“Lanciano”, por Dr Júlio Carvalho

Chegamos ao final de mais um ano, a próxima edição do Jornal da Região receberá o número 1.606, serão 51 edições durante o ano, o que representa um recorde segundo o editor do semanário, motivo de euforia, depois de todas as dificuldades enfrentadas em um ano tão conturbado pela Covid e outros fatores.

Durante a semana, pensei o que poderia preparar para uma edição tão especial. Pensei em vários assuntos, mas nenhum me agradou. Resolvi escrever, então, sobre uma excursão a Itália, em 2014, sob a orientação espiritual do dinâmico Pe. Alexandre José de Albuquerque, que foi vigário de nossa paróquia durante um ano, onde realizou um extraordinário trabalho religioso e social deixando saudade e uma legião de amigos.

O motivo principal era a canonização de dois Papas: João Paulo II, um dos mais longos pontificados, e João XXIII, o Papa que irradiava bondade e que arejou a Igreja Católica com o Concílio Vaticano II.

O grupo era formado por cerca de 30 pessoas, de Cantagalo: Eny Baptista, Celeste Naegele, as saudosas Maria Lúcia Farah Noronha e Ângela Cardoso Marques, Letícia e eu. Os demais eram de Rio das Ostras e Macaé, todas pessoas maravilhosas, preparadas para uma maratona de 12 dias numa Itália invadida por católicos do mundo todo. Os meios de comunicação calculavam que, no dia das canonizações, a Itália recebia 1.200.000 visitantes. Em Roma, tudo era difícil, mas o entusiasmo era enorme. Nunca vi tantos grupos passando com bandeiras de países do mundo inteiro, era o catolicismo. Predominavam os poloneses que acamparam na enorme praça da Basílica de São Pedro. Lembrei-me da ordem do Grande Mestre: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). O ensinamento estava sendo cumprido. Via-se pessoas de todas as etnias!

O grupo seguiu até o norte da Itália, visitando Assis, Cássia, Veneza, Florença, depois Roma. Rodovias maravilhosas, todos os dias começando com a missa celebrada pelo Pe. Alexandre, com ótimas homilias. A Itália um verdadeiro museu a céu aberto!

Tudo diferente e muito belo. Todavia, ocorreu um acontecimento que marcou acentuadamente minha existência, sendo o centro desse artigo de final de ano.

Às 7h00, desembarcamos no aeroporto de Fiumicino, em Roma, e embarcamos em um confortável ônibus de turismo rumo a Lanciano. Às 8h00, estávamos diante do altar da igreja de São Legociano, onde se encontra exposto o primeiro milagre Eucarístico ocorrido no mundo. Na parte superior de um ostensório um pedaço de carne arredondado, aberto na parte central. Na base do ostensório, ladeado pela imagem de dois anjos, um cálice de cristal com cinco fragmentos de sangue coagulado.

O primeiro milagre Eucarístico conhecido ocorreu entre 730 a 750 d.C., época em que viviam no mosteiro de São Legociano e Domiciano os monges de São Basílio. Um deles, que vivia angustiado pela dúvida na verdade da transubstanciação, transformação do pão e do vinho na carne e sangue de Jesus, quando celebrava a missa, no momento da elevação da hóstia, viu a mesma se transformar em carne em suas mãos e dela pingar gotas de sangue sobre o corporal colocado no altar.

A hóstia transformada em carne e o vinho em sangue permanecem lá até hoje sem sofrer putrefação. A carne apresenta uma coloração ligeiramente escura, tornando-se rósea quando iluminada pelo lado oposto, enquanto o sangue é de cor ocre. Não se tem uma explicação científica para esse fenômeno, considerado pela Igreja Católica o primeiro milagre Eucarístico.
No final de 1970, os Frades Menores Conventuais de São Francisco resolveram submeter essas substâncias a exames científicos sob os cuidados do Dr. Odoardo Linoli, Livre Docente de Anatomia e de Histologia Patológica, e do Prof. Ruggero Bertelli, anatomista e professor da Universidade de Siena.

Depois de múltiplos estudos, publicaram em 1971 os resultados no “Quaderni Sclavo di diagnostica clinica e di laboratório”:

• A carne é carne humana verdadeira;
• O sangue é sangue humano verdadeiro;
• A carne é do músculo cardíaco. Ao corte são vistos: o miocárdio, o endocárdio e nervo vago. O tecido é do ventrículo esquerdo;
• O sangue é do tipo AB. Mesmo grupo sanguíneo encontrado no exame do sangue existente no Sudário de Turim;
• O exame químico do sangue mostrou a existência de proteínas, cloro, fósforo, potássio, sódio e cálcio. A análise das proteínas mostrou tratar-se de sangue de uma pessoa viva;
• A conservação da carne e do sangue durante doze séculos, deixados sob a ação atmosférica e de elementos físicos e biológicos é um fenômeno extraordinário, que não encontra explicação científica.

Esse não é o único. Na história, existem cerca de 130 milagres Eucarísticos registrados pela Igreja Católica. Esse é considerado o primeiro.

Minha saudosa mãe me contava que meu nascimento ocorrera às 8h00 do dia 22 de abril de 1935, em um período da Páscoa. Pois bem, no dia 22 de abril de 2014, às 8h00, 79 anos depois, meus olhos viam o Milagre Eucarístico de Lanciano. Foi meu melhor presente de aniversário!

O Milagre de Lanciano confirma o que um dia foi dito em Jerusalém, na Palestina, em uma quinta feira: “enquanto estavam comendo, Jesus tomou o pão e pronunciou a benção, partiu-o, deu-o aos discípulos e disse: ‘Tomai e comei, isto é o meu corpo’. Em seguida, pegou um cálice, deu graças e passou-o a eles, dizendo: ‘Bebei dele todos. Pois este é o meu sangue da nova aliança, que será derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados” (Mt 26, 26-28).

A todos os leitores, crentes e descrentes, um feliz 2022, repleto de muita paz, saúde, ordem e progresso sob a proteção do Deus criador, que veio para salvação de todo ser humano.

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.