“Homenagem ao ex-prefeito João de Moraes”, por Amanda de Moraes

Cheiros sempre trazem consigo a saudade. São tantos os momentos relembrados pelo aroma da comida caseira, das flores na casa, do frescor do mato, que acolhem a chegada em um retorno ao campo.

O cheiro de jornal é um dos que me lembram meu avô. Sim, daqueles à moda antiga, que resistem bravamente, com folhas e mais folhas impressas, ao mundo contemporâneo, muito utilizados por pessoas de amor ao conhecimento. Quando criança, eu, Amanda de Moraes Estefan, sempre me fascinava como esses grandes papéis cinza se organizavam, sem brochuras ou coisa do tipo, com tranquila intimidade em suas mãos. Nas férias na fazenda, nos domingos em família, lá estava ele, com seu noticiário, em sua costumeira poltrona, comentando sobre os assuntos do momento. Ah, se todos os jovens conhecessem o bom cheiro de um jornal misturado ao abraço de um café da manhã.

Eis que cá escrevo sobre meu avô, no seu jornal favorito, em uma bela oportunidade de trazer um pouco sobre a sua pessoa, conhecida da região, onde a simples menção ao nome já deixa muitos por aí com os olhos rasos d’água. Ah, Joãozinho, nosso eterno prefeito!

João de Moraes desafiou o tempo e provou que a eternidade existe, sim, ao permanecer vivo pela memória de todos nós e nos grandes feitos deixados para Trajano de Moraes.

Homem dedicado, apaixonado pelo serviço público, optou por encarar os grandes sacrifícios pessoais, exigidos aos devotos da boa política, para nunca faltar ao seu dever com a sociedade, nutrindo-se da democracia, assim como ela de um bom gestor se provê.

As suas ações sempre apontaram para a prática da governança não pelo poder, mas sim pelo seu fim último e mais nobre: o bem da coletividade.

Filho do município que ajudou a construir, as campanhas de Joãozinho eram arrebatadas pelo fervor de pessoas que o admiravam, típico aos homens que constroem pontes, e não muros. Como não suspirar ao lembrar daqueles entusiasmados comícios, prósperos em alegria e boas-novas?

Campanha sincera é campanha feita pelo povo. E assim foram marcadas suas vitórias nas quatro eleições para prefeito do município de Trajano de Moraes.

 

 

Representação da coragem, sempre lutou por grandes progressos aos mais carentes, buscando, incessantemente, recursos e melhorias para a cidade. A educação, uma de suas pautas prioritárias, fez-se presente nas escolas construídas e reformadas. Quem perguntasse às criancinhas: “para aonde vocês vão?”, teriam logo a resposta: “nós vamos para a escola, construída por João.”

Muito além de um político, João era humano, e assim tratava a todos ao redor, ao estender a mão, o carinho e a confiança. Raros são aqueles lembrados pelos abraços apertados e os beijos distribuídos às mais diversas mãos – sua marca registrada. Pois é, a saudade que contrai o peito de tantos é mais do que legítima.

Aos recém-chegados, perguntem aos mais velhos. Aos que vieram antes, contem aos jovens que passou pelo interior fluminense um certo homem, que fez humana história.

Joãozinho viveu para o povo, pelo povo, e com o povo, cumprindo fielmente seu dever de (enérgica) liderança mediante exemplos diários de retidão, humildade e justiça. Engajado em resolver os problemas básicos da população, fez a verdadeira política, que se preocupa com o bem social.

Passaram-se muitos anos, mas suas obras e afeto permaneceram. O momento da sua despedida foi exemplo de gratidão genuína. Em seu último dia, cercou-se por veneração e lágrimas do povo, amigos, autoridades públicas e familiares.

Se uma das grandes felicidades do homem é realizar um ofício que ama e dê sentido à sua vida, João de Moraes, sim, foi um homem feliz.

Como dizia a comovente música que a ele presentearam: “ele era homem do povo, era do trabalhador”.

Por vezes, eu, mulher, advogada, neta desse homem público, quando penso para onde caminhar, conduzir meus atos e minhas decisões… tomo a lembrança de João de Moraes, na sala de estar, folheando o Jornal da Região.

 

 

Amanda Estefan é advogada, sócia do escritório Mirza & Malan Advogados, que atua na advocacia criminal contenciosa em todo o território nacional, a partir das unidades do Rio de Janeiro e Brasília. Por amor à docência, terminará, neste mês, o mestrado em direito na UERJ. Como uma apaixonada por livros e pela arte de escrever, sempre teve vontade de contribuir, dessa forma, com a comunidade.