Projeto AGente das Águas realiza 4º encontro científico em Cantagalo
O tempo é um inimigo cruel que desaparece com o nome de pessoas importantes para o desenvolvimento dos municípios espalhados pelo Brasil. Hoje, quero relembrar o nome de um cidadão que muito auxiliou o município de Cantagalo na década de 80.
Durante minha vida, conheci alguns deputados federais que se aproximaram de Cantagalo não apenas para conseguir votos necessários para a eleição parlamentar, mas que ajudaram nossa terra de modo importantíssimo. Um deles foi o mineiro Léo Simões.
Conheci o deputado Léo Simões no final da década de 70, em Botafogo, Rio de Janeiro, na sala do proprietário do Hospital Semic, meu querido e saudoso colega Dr. Flávio Heleno, que lutava para que a Caixa Econômica Federal liberasse o empréstimo do FAS, necessário à construção do novo Hospital de Cantagalo, obra com 2.000 m². De início, senti que o deputado Léo Simões era um homem não só de palavras, mas, também, de ações. Com vasta cobertura capilar na cabeça, falava com desenvoltura, dizendo-me que conseguiria liberar o empréstimo para o Hospital de Cantagalo.
A convite do Dr. Flávio Heleno, fomos almoçar no Colégio Brasileiro de Cirurgiões, cerca de 150 metros do Semic. Vendo que o deputado Léo Simões era um cidadão muito ativo, que a todo momento dizia estar com pressa, procurei colocar uma boa quantidade de alimentos em meu prato, mastigando e conversando devagar, seria um método de prendê-lo à mesa por mais algum tempo.
Perguntou-me como era Cantagalo e o que necessitava o município. Disse-lhe que precisava de uma agência da Previdência Social e de habitações. Perguntou-me se eu conhecia o prefeito do município, pois ele tinha possibilidade de conseguir tudo isso para o município, mas que teria que ser através do prefeito. Sorri discretamente e lhe respondi que conhecia o prefeito mais ou menos, pois ele era meu cunhado.
Retornando a Cantagalo, procurei o prefeito Wilder de Paula e agendamos um encontrando com o deputado Léo Simões, na casa de Wilder. Além da agência da Previdência Social e de moradias, o prefeito acrescentou uma agência da Caixa Econômica Federal. O Deputado Léo Simões, tranquilamente, afirmou que colocaria tudo isso em Cantagalo, mas que estava organizando o PDS no estado do Rio de Janeiro e necessitava da participação do prefeito no partido.
Compareci com o deputado Léo Simões duas vezes à CEF, no Rio de Janeiro; na segunda vez, participamos de uma reunião com o diretor-geral da CEF para o Estado do Rio de Janeiro e diversos assessores do diretor, que justificavam a demora em atender à solicitação do Hospital de Cantagalo. A certa altura, sempre com pressa, alegando que teria que embarcar para Brasília, às 14 horas, o deputado deu um forte tapa de mão aberta na mesa e disse: “É a última vez que venho a CEF com o Dr. Júlio; o hospital não é dele, é da cidade; está muito velho necessitando ser renovado. Se o empréstimo não sair, cabeças vão rolar”. O diretor ficou muito vermelho e procurou justificar a demora. O deputado levantou-se e me disse, vamos embora.
A partir daquele momento, tudo se modificou, o processo entrou em ritmo acelerado, numa semana solicitaram documentos três vezes, sendo atendidos com urgência, pois não havia tempo a perder.
Infelizmente, na inauguração do novo Hospital de Cantagalo, o deputado Léo Simões estava fora do Brasil, sendo representado por seu filho Dr. Túlio Simões. Deixamos de ouvir um belo orador naquele dia.
O deputado não parou por aí, continuou agindo. Enquanto a obra do hospital ia caminhando, ele inaugurou a agência da CEF na rua Getúlio Vargas, onde está a Drogaria Cantagalo.
O mesmo acontecendo com a agência da Previdência Social, instalada na rua Chapot Prevost.
Ao mesmo tempo, através da CEF, eram construídas as casas populares no Bairro Novo Horizonte e o conjunto habitacional Vilagem Barão de Nova Friburgo, a solução para o problema habitacional de Cantagalo naquela época.
Infelizmente, este cidadão que prestou inestimáveis serviços ao município, nas eleições de 1980, não chegou a 2.000 votos em Cantagalo. Creio que seu trabalho e seu nome foram pouco divulgados.
Léo Simões era mineiro, nascido em Santos Dumont, em 30 de janeiro de 1929. Em 2011, veio para a cidade do Rio de Janeiro. Diplomado em Direito pelo Centro Universitário Augusto Motta, tornou-se funcionário do Ministério de Viação e Obras Públicas em 1943 e quando seu irmão, Waldir Simões, assumiu a presidência do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos (IAPM), em 1956, foi nomeado assessor técnico e secretário-geral do presidente daquela autarquia.
Em 1960, no antigo estado da Guanabara, candidatou-se a deputado estadual pelo PSP, ficando como suplente. Posteriormente, foi assessor sindical da Companhia Nacional de Navegação Costeira e oficial de gabinete do ministro de Viação e Obras Públicas, no governo de João Goulart.
Em 1970 e em 1974, Léo Simões foi eleito deputado federal pelo MDB. Em 1978, mais uma vez foi eleito para Câmara Federal; ingressando no PDS, em 1982, continuou deputado federal e, em 1985, no Colégio Eleitoral, votou em Tancredo Neves para Presidente da República.
Em 1987, foi secretário Estadual de Esporte e Lazer do estado do Rio de Janeiro e, posteriormente, assessor especial do Palácio Guanabara do governo de Moreira Franco.
Homem dinâmico e orador vibrante, Léo Simões, abandonando a vida pública, criou uma empresa de importação e exportação, vindo a falecer, na cidade do Rio de Janeiro, no dia 25 de maio de 2011, aos 82 anos.
A ele, Cantagalo muito deve!