“José Carlos Rodrigues: o cantagalense patriarca da imprensa – parte 2”, por Celso Frauches

Leia a parte 1 deste artigo neste link.

 

Nova temporada produtiva no Rio de Janeiro.

De volta a Nova Iorque, nos anos 1880/1881, continuou a colaborar com o New York World, onde escreveu desde artigos de fundo até a crítica musical.

Em 1882, viajou para Londres na condição de consultor de companhias anglo-brasileiras de viação férrea, engenhos e bancos. Ao mesmo tempo, colaborou com os jornais ingleses Times e Financial News, para os quais escrevia sobre o Brasil e os Estados Unidos, e prosseguiu no seu trabalho de correspondente do Jornal do Comércio.

Em breve temporada no Brasil, nos anos 1887 e 1888, participou ativamente nas discussões sobre a abolição da escravatura e ajudou o movimento paulista empreendido pelo conselheiro Antônio Prado para acabar com o regime escravocrata.

Novos artigos de Rodrigues sobre o canal do Panamá foram reproduzidos em livro publicado em Londres, sob o título The Panama Canal, quando lembrou do acerto de suas previsões em 1880.

No dia 15 de novembro de 1889, encontrava-se no Rio de Janeiro, em visita aos parentes. Alegrou-se com o advento da República, tema recorrente em artigos que publicara no Jornal do Comércio, quando nos EUA.

Regressou a Londres em fins de fevereiro de 1890. Rui Barbosa, nomeado ministro da Fazenda do governo republicano provisório, presidido pelo marechal Deodoro, conhecedor das boas relações de Rodrigues nos meios londrinos, convidou-o para o cargo de delegado do Tesouro em Londres. Ele não aceitou, mas foi nomeado para a comissão relativa à encampação das ferrovias garantidas e para a função de agente especial do Tesouro brasileiro. Todavia, continuou jornalista. E dos melhores. Prosseguiu no seu trabalho de correspondente do Jornal do Comércio.

O Time de Londres tratou Rodrigues como “o principal jornalista do Brasil” e “um dos escritores mais independentes e destemidos”.

Tendo conhecimento da possível venda do jornal, ao qual dava a sua colaboração há décadas, constituiu uma sociedade por cotas, subscritas por seus amigos brasileiros. Adquiriu o controle da empresa. Sob sua gestão, o Jornal do Comércio abriu mais espaço aos temas econômicos, apoiou e incentivou a livre empresa e o desenvolvimento industrial, muitas vezes dificultado por regulamentos municipais criticados pelo jornal, restritivos à criação de novas fábricas.

O Jornal do Comércio, sob a direção de Rodrigues, aderiu à República, mas criticou duramente os governos dos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.

No período da Revolta da Armada, quando Floriano decretou estado de sítio e estabeleceu a censura à imprensa, José Carlos Rodrigues foi obrigado a permanecer oculto na casa de seu amigo, o construtor Antônio Januzzi, que mais tarde ergueu o moderno edifício-sede do Jornal do Comércio, na avenida Central, na esquina com a rua do Ouvidor.

Apesar da pressão do governo, convidou Rui Barbosa para correspondente do jornal em Londres. De lá, o notável estadista escreveu as Cartas de Inglaterra, quando defendeu o capitão Alfred Dreyfuss, pela primeira vez na imprensa mundial, no processo movido contra ele pela justiça militar francesa sob a acusação de trair a pátria.

Ao fim do governo Floriano, depois da eleição, mas antes da posse de Prudente de Morais, José Carlos Rodrigues convidou Rodrigues Alves para o cargo de diretor do Jornal do Comércio, mas o futuro presidente não aceitou, focado que estava na política.

Com o advento das presidências de Prudente de Morais, de Campos Sales e de Rodrigues Alves, Rodrigues apoiou as políticas governamentais. Em muitas tomadas de decisões, seu conselho ou orientação e o apoio do jornal foram solicitados para a solução de problemas da economia do país.

 

O presidente Rodrigues Alves e família, amigo de José Carlos Rodrigues. Da esquerda para a direita: Oscar Rodrigues Alves, Isabel Rodrigues Alves, Maria Rodrigues Alves. Conselheiro Francisco de Paula Rodrigues Alves, Zaïra Rodrigues Alves e capitão Eduardo Lejeune (ajudante de ordens). Arquivo da Família Rodrigues Alves. Autor desconhecido. 1913
O presidente Rodrigues Alves e família, amigo de José Carlos Rodrigues. Da esquerda para a direita: Oscar Rodrigues Alves, Isabel Rodrigues Alves, Maria Rodrigues Alves. Conselheiro Francisco de Paula Rodrigues Alves, Zaïra Rodrigues Alves e capitão Eduardo Lejeune (ajudante de ordens). Arquivo da Família Rodrigues Alves. Autor desconhecido. 1913

 

José Carlos Rodrigues esteve presente e atuante na imprensa e na política de bastidores, nos primeiros anos da nascente República. Correspondeu-se com Joaquim Nabuco e com o barão do Rio Branco, seu amigo de juventude, que chegou a consultá-lo, por carta enviada de Berlim, se deveria aceitar ou não o Ministério das Relações Exteriores, para o qual fora convidado por Rodrigues Alves. Durante muitos anos, ao terminar sua atividade diária no ministério, Rio Branco se dirigia para a redação do Jornal do Comércio, onde escrevia sobre temas internacionais, ao lado dos outros redatores.

Rodrigues procurou manter, na direção do Jornal do Comércio, o prestígio que o diário obtivera no Segundo Império, mas de forma independente e liberal, inspirado no modelo republicano e federalista da melhor imprensa dos Estados Unidos. Sempre esteve ao lado dos legalistas e constitucionalistas. Nas reportagens, procurou manter-se imparcial e descritivo mesmo nos momentos de tensão, como na Revolta da Vacina. Exigia dos seus subordinados relatos precisos sobre os fatos. Nos editoriais, notadamente nas “Várias”, título pelo qual ficou conhecido o setor de opinião do jornal, com o seu estilo didático, mostrava-se às vezes moralista em relação aos hábitos e costumes da época. A tônica dos artigos de fundo consistia em transmitir aos leitores a ideia da importância da formação de cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres.

5 de maio de 1915 marca o fim da era José Carlos Rodrigues no Jornal do Comércio. Ele reuniu seus empregados e anunciou que vendera o controle do periódico para o diretor financeiro da empresa, comendador Antônio Botelho. Na despedida, Rodrigues afirmou: “Desafio que provem que qualquer interesse subalterno jamais assentou nesta redação ou direção do Jornal, ou que, por qualquer motivo, a mais perfeita independência da folha foi peada em qualquer circunstância”.

 

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Parte 3 do artigo.

 

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.

 

Fontes:

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Primeira etapa da campanha de vacinação contra a Febre Aftosa no estado do Rio é prorrogada

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