“José Carlos Rodrigues: o cantagalense patriarca da imprensa – parte 3”, por Celso Frauches

Leia antes a parte 1 e parte 2 deste artigo.

 

Segundo Elmano Cardim, nao fim da era José Carlos Rodrigues no Jornal do Comércio, quando anunciou que vendera o controle do periódico para o diretor financeiro da empresa, comendador Antônio Botelho, O Tempo, de Recife, depois de noticiar a inesperada resolução de José Carlos Rodrigues, fez sobre ele o seguinte comentário: “A sua obra caracteriza-se por uma exuberante e tumultuosa sinceridade com que soube, profligando os erros e abusos sociais e políticos, colocar-se ao lado das grandes causas da República”. Assis Chateaubriand, que o admirava, deixou sobre ele um depoimento no qual destacava: “O senhor José Carlos Rodrigues introduziu enormes modificações no Jornal do Comércio, e possui a volúpia da informação. Certa vez contou-me os furos mais sensacionais da sua carreira. Era preciso ouvir a volúpia que punha na narrativa de suas façanhas para ver como, passados 15, 20, 25 anos delas, ele as degustava como um perfeito virtuose das notícias”.

Elmano Cardim, diante da perplexidade de colegas sobre o motivo da saída dele do jornalismo diário, afirmava que, com o início da guerra de 1914, uma carnificina sem paralelo na história universal, Rodrigues abandonou o jornalismo para concentrar-se no trabalho de difusão da sua interpretação da Bíblia, cujo conhecimento por todos considerava indispensável para a construção da paz. A presença de Deus no cenário das decisões políticas era, para ele, indispensável. Daí o estudo detalhado da Bíblia.

Passou a dedicar boa parte de seu tempo à atividade de bibliófilo. Adquiria livros raros encontrados em livrarias de Londres, Paris e Nova Iorque, não só sobre religião, mas também sobre o Brasil, assim aumentando enorme biblioteca, considerada uma das maiores da sua época, descrita parcialmente no catálogo Biblioteca brasiliense (1907), hoje sob a guarda da Biblioteca Nacional.

Em 1918, traduziu e publicou Mensagens, discursos e alocuções, de Woodrow Wilson, então presidente dos EUA, que admirava e considerava o único líder mundial capaz de conseguir uma paz duradoura. Enquanto prosseguia nos estudos bíblicos, iniciados na juventude que o levaram à Igreja Anabatista − Anabaptistas ou anabatistas: movimento cristão do anabatismo, conhecido como “ala radical” da Reforma Protestante −, realizou frequentes viagens à Inglaterra e aos EUA, onde aprofundou os estudos do Antigo e do Novo Testamento. Mais tarde, passou a residir em Londres com a família, embora até o fim de sua vida fizesse viagens regulares ao Brasil.

O Jornal do Comércio, ao qual José Carlos Rodrigues dedicou grande parte de sua vida, quando de sua morte, publicou uma síntese de sua biografia, na qual afirmava: “Quando, em 1915, se retirou dessa folha, não o fez só para descansar, para ter uma vida mais apropriada à sua idade, já então avançada, mas principalmente para dedicar toda sua atividade à conclusão de uma obra monumental de apologética e de exegese. O Estudo sobre o Velho Testamento, que imprimiu em Edinburgo, em dois volumes, publicado em 1921, o inclui entre os mais eminentes conhecedores de assuntos bíblicos do mundo inteiro. A crítica dos jornais especialistas da Europa e dos Estados Unidos consagrou o valor extraordinário desses dois suculentos volumes de comentários eruditos e exaustivos”.

 

Sepultura de José Carlos Rodrigues em Londres, no Highgate Cemetery
Sepultura de José Carlos Rodrigues em Londres, no Highgate Cemetery

 

José Carlos Rodrigues foi um diplomata, um verdadeiro estadista, este patriarca da imprensa brasileira que veio a falecer em Paris em 1923. Pelos grandes serviços que prestou ao Brasil é justo que o seu nome não permaneça deslembrado, mas seja perpetuado nalguma praça pública, nalguma rua ou escola da cidade”, afirmou Charles Anderson Gauld.

José Carlos Rodrigues faleceu em Paris, no dia 28 de junho de 1923, mas seu corpo foi trasladado para Londres, onde vivia sua família, e enterrado no Highgate Cemetery.

Apesar de ser esse extraordinário nome no jornalismo nacional e internacional, de ser admirado dentro e fora do país, nos Estados Unidos e na Europa, aqui, na cidade onde nasceu e fez seus primeiros estudos, ele é, não só deslembrado, mas praticamente desconhecido. Não há rua ou escola, em seu berço natal, que deixe gravada na memória dos cantagalenses sua marcante trajetória. Ele não nasceu apenas aqui. Ele aqui viveu, fez seus primeiros estudos e aqui iniciou sua trajetória incomparável no jornalismo mundial. O Jornal da Região se rende ao protagonismo de José Carlos Rodrigues e lhe dedica este espaço, uma homenagem justa, indispensável e oportuna ao jornalista que jamais desonrou sua profissão e que a ela dedicou a maior parte de sua fértil, fecunda existência.

 

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.

 

Fontes:

Ver anterior

“José Carlos Rodrigues: o cantagalense patriarca da imprensa – parte 2”, por Celso Frauches

Ver próximo

Sesc Nova Friburgo promove atividades gratuitas para estimular a população a se exercitar

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais Populares

error: Conteúdo protegido !!