“JR – Um Jornal Vitorioso”, por Celso Frauches

Pesquisa, divulgada em 2015, registra que gestores de jornais do interior fluminenses admitem que sua vulnerabilidade está relacionada a “não contar com uma cultura sólida” nos municípios em que atuam. O jornalismo entre o público e os anunciantes, “o gestor ser mais jornalista que empresário”, “dificuldade de expandir regionalmente por causa de empresas amigas que operam similarmente” e “pouca verba pública”, por exemplo, o que indica um modelo de negócios até sólido, mas que enfrenta desafios. Nos pontos fortes das empresas jornalísticas, encontramos entre os gestores de jornais reconhecimento de suas vantagens competitivas quando são “o único jornal diário da região”, elogios à “equipe e clima organizacional”, destaque para a operação em “sinergia” e à “representatividade da marca”, e a consideração de que pode ser bom para o negócio o fato de “o gestor ser mais jornalista que empresário”. A maior parte das mídias opera em um cenário de concorrência, mas a maioria diz ter estratégias de mercado, planos de médio e longo prazos e capacidade competitiva. (Jornais diários do interior fluminense: breve abordagem locacional e econômica. Jacqueline da Silva Deolin. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Uberlândia – MG – 19 a 21/06/2015). Os jornais diários apresentam esses problemas para a sua sobrevivência e perenidade. Imaginem, os nossos leitores, os jornalistas empresários que administram e editam jornais de periodicidade diferente, como os de circulação semanal, como JORNAL DA REGIÃO.

Na viagem no tempo a Cantagalo (1922), que iniciei na edição da semana finda, consegui visitar as redações dos jornais Correio de Cantagalo, com circulação que alcançava 50 anos, e registrei a circulação dos históricos O Conservador, O Voto Livre, Tribuna de Cantagalo (em circulação). Esses jornais eram considerados relevantes, em todo território do Estado do Rio de Janeiro, cuja capital era Nictheroy. No 3º distrito de Cordeiro circula, desde 1897, a Gazeta de Cordeiro, tendo como diretor-proprietário João B. Salgado e redator-chefe Francisco Lessa. Cantagalo, àquela época, era visto com um centro da intelectualidade fluminense, como demonstram os 50 anos de circulação ininterrupta do Correio de Cantagalo. Nesses tempos remotos – final do século 19 e primeiras décadas do século 20 – a sua imprensa era respeitada e festejada, até nos rincões da grande metrópole, a cidade do Rio de Janeiro.

Desde os tempos em que vivi mais intensamente a vida e a política cantagalenses, nos anos 50 e 60 do século 20, acompanho a trajetória e a vida de muitos periódicos do interior, como Novo Cantagalo e Cantagalo Novo.

Acompanhei, à distância, o esforço do jornalista Antônio Carvalho, à frente desses dois jornais cantagalenses e a sua luta para manter a independência editorial e a captação de publicidade e propaganda. Geralmente os políticos, desde priscas eras, querem a imprensa de seu lado, elogiando, apoiando incondicionalmente. O mais leve comentário crítico, mesmo os assinados por colunistas, que são responsáveis pelos conceitos emitidos, nem sempre são entendidos como exercício do constitucional direito de opinião. No passado e nestes tempos de Nova Era, do século 21.

Volto a Cantagalo, sessenta anos depois de minha última morada nesta querida terra natal, e encontro outro jornalista – Célio Figueiredo – na direção do JORNAL DA REGIÃO – JR “para os íntimos” -, com sede na cidade Cantagalo. Além de nosso município, circula nos municípios próximos de Cordeiro, Macuco, Carmo, Itaocara, São Sebastião do Alto, Trajano de Moraes, Duas Barras, Bom Jardim e Nova Friburgo. Por outro lado, mediante assinatura, chega aos mais longínquos lugares, onde esteja qualquer pessoa natural ou ligada a esses municípios. Quando residia em Brasília, as notícias de Cantagalo e região chegavam a mim pelo JR impresso e pelo JR online. Era como eu me atualizava com os acontecimentos em minha terra natal e vizinhanças.

Chegando a Cantagalo no final do ano passado, fui convidado, pelo amigo Célio Figueiredo, a escrever uma coluna semanal neste JORNAL DA REGIÃO. Lembrei-me da saga desses bravos jornalistas do interior, homenageando todos eles na personalidade desse dedicado e combativo baluarte da imprensa interiorana, de Cantagalo, em particular. A partir daí conheci pessoalmente o Célio, as instalações do jornal e os detalhes de sua manutenção, de circulação e das dificuldades enfrentadas e superadas com dedicação e denodado esforço para que o JR esteja na casa das pessoas semanalmente, às quintas-feiras.

Neste 3 de outubro, o JR completa 35 anos de circulação regular, sempre sob a direção do Célio. A sua diagramação vem passando por mudanças que acompanham a evolução da imprensa, como deverá acontecer a partir desta edição. Um novo Portal de Notícias estará “no ar” no mesmo dia 3.

Cabe-nos, então, cumprimentar com muita alegria Célio Figueiredo, em especial, e a todos que batalham com ele para que o jornalismo do interior prossiga fiel a sua missão, informando com responsabilidade, divulgando e apoiando os que, como eles, atuam pensando no bem das comunidades, na cultura, na educação.

Parabéns, Cantagalo, terra de um jornalismo sempre eficiente!

Parabéns aos 35 do JR! Parabéns, Célio Figueiredo, por sua perseverança e lealdade aos princípios básicos do jornalismo.

Cantinho da poeta Amélia Thomaz
Plenitude

Pensar em ti significa
Que a poesia está presente.
Minha alma fica mais rica
Dizendo o que por ti sente.
(Extraído do livro Alaúde. Cantagalo, RJ: s/Ed., 1954, p. 9)

Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.