Obras avançam em Cordeiro e Sistema Pare e Siga continua na RJ 116
Cordeiro – 1922
Conheci a professora e escritora Madalena Tavares recentemente, no início de 2021. A minha querida prima Leni Costa Siqueira foi quem proporcionou esse convívio fraterno com uma pessoa dedicada à educação e à história de Cordeiro, desde o reconhecimento como distrito do município de Cantagalo à sua conversão em município, à época, tendo como distrito o hoje município de Macuco. Convidei-a para o programa Diálogos, que o Instituto Mão de Luva realiza periodicamente em parceria com a TV Interior, do amigo Eduardo Campagnoli. Na oportunidade, ela me falou da saga para editar um livro sobre a história de Cordeiro, contada desde 1875, quando havia apenas a gare do trem que ali passou pela primeira vez. Cordeiro cresceu e se desenvolveu pelo trabalho dos pioneiros, à margem dessa ferrovia histórica, de incomparável importância para toda a região serrana.
Graças ao apoio de amigos, conseguiu editar e publicar o livro “Registros de Nascimento e Desenvolvimento de Cordeiro”, em novembro último. Estive com a professora Madalena há duas semanas. Depois de um bom papo de amigos, recebi de suas mãos o referido livro, que já li. Encontrei informações preciosas para aprofundarmos a pesquisa da história de Cantagalo, a terra mãe dos municípios da Região Serrana Fluminense. Ela me disse que boa parte do livro ficou para uma segunda edição ou um vol. 2, ante o volumoso e relevante acervo levantado, pesquisado e transformado em prosa. Os que se interessarem pelo assunto poderão comprar o livro na loja do seo Calil, na av. Raul Veiga, em Cordeiro. O livro vale muito mais do que o preço de capa.
Cordeiro surgiu a partir da Fazenda Nossa Senhora da Piedade, de propriedade de João dos Santos Cordeiro, considerado o primeiro colonizador do futuro município, pai de Manoel Rosendo Cordeiro. Este doou à empresa ferroviária terras suficientes para assentamento dos trilhos e construção da estação. A primeira carga transportada foram sacas de café, a riqueza do então “ouro negro” de Cantagalo, que rivalizava com os produtores do Vale do Paraíba. Em homenagem a esse empreendedor, a gare foi denominada Cordeiro, depois vila e, finalmente, cidade!
1891 marcou a elevação do povoado à categoria de Vila. Pela Decreto-lei nº 1.055, de 31 de dezembro de 1943, o interventor federal no Estado do Rio de Janeiro, Ernani do Amaral Peixoto, criou o município de Cordeiro, com os distritos de Cordeiro e Macuco, desmembrado do município de Cantagalo. O Presidente da República era o gaúcho Getúlio Vargas. O filho de Cantagalo tornou-se adulto e adentrou (como gostam os narradores de futebol) o ano de 1944, um ano novo para uma nova história. Assinaram o decreto-lei, além do governador, os secretários Demerval Moraes, Agenor Barcelos Feio (o coronel Feio), Ruy Buarque de Nazareno, Rubens de Campos Farula, Hélio de Macedo Soares e Walfredo Martins.
O 1º de janeiro de 1944 trouxe o povo às ruas de Cordeiro, para celebrarem festivamente um acontecimento aguardado por décadas. Essa vitória consagrou João Belliene Salgado, cel. Antônio Pinto e Bandeira Waughasn. Mas a maior consagração seria para o almirante Amaral Peixoto, como era conhecido o então governador fluminense.
O primeiro prefeito (interventor) de Cordeiro foi Mário Vianna Netto (1º/01/1944 – 11/03/1944), em seguida, Lindolpho Filho (12/03/1944 – 04/08/1945). João Belliene Salgado ficou à frente da Prefeitura por duas oportunidades: em 1945 e 1947. A Câmara municipal foi instalada somente em 1947.
João Belliene Salgado aparece como o principal líder à frente do desenvolvimento político, social e econômico de Cordeiro, desde antes da campanha para a transformação em município e, em especial, após esse reconhecimento. Ele chegou a Cordeiro em 1897, exatamente no ano da criação da Gazeta de Cordeiro por Bernardino Senna Campos, com a participação do colaborador Francisco Inocêncio Lessa. Imediatamente, João Salgado passou a ser um dos redatores-colaboradores desse tradicional periódico cordeirense. O jornal Gazeta de Cordeiro, de 1897 a 1934, foi a principal fonte de informações para o livro de Madalena Tavares.
Madalena Tavares é cordeirense, com formação universitária em Letras, professora, pesquisadora e escritora. O seu início nas letras foi escrevendo artigos para jornais da região. As crônicas, um pouco à frente, entraram em sua “prosa poética”, como ela as classifica. Os seus leitores gostaram de suas crônicas e a incentivaram a continuar na trilha da escrita e a publicar sua produção. O gênero de sua produção é variado. Aventurou-se pelo conto Debaixo da velha mangueira, incluído dentre os selecionados no II Prêmio Litteris de Cultura, que gerou uma coletânea publicada em 2006. Retratos de um Tempo, publicado em 2008, contém crônicas reminiscentes dos anos dourados em Cordeiro, mas que são comuns no tempo e em outros vários espaços. Luz do Sol, de 2012, tem uma narrativa mais voltada para o universo feminino e suas súbitas descobertas e limites. O seu livro recém-publicado conta em traços a história de Cordeiro, desde a inauguração da gare da Estrada de Ferro de Cantagalo até 1936. Ela diz que lamenta ter-se aberto à publicação de seus textos meio tarde, pois eles ficaram em passos de espera, em rascunhos. Contudo, afirma ter feito um acordo com o tempo e, assim, novas composições poderão vir à tona, enriquecendo sua jornada literária.
Nunca é tarde para fazermos coisas boas, como a publicação de livros, sobretudo este que traz à luz a história de nosso querido município vizinho e irmão. Parabéns, Madalena, Cordeiro merece!