da cidade conversando com os amigos: ouvia mais que falava, tendo sempre um sorriso discreto nos lábios.
Quando assumi a Provedoria do Hospital de Cantagalo, nosso contato aumentou, pois o Dr. Cesar era o Presidente do Conselho Deliberativo da instituição, não faltando a nenhuma reunião, estando sempre disposto a apoiar as iniciativas que visassem a melhoria e o progresso do Hospital de Cantagalo, era sempre um dos mais animados.
Certa vez, o INPS alterou o cronograma do pagamento aos hospitais, sem um aviso antecipado; ficamos sem dinheiro para pagar os funcionários. Procurei o Dr. Cesar expondo-lhe a situação. Tranquilamente me respondeu: “vamos ao banco, você tira o dinheiro em nome do hospital que eu avalizo”. Assim fizemos. No mês seguinte, o INPS normalizou a situação e o hospital pagou o empréstimo.
Em outra ocasião, eu estava em dúvida se apanhava ou não um empréstimo com o Fundo de Apoio Social (FAS), com a Caixa Econômica Federal. Sentia que era o único meio de poder construir um hospital novo em Cantagalo; tinha a planta feita, obra de 2.500 m². As condições do empréstimo eram boas, mas eu temia não ter como pagar.
Fui conversar com Dr. Cesar, expus toda situação, mostrei a planta da obra. Ao final do encontro, serenamente ele me disse: “Dr. Júlio, apanha logo esse empréstimo; se você não construir esse hospital, ninguém vai fazê-lo. Depois de pronto, ele não será tirado de Cantagalo. Não podemos é ficar com esse hospital antigo e sem conforto”.
Assim era o Dr. Cesar, estava sempre pronto a colaborar com toda iniciativa que gerasse progresso para Cantagalo.
Foi figura de destaque quando o Padre Crescêncio Lanciotti decidiu demolir o velhíssimo prédio do Asilo de Cantagalo, substituindo-o por um moderno e confortável prédio para os idosos.
Esteve presente também na construção da sede da Pestalozzi de Cantagalo, do Lar de Meimei e do Fraterno Auxílio Cristão, tamanha era sua preocupação com os mais necessitados da nossa população.
Não foi somente na filantropia que a figura do Dr. Cesar se destacou; também na área socioeconômica ele estava sempre presente. Foi um dos maiores acionistas da CIPAC, ocupando cargo na diretoria da fábrica de papel até a época de seu falecimento.
Colaborou, também, com a construção do grande prédio da Aciacan, iniciativa de outro notável cantagalense, Antônio Rocha e Silva Junior.
Quando Edmo Japour (Edinho) retornou para Cantagalo, assumindo a presidência do Cantagalo E.C., iniciando a construção da sede social na Rua Getúlio Vargas, tinha como seus companheiros Wilson Mendes e Cesar Goulart. A obra foi concluída, sendo o ponto social da maior importância em Cantagalo e região, com bailes e encontros sociais que ficaram registrados na história de Cantagalo.
O setor de educação também contou com a colaboração desse ilustre e querido cantagalense, tanto na criação do Colégio Cenecista de Cantagalo, iniciativa do Prefeito Henrique Luiz Frauches e do íntegro e honrado Juiz de Direito de nossa comarca Dr. Felisberto Monteiro Ribeiro Neto, num momento em que Cantagalo ficara sem o curso ginasial e de contabilidade.
Apesar das múltiplas atividades exercidas, Dr. Cesar ainda encontrava tempo para ir a sua propriedade rural em Euclidelândia, sempre muito bem cuidada, com uma agradável sede.
Em 1956, Dr. Cesar realizou o sonho que não conseguiu na sua juventude, foi diplomado advogado pela Faculdade de Direito de Niterói, aos 34 anos.
Dr. Cesar foi casado com a Profa. Manira Nacif, também cantagalense, resultando do matrimônio dois filhos, Cesar Augusto (já falecido) casado com a Sra. Ermelinda Gemar Campos, pais de Cesar Augusto; e Maria Inês, casada com Dr. Frederico Naegele de Oliveira, dentista, desse casamento nasceu a única filha Fernanda.
Dr. Cesar pela sua competência, amabilidade, cavalheirismo, responsabilidade profissional e contribuição com todas as iniciativas pró crescimento de Cantagalo era e é merecedor de ter o seu nome eternizado em algum local público ou em algum ponto do prédio do Fórum da Justiça de Cantagalo. É preciso que se faça justiça! Ainda que tardia!