“Laper & Festival Literário”, por Celso Frauches

Sessão solene de promulgação da Constituição de 1891, com a presença do senador João Batista Laper.

Na edição do Jornal da Região da semana de 9 a 15/9/2022, publiquei um artigo sobre João Batista Laper, com algumas incorreções. O amigo Henrique Bon, médico, pesquisador e escritor, fez algumas correções, com informações sobre a família Laper no Brasil.

Com base em suas pesquisas sobre os imigrantes suíços que ocuparam, inicialmente, a Colônia Nova Friburgo, em área do município de São Pedro de Cantagalo, criado em 9 de março de 1814, João Batista Laper é filho do imigrante suíço Jean-Baptiste Lapaire (cujo sobrenome, em Cantagalo, assumiria a forma “Laper”), que chegara ao Brasil acompanhado apenas pelo pai Ambroise Lapaire. Era natural da vila de Fahy, Jura, Suíça, e chegou ao Brasil a bordo do navio Deux Catherine. Perdera ele, no trajeto Atlântico, a mãe e dois irmãos (Marie, quatro anos e Joseph, um ano e meio). Apesar das circunstâncias adversas e de uma pobreza inicial, Jean-Baptiste Lapaire amealharia grande fortuna, através da produção de café. Casado com a brasileira Francisca Cândida de Gouveia, teria com ela o filho João Batista Laper. Acometido o imigrante de grave enfermidade, seria ele considerado incapaz, tendo a esposa como curadora. Ela, uma vez viúva, viria a se casar com Augusto de Souza Brandão, futuro barão de Cantagalo.

 

Henrique Bon, médico, escritor e pesquisador cantagalense, autor do notável livro Imigrantes - A saga do primeiro movimento migratório organizado rumo ao Brasil às portas da independência (Nova Friburgo, RJ: Imagem Virtual, 2ª edição revista e ampliada, 2004).
Henrique Bon, médico, escritor e pesquisador cantagalense, autor do notável livro Imigrantes – A saga do primeiro movimento migratório organizado rumo ao Brasil às portas da independência (Nova Friburgo, RJ: Imagem Virtual, 2ª edição revista e ampliada, 2004).

 

João Batista Laper nasceu em Santa Rita do Rio Negro (Euclidelândia) e foi batizado em Cantagalo, em 27 de julho de 1848. Casou-se com Anna de Faria Salgado (filha de Antônio de Faria Salgado e Maria Honorata Freire), tendo com ela cinco filhos: Otávio (batizado em Cantagalo, em 1879), Carlos (nascido em 10 de abril de 1880), Luiz (gêmeo com o anterior), Maria (falecida aos dois anos) e Quintino (batizado em Cantagalo em 1883).

Por outro lado, verifiquei que João Batista Laper não poderia ser o primeiro intendente de Cantagalo durante o Império. Na realidade, ele foi o primeiro intendente ou prefeito de Cantagalo no início da velha República (1889-1890).

Opositor do Império, sempre atuou de forma a impedir quaisquer benesses ou glorificações da situação política derrotada. Nesse sentido, pronunciou-se contra a doação de bens à princesa Isabel e a construção de um monumento comemorativo da Guerra do Paraguai, alegando que aquela fora uma campanha do Império contra uma República. Também de forma contrária ao que ocorria durante o regime anterior, tomou posição a favor da independência entre o poder religioso e o poder civil, e foi favorável ao reconhecimento do casamento civil. Além desses pontos, defendeu reiteradas vezes o Estado do Rio de Janeiro, ora em questões tributárias, relativas a exportações de mercadorias, ora advogando a imigração, especialmente a chinesa, vista como solução para a recuperação da lavoura fluminense.

Findo seu mandato em 31 de dezembro de 1896, adoentado e desiludido com os rumos da política partidária, não se candidatou à reeleição. Afastou-se da vida pública. Deixou Cantagalo na sua memória afetiva e fixou residência no Rio de Janeiro. Ali, veio a falecer em 12 de dezembro de 1901. Era o fim de uma vida dedicada ao outro, na medicina e na política, como um autêntico republicano, bem à frente de seu tempo.

 

Página do livro Imigrantes, de Henrique Bon, que registra a chegada da família Lapaire ao Brasil para a Colônia Nova Friburgo, de onde migrou para Cantagalo, em 1821.
Página do livro Imigrantes, de Henrique Bon, que registra a chegada da família Lapaire ao Brasil para a Colônia Nova Friburgo, de onde migrou para Cantagalo, em 1821.

 

Festival Literário Amélia Tomás

Ao monitorar e avaliar as manifestações culturais em Cantagalo, a partir da criação do Instituto Mão de Luva, senti a falta de um evento que poderia festejar os autores cantagalenses, além do notável Euclides da Cunha. Assim, criamos o Festival Literário Amélia Tomás (FLAT), a ser realizado anualmente, em torno do Dia do Livro. O primeiro FLAT será realizado entre 21 e 23 de abril de 2023. O Dia do Livro será em 23 de abril; 21 será uma sexta-feira e feriado nacional. Assim, teremos três dias para um Festival de celebração dos escritores e poetas cantagalenses de todos os tempos. Será um evento público, com a participação da nossa comunidade e de pessoas interessadas no tema do congresso. Esse evento pode, ainda, contribuir para o turismo cultural em Cantagalo.

O 1º FLAT deverá atrair para uma das barracas autores de livros para jovens que cursam o ensino médio, em suas várias modalidades. Haverá uma feira de livros, com publicações comercializadas com preços promocionais, abaixo do mercado.

 

A professora, poeta e escritora Amélia Tomás, patrona do Festival Literário.
A professora, poeta e escritora Amélia Tomás, patrona do Festival Literário.

 

Esse anúncio tem por objetivo atrair os interessados no tema e despertar nos poderes públicos e nas empresas da livre iniciativa interesse e apoio institucional e, se possível, apoio logístico e financeiro, para ampliar o alcance, com a participação ativa deste Jornal da Região e da TV Interior e de outras mídias da região do antigo Sertões de Macacu ou de Cantagalo. Já estamos trabalhando na realização do 1º FLAT. Contamos com a participação e o apoio dos que entendem a cultura como um bem público.

Nossa cultura, nossa memória e nossa história estão sendo garimpadas. Há muitas riquezas escondidas! Vamos revelá-las!

Vontade e disposição não nos faltam. Faltam-nos mais apoio e interesse. Quem vem conosco?

 

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

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