“José Carlos Rodrigues: o cantagalense patriarca da imprensa – parte 1”, por Celso Frauches

Na edição de 19 de dezembro de 2012, o nosso Jornal da Região publicou breve nota sobre um cantagalense de notável presença no jornalismo brasileiro: José Carlos Rodrigues.

À época, essa nota me chamou a atenção. Todavia, não estava em Cantagalo com a tarefa que assumi desde janeiro de 2021: garimpar memórias de cantagalenses que contribuíram ou contribuem para projetar Cantagalo no cenário nacional em diversas áreas do conhecimento. Pelo Instituto Mão de Luva, iniciei uma busca de dados para escrevinhar os artigos semanais deste JR. Aos poucos, vou trazendo aos leitores algumas informações dessas personalidades notáveis. Como é o caso desta edição.

José Carlos Rodrigues nasceu em Cantagalo, na então província do Rio de Janeiro, no dia 19 de julho de 1844, filho do fazendeiro Carlos José Alves Rodrigues e de Ana de Albuquerque Vidal Alves Rodrigues. Seu pai era um fazendeiro com extensas fazendas de café, que usava o trabalho escravo, comum naqueles tempos. Depois de herdar a fazenda de uma tia, Rodrigues libertou imediatamente os escravos, muito antes da abolição da escravatura.

Fez os estudos primários em Cantagalo.

A vocação para o jornalismo manifestou-se cedo. No Colégio Marinho, criou o jornal estudantil Seta de Arlequim, onde publicava, com outros colegas, segundo Almeida Nogueira, “quadrinhas sentimentais e prosa cáustica”. Um jornalista nato.

No Colégio Imperial Pedro II, no Rio de Janeiro, completou a sua educação básica. Ali, a sua vocação para o jornalismo foi aprofundada com a fundação, aos 13 anos de idade, do periódico estudantil, O Gentio. Segundo ele, o título devia-se “ao seu inveterado nativismo, à época”.

Em 1860, ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, onde foi secretário e depois presidente da Associação de Estudantes Ateneu Paulistano. Criou e redigiu, em 1862, no terceiro ano do curso, a Revista Jurídica, dirigida por seu colega mais velho, José da Silva Costa. Nessa tradicional Faculdade, não foi “mais um”. Foi destacado estudante, respeitado pelos catedráticos mais exigentes e famosos.

Ainda na Faculdade de Direito, colaborou com o Correio Mercantil, do Rio de Janeiro, diário vinculado ao Partido Liberal e dirigido por Francisco Otaviano.

Nesse período, publicou, pela editora Laemmert, do Rio de Janeiro, um estudo sobre direito público, Constituição do Império do Brasil, cujo texto, com anotações, revelou singular amadurecimento e capacidade de análise jurídica embora contasse apenas 19 anos de idade. O livro sobre a Constituição Imperial teve dez edições até 1889, assim como o seu Repertório Constitucional, apêndice àquele trabalho.

Concluiu o bacharelado em Direito em 1864. Nessa época, transferiu a residência para a cidade carioca, por influência de seu amigo José da Silva Costa. Com ele, passou a ser colaborador permanente da Revista Jurídica, então editada na capital do Império. Silva Costa acabou por assumir o Ministério da Fazenda, no último gabinete do marquês de Olinda (1865/1866). Por indicação de seu amigo, Rodrigues aceitou ser oficial de gabinete de Zacarias de Góis e Vasconcelos (1815/1877), presidente do Conselho de Ministros entre 1866 e 1868, mais conhecido por sua inteligência superior, honorabilidade e rigidez de princípios incomuns. Rodrigues ficou por um tempo, mas conflitos de interesse entre sua atividade profissional na área jurídica e a Administração Pública resultaram na sua demissão.

Rodrigues, orientado pelo amigo Silva Costa, viajou para os Estados Unidos, para sair das intrigas e futricas da política imperial. Lá ficou por algum tempo.

De volta ao Brasil, Rodrigues foi convidado e assumiu a presidência do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), sendo recepcionado na sessão de sua posse pelo marquês de Paranaguá, João Lustosa da Cunha Paranaguá (1821/1912), 2º Marquês de Paranaguá, um dos seus algozes na política, que se convenceu da honradez e dignidade do cantagalense Rodrigues.

Quando nos EUA, em vilegiatura pelas ruas de Nova Iorque, José Carlos Rodrigues deparou-se com uma tabuleta da American Tract-Society. A bordo do navio, na viagem para os EUA, ele traduzira do inglês para o português uma publicação feita para aquela sociedade. Entrou e falou com o diretor da entidade. Dois dias depois estava contratado como tradutor. Mais à frente, foi escolhido como jornalista correspondente do Diário Oficial, periódico publicado na cidade do Rio de Janeiro. Em seus artigos para esse jornal, Rodrigues destacou-se pela concisão do estilo e das análises da política e da economia norte-americanas. Esse fato chamou a atenção do redator-chefe do Jornal do Comércio, Luís de Castro. A partir de março de 1869, o jornalista começou a colaborar com esse jornal. Em seguida, assumiu a função de correspondente regular. Ao mesmo tempo, prosseguiu nas traduções para editoras e para o escritório de Caleb Cushing (1800/1879), político e diplomata democrata americano, membro da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos por Massachusetts e como 23º Procurador-Geral dos Estados Unidos sob a presidência de Franklin Pierce.

Em 24 de outubro de 1870, Rodrigues obteve recursos e lançou, em português, o periódico mensal ilustrado Novo Mundo, atraindo nomes de expressão da vida intelectual brasileira, como Sousândrade, André Rebouças, Varnhagen e Machado de Assis – que ali publicou a 24 de março de 1873 seu conhecido ensaio “Notícia da atual literatura brasileira – Instinto de nacionalidade”, onde apresentava suas idéias sobre a literatura nacional.

Durante sua permanência nos EUA, Rodrigues publicou mais de oito obras, e traduziu, por encomenda do governo de Pedro II, extenso memorial do governo norte-americano, com mais de seiscentas páginas, sobre uma questão de direito internacional. Entre 1878 e 1879 colaborou com o The Nation, um dos mais conceituados semanários dos EUA.

Enviado ao Panamá pelo New York World, lá escreveu uma série de longos artigos que alcançaram repercussão junto à opinião pública norte-americana e despertaram o interesse dos meios financeiros dos EUA, onde seu nome passou a ser conhecido. O presidente Theodore Roosevelt lhe escreveu carta destacando a importância dos seus artigos na solução encontrada para a construção do canal.

 

CONTINUE LENDO:

Parte 2 do artigo.

Parte 3 do artigo.

 

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.

 

Fontes:

Ver anterior

Elenf apresenta o Projeto Educação para a Cidadania

Ver próximo

Projeto de lei busca garantir merenda escolar a professores de escolas públicas

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais Populares

error: Conteúdo protegido !!