“Jevoux”, por Dr Júlio Carvalho

A Fábrica de Massas Alimentícias Santa Therezinha foi vendida um tempo depois, mudando de nome para Fábrica de Massas Alimentícias Nadia Ltda, gravado até hoje no prédio. Hoje, o local abriga a Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

 

Nessas viagens pelo tempo que o meu amigo Celso Frauches e eu realizamos pelo passado, focalizando pessoas que ajudaram a construir a história de Cantagalo, hoje, concentrarei minha atenção na pessoa de Gumercindo Jevoux.

A família Jevoux é de origem suíça; o primeiro casal, Estêvão José Jevoux e sua esposa Cecília Butty, deve ter aportado no Rio de Janeiro provavelmente em 1820, com os colonos suíços que vieram povoar a Fazenda do Morro Queimado (atual Nova Friburgo), município de Cantagalo.

Sentindo que as terras frias e áridas de Nova Friburgo eram improdutivas para a agricultura, como outros colonos suíços, migraram para regiões férteis de Cantagalo, distribuindo-se pelo vale do rio Paraíba, chegando a São Sebastião do Paraíba, Itaocara e Santo Antônio de Pádua; como teve a oportunidade de demonstrar o meu saudoso colega e amigo Dr. Humberto Schwartz, médico do Sanatório Naval de Nova Friburgo, numa pesquisa genealógica que realizou nos cartórios e nos arquivos das igrejas católicas da nossa região.

O primeiro casal Jevoux preferiu se fixar na região de Santa Rita do Rio Negro (atual Euclidelândia), onde gerou numerosa prole. Um deles, de nome José, foi pessoa de destaque em Santa Rita do Rio Negro como importante proprietário rural.

Parte da família Jevoux migrou para Macuco, distrito de Cantagalo até 1945, onde nasceu o cantagalense Gumercindo Jevoux, em 17 de maio de 1900, sendo filho de Augusto José Jevoux e de Maria Amélia, conhecida como Dona Sinhá.

Gumercindo Jevoux foi alfabetizado e fez o curso primário no Colégio de Macuco. Iniciou sua vida profissional como comerciante de gado bovino de corte e de leite. Visitava as fazendas da região na sua atividade comercial e os animais comprados eram levados através estradas de terra pelos cavaleiros da época, inclusive o próprio Jevoux. Era uma vida dura!

Na década de 1940, o Sr. Gumercindo Jevoux transferiu sua residência para Cantagalo, estabelecendo-se com sua família à rua Chapot Prevost, em um antigo sobrado, já demolido.

Homem dinâmico e com o olhar voltado para a indústria, montou, inicialmente, uma pequena fábrica de sabão na atual Av. Rodolfo Tardin; a seguir, uma fábrica de requeijão, o Requeijão Bom Sabor. As indústrias prosperaram. Todavia, o Sr. Jevoux deu voos maiores. Associando-se ao tabelião Sr. Carlos Beliene Éboli e ao empresário Sr. Rodolfo Tardin, construíram um grande prédio na rua Nicolau Guzzo, onde foi instalada a Fábrica de Massas Alimentícias Santa Therezinha, que funcionou com sucesso durante muitos anos.

A propósito dessa indústria de massas, que empregou muitas pessoas da cidade, ocorreu um fato pitoresco na minha juventude. Um cidadão forasteiro instalou em Cantagalo um serviço de alto-falantes, com músicas, notícias e anúncios comerciais. Quando lia a propaganda da Fábrica Santa Therezinha dizia: “Fábrica Santa Therezinha de Jevauxis, Ebóli e Tardim”. Conseguia errar a pronúncia dos nomes dos três proprietários. O que era motivo de risos para as pessoas que estavam sentadas nos bancos do nosso jardim público.

Levado pelo espírito progressista, o Sr. Jevoux comprou um terreno na atual rua Francisco Eugênio Vieira, onde construiu uma vila com confortáveis residências, ocupando com a família uma das casas.

O Sr. Jevoux não se limitava as atividades industriais; gostava, também, de esportes e, em Cantagalo, era um dos incentivadores do Flamenguinho A.C., ajudando financeiramente e ocupando cargo na diretoria. Quando o estádio Manoel Martinez Corbal foi inaugurado, o Conselho Deliberativo do clube denominou um dos vestiários de Gumercindo Jevoux, homenageando um dos benfeitores da instituição. Infelizmente, mais tarde, o nome foi mudado.

Depois da fábrica de massas alimentícias, o Sr. Jevoux partiu para a construção de uma fábrica de tecidos, uma sociedade anônima, associando-se ao Dr. Cesar de Azevedo Goulart, Sr. Leontino Felipe Richa e a inúmeros cantagalenses progressistas.

Foi construído um gigantesco prédio no bairro da Chácara Queimada, na praça Miguel Santos, cobrindo parte do córrego São Pedro. Infelizmente, quando o obra estava com a sede pronta, o Sr. Jevoux adoeceu, falecendo no dia 13 de agosto de 1958. Com seu falecimento, a aquisição das máquinas não se realizou, as ações foram vendidas para outras pessoas que no local instalaram a CIPAC, a fábrica de papel, que funcionou por muitos anos, sendo de importante valor social para o município.

O Sr. Gumercindo Jevoux era casado com a Sra. Nair Garchet Jevoux, desde 16 de fevereiro de 1927; resultando do casamento quatro filhos: Manoel Henrique, que pouco conheci, acredito que residiu breve tempo em Cantagalo; Maria Amélia, casou-se com Aramis Pinheiro de Carvalho, funcionário do Banco do Brasil, também residiu pouco tempo, em Cantagalo; José Augusto (Gutinho), trabalhava com seu pai nas indústrias, casou-se com a Profa. Regina Chevrand Baptista, faleceu precocemente, foi goleiro do Flamenguinho A.C. durante alguns anos, atuando sempre com arrojo e segurança; Antônio Carlos (Toneca), meu contemporâneo e amigo da época do Colégio Euclides da Cunha. Foi vítima da paralisia infantil, resultando atrofia de um membro inferior; mesmo assim gostava de jogar no gol, onde conseguia fazer extraordinárias defesas.

Certa vez, um time juvenil foi jogar em Macuco. Toneca era o goleiro; eu, com 54 kg, o lateral direito; João Guzzo, de óculos, o central; e Hélio Sally, faltando um dos dedos da mão, na lateral esquerda.

Havia em Macuco um senhor de cerca de uns 50 anos, chamava-se Jorgiano, ferrenho torcedor do Macuco e tremendo crítico. Em certo momento do jogo, ele gritou alto, com voz forte: “Parece mais um time da Casa de Caridade de Cantagalo; no gol um aleijado; na lateral direita um tuberculoso; de central, um cego; na lateral esquerda um sem dedo!”. A torcida riu e o jogo continuou. Tudo era festa!

O Antônio Carlos (Toneca), terminados os estudos em Cantagalo, foi para o Rio de Janeiro. Possuidor de uma boa voz, conseguiu ser locutor da Rádio Ministério da Cultura, estudou Direito, passando a residir em Volta Redonda, onde era locutor da rádio local, possuindo escritório de advocacia, sendo um conceituado jurista até o seu falecimento aos 85 anos. Total exemplo de superação!

Ainda hoje, vários membros da família Jevoux residem em nossa região, atuando em vários ramos da atividade humana com destaque.

Gumercindo Jevoux foi um pioneiro na implantação da indústria em Cantagalo, merecendo ser lembrado pelos poderes públicos com a colocação de seu nome em algum logradouro de Cantagalo.

 

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.
Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.

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Um Comentário

  • Parabéns pelo artigo. Fiquei muito feliz em conhecer a origem dos Jevoux no Brasil.
    Sou sobrinho e afilhado do saudoso “Tio Toneca”, mais conhecido em Volta Redonda por Dr. Jevoux, onde se destacou como NOTÁVEL Advogado, nas áreas Jurídicas Criminal, Administrativa Cível e Militar. Professor de oratória, grande conhecedor da língua portuguesa. Locutor da antiga Rádio Nacional. Recepcionou presidentes da República, politico e autoridades em Volta Redonda.
    Era esposo da minha querida e saudosa tia Marli (tia Lili), pai dos meus queridos e também notáveis primos Pedro Américo da Cunha Jevoux, Carla da Cunha Jevoux e Cristina da Cunha Jevoux.

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