“Joel Naegele: uma vida pelo cooperativismo”, por Celso Frauches

Pobres, ricos, pequenos e grandes convivem democraticamente dentro do sistema de cooperativa sem privilégios.
(Joel Naegele)

Amanheci, em 28 de maio de 2015, com uma triste notícia: “Morreu na manhã desta quinta-feira (28), aos 88 anos, o vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, Joel Naegele, na cidade de Itaperuna (RJ), onde estava hospitalizado”. E a notícia completava: “Naegele era produtor rural e um dos mais respeitados líderes do cooperativismo nacional, com valorosa atuação no setor leiteiro do Rio de Janeiro. No setor ambiental, defendia o plantio sustentável de florestas para a produção de madeira como forma de recuperar o agronegócio fluminense”.

Joel era um grande amigo, um agradável papo para qualquer assunto, mas com profundidade e competência.

Iniciei um convívio mais de perto com o Joel em 1962. Ele, liderança do PTB em Cantagalo, era um dos componentes daquele grupo que foi à casa dos meus pais, no Vital Brasil, em Niterói, para convocar Henrique Frauches a voltar a Cantagalo para ser candidato a Prefeito, nas eleições de outubro de 1962.

Estivemos juntos em diversos momentos da campanha de 1962. Henrique eleito, Joel participou ativamente da estrondosa recepção ao prefeito eleito, em Cantagalo, logo após o anúncio oficial do resultado das eleições.

Na gestão do prefeito Frauches, reativamos vários setores socioeconômicos do nosso município. Entre os quais, a Liga Cantagalense de Desporto, quando eu e o Joel a reorganizamos e ele foi eleito o presidente. Promovemos campeonatos distritais, municipais, regionais de futebol. A minha paixão. E dele.

Como político do PTB local, aproximou Frauches do então governador Badger da Silveira, do mesmo partido, eleito governador fluminense, em outubro de 1962, na onda do trauma causado pela trágica morte de Roberto Silveira, em Petrópolis, em 28 de fevereiro de 1961, no Palácio Rio Negro, residência oficial de verão do governador fluminense, com a queda do helicóptero que o levava de retorno ao Palácio de Governo, em Niterói. Roberto Silveira faleceu prematuramente, aos 38 anos de idade.

Terminado o mandato de Henrique Frauches, retornei à Alerj, em Niterói. O Joel permaneceu em Cantagalo, sua terra natal de coração.

Joel Naegele nasceu em Miracema, norte fluminense, mas cedo veio com sua família para Cantagalo. Aqui, completou seus estudos básicos no Colégio Euclides da Cunha (1949/1950). Foi estudante reconhecido como líder por seus colegas de turma. Criou e dirigiu a Associação Acadêmica de Cantagalo. Os estudos superiores deram-lhe o diploma de bacharel em Ciências Contábeis, sua atividade profissional ao longo da vida.

 

Joel Naegele toma posse na Academia Nacional de Agricultura
Joel Naegele toma posse na Academia Nacional de Agricultura

 

Cooperativista de alma e coração. Integrou o Serviço Nacional de Aprendizagem Cooperativista – SESCOOP e participou ativamente do cooperativismo em nosso Estado e no país. Atuou no Conselho Consultivo da Cooperativa Regional Agropecuária de Macuco. Participou do ramo agropecuário da Organização das Cooperativas do Estado do Rio de Janeiro junto à Organização das Cooperativas Brasileiras.

O associativismo foi outra característica do seu perfil profissional: diretor da Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Cantagalo; conselheiro da Associação Comercial do Rio de Janeiro; vice-presidente da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Rio de Janeiro.

Quando na vice-presidência da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Joel Naegele tinha o reconhecimento e a admiração de seus companheiros de Diretoria. Respeito que o levou a atuar no SNA por décadas.

Ocupou a Cadeira nº 10 da Academia Nacional de Agricultura.

Depois que voltei para Niterói e, mais tarde, em Brasília, Joel, quando eleito presidente da ACIACAN, me enviava todo mês um carnê de sócio da Associação, que paguei regularmente.

Quando vinha a Cantagalo para visitar meus parentes, ele sempre reservava um tempo para as nossas conversas sobre quase tudo.

Joel era um jornalista nato, filho de jornalista nato – José Naegele. Foi colunista deste JR. Com sucesso.

Morando em Brasília, recebi uma ligação de Joel. Estava viajando para a Capital, acompanhando o prefeito Guga de Paula, em seu primeiro mandato. Joel era membro do Secretariado da Prefeitura. Ele acompanhava o prefeito que ia receber um diploma de Prefeito Empreendedor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae. Estive presente à solenidade, onde tive a oportunidade de conversar com o Joel e o prefeito Guga de Paula.

 

Joel, Celso, Guga de Paula e o representante do Sebrae, na homenagem ao prefeito de Cantagalo com o Prefeito Empreendedor do ano - 2012
Joel, Celso, Guga de Paula e o representante do Sebrae, na homenagem ao prefeito de Cantagalo com o Prefeito Empreendedor do ano – 2012

 

Ele era um crítico das instituições de educação superior. Dizia: “As instituições de ensino não preparam os alunos para o trabalho e as empresas, por isso, não os empregam depois de formados”.

Naegele era um crítico do atraso socioeconômico que se abateu sobre Cantagalo e região com o término da era da agropecuária de alto nível, como o desenvolvimento da raça bovina Zebu. Assistiu ao incremento da exploração mineral – as cimenteiras − no distrito de Euclidelândia, um fato inevitável, tendo em vista as reservas minerais da região, com capacidade de exploração por mais de quinhentos anos, segundo os especialistas.

Na diretoria do SNA, Joel afirmava que “não há milagre que faça a economia deslanchar”. E alertava sistematicamente em seus artigos as lideranças políticas da região serrana fluminense e do Centro-Norte. E recomendava que a fruticultura e o plantio de árvores seriam as alternativas para que muitos municípios do norte e noroeste do Estado do Rio de Janeiro retomassem seu desenvolvimento econômico. Ele vinha criticando o estado de abandono dessas regiões: “Precisamos despertar do marasmo e da acomodação, conclamando os prefeitos para que exerçam a força dos cargos e se juntem a instituições, como a Federação de Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), na busca de soluções que nos tirem da situação de pobreza crônica que há tempos domina nosso triste cenário.

Para Joel, era importante que o incentivo oferecido fosse extensivo à melhoria do gado leiteiro, ao cultivo de hortaliças e a outras atividades compatíveis com a área rural. “É inadmissível a permanência da pobreza em uma vasta região que tem tudo para ser rica e vive miseravelmente, perdendo a sua juventude por falta de perspectivas de futuro”. Assino embaixo.

Esse era o Joel Naegele que eu conheci. E sinto saudades da sua presença no cenário político de Cantagalo e região. E para os papos intermináveis…

 

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.

Ver anterior

Vendas do comércio no Estado do Rio de Janeiro para o Dia das Mães podem chegar a R$ 1 bilhão

Ver próximo

Festival de dança O Corpo Negro começa no Sesc Nova Friburgo

Um Comentário

  • Naquela Mesa
    Nelson Gonçalves

    Naquela mesa, ele sentava sempre
    E me dizia sempre o que é viver melhor
    Naquela mesa, ele contava histórias
    Que hoje na memória eu guardo e sei de cor

    Naquela mesa, ele juntava a gente
    E contava contente o que fez de manhã
    E nos seus olhos era tanto brilho
    Que mais que seu filho, eu fiquei seu fã

    Eu não sabia que doía tanto
    Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
    Se eu soubesse quanto dói a vida
    Essa dor tão doída não doía assim

    Agora resta uma mesa na sala
    E hoje ninguém mais fala no seu bandolim
    Naquela mesa, tá faltando ele
    E a saudade dele tá doendo em mim
    Naquela mesa, tá faltando ele
    E a saudade dele tá doendo em mim

    Agora resta uma mesa na sala
    E hoje ninguém mais fala no seu bandolim
    Naquela mesa, tá faltando ele
    E a saudade dele tá doendo em mim
    Naquela mesa, tá faltando ele
    E a saudade dele tá doendo em mim

    Eu não sabia que doía tanto
    Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
    Se eu soubesse quanto dói a vida
    Essa dor tão doída não doía assim

    Agora resta uma mesa na sala
    E hoje ninguém mais fala no seu bandolim
    Naquela mesa, tá faltando ele
    E a saudade dele tá doendo em mim
    Naquela mesa, tá faltando ele
    E a saudade dele tá doendo em mim

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais Populares

error: Conteúdo protegido !!