“Honório Peçanha e sua obra”, por Celso Frauches

Passei a residir em Brasília no final de 1988. Lá reencontrei uma obra de escultura de um cantagalense famoso internacionalmente: Honório Peçanha. É o autor, com Oscar Niemeyer (1907/2012), do monumento ao presidente Juscelino Kubitschek (1902/1976), colocado perto do Cruzeiro, na parte mais alta do Plano Piloto, no projeto urbanístico de Brasília, de autoria do arquiteto Lúcio Costa (1902/1998).

Monumento ao presidente Juscelino Kubitschek em Brasília, obra de Honório Peçanha
Monumento ao presidente Juscelino Kubitschek em Brasília, obra de Honório Peçanha

Lá, contam as “más línguas”, que o monumento, em forma de foice, com a estátua de Juscelino no topo, sob o arco da foice, teria, do outro lado, um martelo, símbolo do comunismo. Honório e Niemeyer eram comunistas de carteirinha. Como estávamos em 1985, ainda sob o regime militar, o monumento ficou apenas com a foice. A parte do martelo foi abandonada…

Honório Peçanha nasceu em Cantagalo, no dia 23 de fevereiro de 1907; faleceu em 16 de junho de 1992, em Niterói. Teve excelente formação acadêmica na área das artes plásticas. Estudou no Liceu de Artes e Ofício, na Escola Nacional de Belas Artes e, em Paris, na Académie de la Grande Caumière, desde 1957 conhecida como Académie Charpentier, um dos mais famosos centros de artes da Europa.

Honório Peçanha e suas obras
O GALO foi feito por Honório Peçanha, no Centenário de Elevação de Vila a Cidade, de Cantagalo, em 1957.

Em seu portfólio, estão as esculturas, para a Prefeitura de Niterói, do almirante Ary Parreiras (1946), Rui Barbosa (1949), bispo Dom José Pereira Alves (1949), Nilo Peçanha (1967) e de Euclides da Cunha. Em 1985, esculpiu a estátua do presidente Juscelino Kubitschek, acenando para a cidade fundada por ele, JK. Uma de suas esculturas mais proeminentes – Os Retirantes – foi premiada, em 1935, no Salão Nacional de Belas Artes. Ivani Meira Schleder (SCHLEDER, Ivani Meira. A visão de um escultor. A Tribuna, Niterói, 1º out. 1971), em sua análise crítica da obra de Honório Peçanha, destaca que o escultor tem bustos espalhados pela cidade inteira, como a estátua de Ari Parreiras, em frente ao antigo cinema Icaraí, assim como a Galeria de Fluminenses Ilustres, no saguão da Assembleia Legislativa, quando Niterói era a capital do antigo Estado do Rio de Janeiro. Schleder destaca que “em seu ateliê na Rua Senador Dantas, no Rio, ele recebe as pessoas com uma simplicidade rara para quem, como ele, tem obras espalhadas por todo o Brasil, do Acre ao Rio Grande do Sul, e no exterior. Sua escultura é figurativista, neoclássica e voltada para a questão social. Normalmente Honório Peçanha trabalha sob encomenda, por isso ainda não pode fazer uma exposição individual, embora muitas de suas peças possam ser encontradas no Salão Nacional de Belas Artes, no Museu da Cidade e no Museu Nacional”. E afirma que Peçanha “nunca participou das Bienais, pois nesse tipo de mostra predomina a chamada arte avançada que envolve a técnica, o que vai de encontro à sua concepção artística, pois, como ele mesmo diz: ‘No meu tempo de escola, esculpir era realmente esculpir e não juntar pedaços de ferro e outros materiais para compor a obra”.

O escultor cantagalense trabalhava tanto em bronze como em pedra ou gesso.

Em Cantagalo, a marca de Honório Peçanha está no monumento em comemoração ao primeiro centenário da elevação de vila a cidade de Cantagalo, na Praça Miguel de Carvalho, em frente aos Correios.

Celso Frauches
Celso Frauches

Conheci Honório Peçanha, na década de 60. Ele e a esposa não puderam ter filhos. Adotou uma criança, que lhe foi entregue pelo Juizado de Menores de Niterói. Foi a filha única do casal – Leza de Moraes Moreira, conhecida como Leda, casada com Odir Sant’Anna Moreira, filho do consagrado farmacêutico Euclides Sant’Anna. Eu era casado com Lêla, irmã de Leda.

Em nossas visitas ao casal Honório Peçanha, o papo era delicioso, além das sonoras músicas que tocava, inspirado nos teclados de seu piano. Era um homem culto, mas humilde, sem exalar qualquer resquício de soberba, por ser um escultor famoso internacionalmente. É mais uma personalidade cantagalense, de valor inestimável, que ficou esquecida num passado não muito distante.

O leitor pode visualizar boa parte das esculturas de Honório Peçanha, disponível em https://www.facebook.com/HonorioPecanha/. Ou na Enciclopédia Itaú Cultural: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10667/honorio-pecanha/.

Celso Frauches é professor, escritor, pesquisador, ex-secretário Municipal de Cantagalo e consultor Especialista em Legislação

Ver anterior

Por que a Coca-Cola é tão viciante e causa tanto impacto?

Ver próximo

GENTE DE EXPRESSÃO – Edição 1578

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais Populares

error: Conteúdo protegido !!