Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Cantagalense, nascido em 1896, em Cordeiro, na época distrito de Cantagalo, cursava o segundo ano da faculdade de medicina, quando adoeceu, vindo para Cantagalo a fim de recuperar a saúde.
Aqui chegando, mesmo adoentado, foi trabalhar na fábrica do Ankilol , de propriedade do médico Dr. Américo Freire, que funcionava na Rua Direita, hoje Chapot Prevost, em prédio já demolido.
O medicamento Ankilol era embalado em pequenas latas amarelo e vermelhas, vendidas para todo o Brasil, destinado a curar o Ancilóstomos duodenalis, verme causador de anemia, principalmente na zona rural, onde a maior parte das pessoas andava sem calçados.
Quando frequentava a Faculdade de Ciências Médicas, no Rio de Janeiro, conversando com um colega e amigo, oriundo do estado do Ceará, ele me disse que, na infância, em sua terra natal, tomava o Ankilol para combater verminoses. Como ia longe o medicamento fabricado em Cantagalo!
Mas, voltemos ao assunto principal, o cidadão em referência, recuperou a saúde, licenciou-se em farmácia, abriu uma farmácia de manipulação, quando farmácia ainda era com Ph, casou-se com uma cantagalense, constituiu família e aqui permaneceu até o seu falecimento, já bastante idoso.
Na sua farmácia, existiam alguns produtos cujas fórmulas eram de sua autoria: um dos mais famosos era a pomada analgésica, com forte cheiro de cânfora, que aliviava rapidamente as dores e edemas provocados por contusões, estando sempre presente nas maletas dos massagistas dos clubes de futebol da região.
Residiu durante muitos anos em um casarão existente na esquina das ruas Rodolfo Albino e Nilo Peçanha, onde, anualmente, mandava plantar uma lavoura de milho no morro existente na parte detrás da sua chácara, mantendo, assim, sua criação de galinhas, da qual tinha muito orgulho.
Participou, durante vários anos, da política cantagalense. Inicialmente no PSD e, posteriormente, no Partido Republicano, sendo vereador, com participação ativa e inteligente na Câmara Municipal de Cantagalo.
Outro aspecto que não podemos esquecer, no nosso analisado de hoje, era o desejo que sempre demonstrou pela construção de imóveis. Na rua Nilo Peçanha, ao lado da sua residência, construiu algumas casas que mantinha alugadas, enquanto, na rua Barão de Cantagalo, edificou outra em sobrado, embaixo para comércio e em cima residencial.
Colaborou, sempre, com a imprensa cantagalense. Em minha juventude, gostava de ler seus artigos publicados do Cantagalo Novo, jornal do saudoso Antônio F. de Carvalho. Sempre se empenhava pela conservação das estradas vicinais do município, que atingiam cerca de 750 Km, por onde deveria circular a produção agrícola, naquela época importantíssima.
Lutava incessantemente pela abertura e asfaltamento da estrada de São Martinho, como meio de acelerar as viagens para Nova Friburgo, Niterói e Rio de Janeiro, sem ter que atravessar a zona urbana de Cordeiro, o que foi conseguido no governo do cantagalense Marechal Paulo Torres. Hoje, quando trafego por essa rodovia, vendo o seu movimento intenso, lembro-me do seu defensor durante muitos anos.
Em outro artigo, defendia veementemente o asfaltamento da estrada Cantagalo – Além Paraíba, argumentando que era a única região do Estado do Rio de Janeiro que não mantinha contato com a estrada Rio-Bahia por meio de rodovia asfaltada. Obra que só foi realizado no primeiro governo de Leonel Brizola.
Depois da São Martinho asfaltada, escreveu um artigo com o título “Um porto marítimo para Cantagalo”. Alguns disseram “ o homem está ficando louco, pois Cantagalo está muito longe do mar”. Todavia, ele defendia o asfaltamento das rodovias que ligam a RJ-116 ao litoral, passando por Trajano de Moraes e Conceição de Macabu, com a construção de um porto em Macaé, por onde o cimento das fábricas de Cantagalo poderia ser exportado.
Quando percebeu que as águas dos Cambucás estavam se tornando insuficientes para abastecer a cidade, escreveu outro artigo em que aconselhava o aproveitamento das águas do Rio Negro, que seriam bombeadas até o alto da Batalha, onde haveria uma estação de tratamento, correndo, depois, por ação da gravidade até Cantagalo. Nesse artigo escreveu: “se os parisienses usam água do Rio Sena, porque os cantagalenses não poderão usar as do Rio Negro?”. Hoje, usamos água do Rio Macuco.
Em 1931, criou junto com João Nicolao Filho, Diavolasse de Oliveira Reis e outros, a Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Cantagalo (Aciacan), que funcionou, inicialmente, em uma sala no sobrado que existia acima da loja Figueira e Irmãos, na rua Rodolfo Albino, onde está hoje o Superthal.
Já idoso, continuava na presidência da Aciacan, em companhia do Sr. Juvenal Ferreira Goulart e do Prof. Manoel Vieira Baptista, quando resolveu comprar um terreno com acentuado aclive, na rua Cesar Frejanes, para construção da sede da Aciacan. Era uma empresa difícil, trabalhosa e arriscada, todavia, mandou cortar todo o barranco com trabalhadores braçais, até o nível da rua, onde foi erguido o prédio sede da Aciacan.
Quando meu saudoso amigo Reginaldo Leite Gonçalves era presidente da Aciacan, resolvi procurá-lo na padaria São Manoel, como sócio da Aciacan, solicitando que desse o nome do seu fundador ao prédio sede da Aciacan, antes que ali aparecesse outro nome.
Pouco tempo depois, ele atendeu meu pedido, aparecendo em letras metálicas, acima da porta principal, os dizeres “Prédio Antônio Rocha e Silva Junior”. Justíssima homenagem ao homem que teve o dom de enxergar adiante do seu tempo.
O farmacêutico Seu Rocha, como sempre foi conhecido na cidade, foi um homem que com seu trabalho, guiado pela inteligência, se tornou um dos arquitetos da história de Cantagalo. Que Deus guarde sua alma por tudo de bom que fez por nossa terra natal.
Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.