“Ismenia Melo: preservação da História de S. S. do Paraíba”, por Celso Frauches

Bazar Arco Íris, na vila de S.S. Paraíba – 1940. Foto: São Sebastião do Paraíba e sua história.

 

Tudo que na vida se faz,
Seja trabalho, o que for,
Tudo fica mais bem feito,
Quando se faz com amor
(Ismenia Melo)

 

Vivi, em São Sebastião do Paraíba, os melhores anos da minha infância e adolescência. Nascido na Fazenda da Serra, nela vivi por onze anos, com pequenos intervalos, quando meus pais abriram uma venda (armazém) na zona rural de Pirapitinga (MG) e depois no Porto do Tuta. Frequentávamos as festas no Porto Marinho, Porto do Tuta, Campo Alegre e na vila de S.S. do Paraíba, nesta, em especial, a festa de São Sebastião, em 20 de janeiro. Até o final da primeira década do século 20, os Frauches, descendentes de Anne Marie Lugon-Moulin e Jean Abram Frauche, imigrante suíço para a Colônia Nova Friburgo, na leva de 1819, participavam ativamente das comissões organizadoras dos festejos. Frauches migrou para a vila em 1821.

Meus anos do distrito foram entregues ao estudo, na Escola Estadual do Porto do Tuta, às águas do córrego que cortava a Fazenda Serra, os pomares, os festejos de Reis, juninos, à tirada de leite das vacas, no engenho de cana, para o fabrico de rapaduras, e muitas travessuras, suportadas como bons educadores pelos meus pais, Telva e Henrique.

 

Porto do Tuta, na década de 40, com a E.E. do Porto do Tuas, à esquerda
Porto do Tuta, na década de 40, com a E.E. do Porto do Tuas, à esquerda. Foto: São Sebastião do Paraíba e sua história.

 

Há tempos, li o livro São Sebastião do Paraíba e sua história, de autoria de Ismenia Melo (Cantagalo, RJ: Gráfica WH, 2018), uma conterrânea nascida no sítio São João da Pedra, nesse distrito. Filha de Onira Gonçalves de Mello e de Pianor José de Melo. Pianor e Onira foram bons amigos de meus pais. Ismenia, em 1984, casou-se com Lélio Gomes Curty. Desta união, nasceram Lívia e Marlon.

Ismênia fez seus estudos do antigo curso primário na mesma E. E. do Porto do Tuta onde fui educado pela tia Neli (Neli Rodrigues Moreira da Costa), esposa do meu tio Acyr Ferreira da Costa, irmão de minha mãe, Telva. Ismênia dedicou-se à costura, como minha mãe. À época, não teve condições de continuar os estudos. Em 1974, foi aprovada no exame supletivo do antigo ginasial, em Nova Friburgo.

A convite da professora Letícia Ventura de Souza Carvalho, então Diretora Municipal de Educação de Cantagalo, veio atuar na Secretaria de Fazenda da Prefeitura de Cantagalo. Nesse período, concluiu o curso de Formação de Professores do Colégio Estadual Maria Zulmira Torres.

 

 

Em 1982, voltou às origens, agora como professora concursada, para dirigir a E. E. do Porto do Tuta, onde fizera o curso primário. Mais tarde, foi atuar na E. E. Manoel Marcelino de Paula, na vila de S.S. do Paraíba. Ali exerceu a direção por dois períodos.

Em 1990, fez estudos adicionais em Ciências. Mais tarde, realizou estudos complementares, ofertados pelo Secretaria de Educação-RJ: Ginástica Escolar, Coordenador Pedagógico e Gestor da Educação Pública.

Voltou a residir em nossa cidade. Atuou na Biblioteca Acácio Ferreira Dias e, em seguida, no CIEP João Nicolau Fillho, no qual se aposentou.

E, finalmente, realizou o seu sonho, publicou o livro São Sebastião do Paraíba e sua história.

Trata-se do resultado de pesquisas realizadas com dedicação e competência de uma paraibana ilustre. O livro é bem ilustrado, sendo a capa de outra conterrânea ilustre, Delma Silva Ferreira.

 

 

O professor, pesquisador e escritor Gilberto Cunha, em prefácio ao livro de Ismenia, registra: “Ismênia abraçou a pesquisa com o propósito de divulgar a origem de Paraíba, a criação da freguesia em 1874 e nos prestigia com dados da elevação de São Sebastião do Paraíba de Distrito para Município em 1890, desligando-se de Cantagalo até o seu retorno em 1892, isso sem deixar de falar do saudoso Coronel Marcelino de Paula, político e Prefeito de Cantagalo nascido em Paraíba e Honório de Souza Pacheco, jornalista e chefe político que marcou época na vida da sociedade de Cantagalo e Paraíba“.

Ismênia, na apresentação do livro esclarece: “Quando me decidi a escrever este livro, não foi com a pretensão de ser uma historiadora, pois não tenho aprofundamento, nem formação catedrática nessa área. Foi apenas com a simples intenção de rememorar fatos, que formaram a história desta minha querida terra natal, que, com o passar dos anos, estão se perdendo na memória dos paraibanos. Também, para ficar registrado e servir de pesquisa para estudantes e demais pessoas interessadas em conhecer um pouco sobre a história da evolução, e dos antepassados que aqui viveram, desde os primórdios, neste Distrito do muncípio de Cantagalo. Distrito, este, que é o berço de tantas famílias ilustres ou anônimas, abastadas ou humildes, e a terra natal de grandes políticos, que a exemplo de outros – também influentes – elevaram Cantagalo“.

 

 

Celso Frauches
Celso Frauches

Ismenia Melo, em seu ótimo livro, traz-nos a localização do distrito, aspectos geográficos, o povoamento da região, os imigrantes europeus, as fazendas, a construção da Capela, a criação do Distrito e a política municipal, o crescimento da Vila, o surgimento dos pequenos povoados, o declínio das grandes fazendas, a introdução da pecuária leiteira e a Revolução de 30 e suas consequências no distrito.

Cantagalo muito deve à Ismenia Melo por sua competente atuação como professora, funcionária municipal, pesquisadora e escritora. O Instituo Mão de Luva, em breve, vai registrar o depoimento dessa ilustre paraibana para o Museu da Imagem e Som de Cantagalo (MISC), em nossos estúdios, situado na Rua César Freijanes, 36, térreo, ao lado do Fórum.

 

Cantinho da poeta Amélia Thomaz
Consolo
Quem canta seu mal espanta…
Mas eu sei de muita gente
Que, nesta vida, só canta
Para fingir de contente…

(Extraído do livro Alaúde (Cantagalo, RJ: Ed. Autor, 1954, p. 53))

 

Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

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