Segundo a tradição histórica, o primeiro jornal surgiu em Roma, durante o período do imperador Júlio César, sendo bem diferente dos jornais de hoje. O mesmo era formado por grandes placas, onde eram escritas as notícias, sendo afixadas nos locais de maior frequência popular.
É evidente que esse tipo de jornal primitivo só noticiava os fatos favoráveis ao imperador Júlio César que, mesmo assim, apesar de toda propaganda, acabou assassinado.
Muito mais tarde, quando Gutemberg criou a prensa, podendo imprimir, no papel, textos e livros grandes, como a própria Bíblia, surgiram os jornais em várias cidades da Europa. Traziam notícias da cidade onde eram editados e, no máximo, de cidades vizinhas em virtude das dificuldades de comunicações.
Quando surgiu o telégrafo, com a velocidade das informações, os jornais se tornaram mais amplos, com notícias de várias partes do mundo, passando a ter maior números de leitores.
Na minha infância e juventude, Cantagalo só recebia, diariamente, um único jornal, cujo nome era O Jornal – Órgão líder dos Diários Associados (como vinha escrito abaixo do nome). Os diários associados eram propriedade do Sr. Assis Chateaubriand, o todo-poderoso durante muitos anos.
Em nossa terra, o representante de O Jornal era o Sr. Henrique Costa, que colhia as assinaturas anuais dos leitores. Diariamente o jornal era embarcado no Rio de Janeiro, por volta das 4 horas da madrugada, sendo transportado pelos trens da Leopoldina para o interior do estado do Rio de Janeiro.
O horário da chegada do trem em Cantagalo era às 14:40 h, o que dificilmente acontecia. Da estação, os pacotes de jornais eram levados para a agência dos Correios e Telégrafos, onde eram separados e entregues nas residências pelos carteiros, juntamente com toda correspondência do dia. Os assinantes acabavam lendo, à noite, as notícias que aconteciam na véspera.
Quando o trem atrasava muito, não dava tempo da distribuição no mesmo dia, ficando para o dia seguinte; os leitores tomavam conhecimento das notícias dois dias depois do ocorrido. Ninguém reclamava; se fosse uma notícia de falecimento, o morto já estaria na cova!
No meu período de estudante universitário, a cidade do Rio de Janeiro possuía vários jornais, sendo que muitos desapareceram posteriormente, como o Diário Carioca, Diária da Manhã, Diário da Tarde, A Noite, Diário de Notícias, Tribuna da Imprensa, Última Hora e, mais recentemente, o excelente Jornal do Brasil.
Quando surgiu a televisão, comentava-se que os jornais corriam o risco de desaparecimento em virtude dos noticiários televisivos, mas que não ocorreu: grande parte da população não abre mão de ler bons artigos e notícias mais detalhadas que aparecem nos jornais.
Creio que a existência de jornais representa um marco cultural para uma população. Cantagalo sempre teve seus jornais, desde o período da monarquia. Na república velha, dois jornais se destacaram: O Correio de Cantagalo e a Tribuna de Cantagalo; o primeiro era de cunho conservador, enquanto a Tribuna era dos políticos liberais, com destaque para Miguel de Carvalho e Dr. Júlio Santos. O Correio de Cantagalo desapareceu com a revolução comandada por Getúlio Vargas, em 1930, enquanto a Tribuna de Cantagalo sobreviveu por mais cinco anos.
Durante a nova república, nossa cidade continuou tendo seus jornais. Tenho em meu poder, guardado cuidadosamente, o nº 24, de 08 de julho de 1950, do jornal O Cantagalo, fundado por Honório Pacheco, tendo como diretor Juvenal Marques e redatores Dr. Cássio Passos Barreto e Dr. Ary Pinheiro de Andrade Figueira. Creio que esse foi de curta duração.
Existiram, também, o Cantagalo Novo e, depois, o Novo Cantagalo, acreditando que tenham circulado por cerca de duas décadas.
O Novo Cantagalo tinha como diretor o Sr. Antônio Ferreira de Carvalho, como redator-chefe o Sr. Sebastião A. B. de Carvalho e como redatora literária a Prof.ª Amélia Tomás.
Além desses semanários, outros existiram, de menor importância; criados e mantidos, de modo geral, por políticos, candidatos a cargos eletivos. Jornais de vida efêmera, que desapareceram na mesma velocidade em que foram criados.
Finalmente, um jovem cantagalense, no dia 3 de outubro de 1986, consegue transformar seu sonho em realidade, com o lançamento do primeiro número do Jornal da Região, que completou 37 anos, neste início de outubro, e que chegou ao nº. 1698.
O Jornal da Região, como o seu nome indica, é o verdadeiro elo, unindo os dez municípios da nossa região através as notícias mais importantes de cada unidade municipal. Consegue inserir notas políticas sem envolvimento com partidos e políticos, o que não deve ser fácil. É o semanário que conseguiu maior longevidade em Cantagalo. Fico imaginando quanta luta e quanto sacrifício durante 37 anos; quantos obstáculos foram superados, quantos desafios foram vencidos. Só mesmo com muita coragem e fibra.
O jovem sonhador de 1986, hoje está com os cabelos grisalhos, sem a mesma saúde daquela época, mantendo, todavia, o mesmo entusiasmo e esperança da juventude. Seu nome é Célio Figueiredo; que conta com o apoio permanente da diretora-executiva Sra. Isanete de Souza Figueiredo, aquela que foi escolhida para ser sua cara-metade.
Que Deus os conservem por muitos anos, para que possamos ler, semanalmente, as notícias de nossa região, que deverá permanecer lutando unida pelo progresso coletivo de nossos municípios, pois só assim teremos força junto aos órgãos administrativos estaduais, conseguindo o que é justo e necessário para o bem do povo do interior fluminense.