“Independência – Parte 1”, por Dr Júlio Carvalho

Conjuração Baiana

Conjuração Baiana

Foto da capa: Conjuração Baiana

 

Durante o curso ginasial e em outras oportunidades, a independência do Brasil é descrita cheia de romantismo, parecendo que tudo ocorreu na maior paz, sendo constituída apenas pela atitude do Príncipe Regente, retirando do chapéu as cores que simbolizavam Portugal e gritando Independência ou Morte.

Visto sob esse ângulo, foi uma maravilha. O Príncipe Regente retornou ao Rio de Janeiro, depois foi aclamado Imperador do Brasil e a vida continuou. Ótimo! A História do Brasil tem o mau hábito de apresentar nosso país como nação pacífica, onde tudo é resolvido sem violência. Vivemos num paraíso de serenidade!

Na realidade, antes, durante e depois, nossa Independência teve o sangue de muitos patriotas como argamassa e deveria ser apresentada sempre com atitudes de nacionalidade e sacrifício daqueles que tombaram para que o Brasil se tornasse uma nação soberana, dona de suas riquezas e de suas atitudes internacionais.

Já em 1720, em Minas Gerais, ocorre a Revolta de Filipe dos Santos, conhecida, também, como Revolta de Vila Rica (hoje, Ouro Preto). Não chegou a ser um movimento pela independência nacional, mas um protesto contra a lei do Quinto do Ouro, liderada por Filipe dos Santos, fazendeiro e tropeiro.

Com sua oratória conseguiu converter cerca de 2.000 pessoas a se rebelarem contra o quinto do ouro. Com a chegada de tropas militares, foram derrotados e Filipe dos Santos condenado a uma morte terrível, sendo esquartejado depois que seus membros foram amarrados a quatro cavalos bravios que, depois de chicoteados, partiram em direções opostas.

Em 1789, em Minas Gerais, a Inconfidência Mineira, bem estudada nos cursos de História do Brasil, que pretendia criar uma república independente de Portugal, mas que foi denunciada por três militares antes da data estabelecida; terminando com a prisão de seus organizadores e com a execução, três anos depois, no Rio de Janeiro, no dia 21 de abril de 1792, de Tiradentes, mártir da independência e Patrono Cívico do Brasil e da Câmara Municipal de Cantagalo.

Tiradentes, depois de enforcado em praça pública, teve o seu corpo esquartejado, sendo as diversas partes espetadas em postes na estrada do Rio de Janeiro a Minas Gerais, e a cabeça na praça principal de Vila Rica. Em uma noite, a cabeça desapareceu misteriosamente; dizem que foi retirada por um padre amigo de Tiradentes e devidamente sepultada.

Outros líderes do movimento da Inconfidência de Minas Gerais foram exilados e condenados à prisão, entre eles alguns militares e intelectuais que estudaram na Europa.

Em 1798, na Bahia, surge outro movimento rebelde contra o domínio português no Brasil. Ocorre em Salvador, ficando conhecida como Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates. Tinha como objetivos separar a Bahia de Portugal, abolir a escravatura e atender as reivindicações das camadas mais pobres. Seus líderes principais foram os alfaiates João de Deus e Manoel Faustino dos Santos Lira. Seus participantes eram pedreiros, sapateiros, soldados, homens negros, mulatos e brancos pobres, gente do povo.

Os ideais do movimento de baseavam na Revolução Francesa, cujas notícias eram divulgadas através de elementos da Maçonaria Baiana, cujos membros intelectuais traduziam livros dos revolucionários franceses, passando para o povo.

O sonho era criar na Bahia uma República Democrática, onde todos seriam iguais e tratados do mesmo modo. Dominada a rebelião pelas autoridades, foram presos 49 pessoas. Entre eles alfaiates, barbeiros, pedreiros e pequenos comerciantes.

Foram considerados líderes do movimento rebelde e condenados à morte Lucas Dantas, Manuel Faustino, Luís Gonzaga e João de Deus, todos alfaiates e da raça negra. Após a execução, seus corpos ficaram expostos, para que servissem de exemplo para a população. Prevaleceu o preconceito racial, só os negros foram condenados à morte! Absurdo! Outros foram condenados a vários anos de reclusão.

Os intelectuais da maçonaria receberam penas mais brandas, enquanto outros foram absolvidos. Como sempre ocorre, a corda arrebentou do lado mais fraco!

Em 1817, foi a vez de Pernambuco se declarar independente do restante da colônia do Brasil e proclamar a criação de uma república, no mês de março. O movimento foi mais intenso do que o ocorrido na Bahia, os revolucionários tomaram o poder e instalaram um governo provisório, que durou apenas dois meses; sendo Recife invadida por soldados enviados da Bahia, enquanto pelo mar uma esquadra bloqueava a cidade.

Alguns dos seus líderes foram fuzilados e outros condenados a vários anos de prisão.

 

CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA!

 

Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo
Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo

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