“Mão de Luva e as origens de Cantagalo – 13”, por Celso Frauches

Caminhos do Mão de Luva

Leia a parte anterior deste artigo (parte 12) neste link.

 

Mão de Luva, governadores & independência

Dois governadores tiveram influência decisiva na vida do garimpeiro Manuel Henriques: Luís de Vasconcellos e Souza, vice-rei do Brasil e governador da capitania do Rio de Janeiro entre 1778 e 1790, e Luís da Cunha Meneses, governador da Capitania de Minas Gerais entre 1783 e 1788.

Luís de Vasconcellos e Souza, conde de Figueiró, nasceu em Lisboa, Portugal, em 1º de novembro de 1742. Diplomado em Cânones pela Universidade de Coimbra, exerceu os cargos de juiz e desembargador do Tribunal da Relação do Porto, da Casa da Suplicação e da Mesa do Desembargo do Paço. Atuou como destacado conselheiro de Estado e no Senado da Câmara de Lisboa. Foi o 12º Vice-rei do Brasil e governou a capitania do Rio de Janeiro entre 1779 e 1790. Reprimiu severamente a Inconfidência Mineira, tendo ordenado a instauração do processo de devassa para apurar e julgar os inconfidentes, em 1789. O mesmo denodo demonstrou ao exigir do governador das Minas Gerais a prisão de Manuel Henriques e de seus parceiros no garimpo clandestino dos “sertões de Macacu”.

Ao receber os presos, promoveu o processo, julgamento e condenação de Manuel Henriques, que foi deportado. Para onde? Não há documento oficial a respeito.

Em 1790 retornou a Portugal. Faleceu em Lisboa em 1809.

Os governadores da província de Minas Gerais, entre 1760 e 1784, foram coniventes com as atividades clandestinas de Manuel Henriques e seus parceiros, no “Certão occupado por índios bravos”. Destaca-se, nessa empreitada, o governador das Minas Gerais, Luís da Cunha Menezes, a partir de 1783.

 

Luís da Cunha Pacheco e Meneses, Conde de Lumiares (Lisboa, 1743 / Setúbal, 1819), administrador colonial português, governador das capitanias de Goiás e Minas Gerais. Parceiro de Mão de Luva, mas que foi obrigado a mandar prendê-lo em 1786.
Luís da Cunha Pacheco e Meneses, Conde de Lumiares, governador da capitania de Minas Gerais

 

Luís da Cunha Pacheco e Meneses, Conde de Lumiares, nasceu em Lisboa, em 1743. Faleceu em Setubal, em 1819.

Meneses era proveniente de uma importante família portuguesa. Filho de José Félix da Cunha Pacheco e Meneses e D. Constança Xavier de Meneses, e avós, D. Luís de Meneses (Marquês de Louriçal e Conde de Ericeira) e D. Ana Xavier de Rohan. Iniciou sua atividade militar aos 17 anos, no Regimento de Setúbal, em 1759. Em meados de janeiro de 1777 é nomeado governador da capitania de Goiás, onde governou entre 1778 e 1783. A partir de 1783, assume o governo da capitania de Minas Gerais. Seu governo é classificado como arbitrário pelos historiadores.

Nas narrativas de suas façanhas, Manuel Henriques, munido de sua mandinga, ganhou apreciação até mesmo do governador Meneses.

Oliveira, em sua dissertação de mestrado, relata que Cunha Meneses, considerava-se dispensado de cumprir as ordens do Vice-rei em relação ao garimpeiro Manuel Henriques. Defendia seus militares, acusados de conluio com Mão de Luva. Esses militares, ainda segundo o relato do governador do Rio de Janeiro, Cunha Meneses “participaram ativamente do comércio clandestino do ouro com os bandoleiros antes mesmo do dito governador elaborar as suas estratégias de ataque ao bando. Assim, dizia que o comportamento de ambos não poderia deixar de ser criminoso e contrário às leis da Coroa, pois esses soldados mantinham uma intensa comunicação com o bando pelo Porto do Cunha, local onde se prestavam diversos socorros aos extraviadores, inclusive no comércio de ouro realizado com eles”.

Vasconcelos acusava Cunha Meneses de estar ciente com precisão das ações criminosas dos militares sob seu comando. Assim, estaria desrespeitando os pleitos judiciais, o que de fato era crime.

 

Paço dos Governadores

 

Oliveira conclui que:

Segundo as leis da época, os acusados de extravios deveriam ser enviados e julgados no Tribunal da Relação do Rio de Janeiro. No entanto, os militares suspeitos do crime tiveram a proteção de Cunha Meneses, o que já era no mínimo suspeito. Afinal, o que ganharia o governador defendendo simples soldados, alferes e cabos de sua capitania? Supomos que Meneses, por estar envolvido nos contrabandos praticados em Macacu, e por ser talvez o grande mentor nesses extravios, preferiu tomar partido de seus soldados a correr o risco de ser delatado. Acrescenta-se aí a participação de São Martinho, outro homem igualmente envolvido em semelhante crime, mas que não foi muito citado pelo vice-rei.

Manuel Henriques, por esses relatos, negava-se a pagar o quinto à Coroa Portuguesa, não por ser um sonegador de impostos, mas por ser um inconfidente a “su manera”. Pagava propinas aos governadores das Gerais para explorar livremente a riqueza aurífera dos “Sertões de Macacu”, talvez superiores ou, no mínimo, equivalentes aos 20% da produção de ouro ou o “quinto dos infernos”.

Carvalho, no livro A odisseia de Mão de Luva na região serrana fluminense afirma que:

“Mão de Luva, mineiro de Ouro Branco, foi um garimpeiro que não se submetia à tirania da Corte Portuguesa, e, à semelhança de Tiradentes, foi perseguido. Tiradentes, no final, teve sua dignidade resgatada, mas Manuel Henriques, apesar de nossos esforços com as revelações do livro “O tesouro de Cantagalo”, continua sendo considerado um malfeitor. […] São Martinho, reconheceu-o, em relatório oficial, como um cidadão útil e religioso.”

São Martinho foi homenageado por Cantagalo desde o início, dando nome a uma estrada estratégica. Manuel Henriques, o Mão de Luva, permanece na clandestinidade até mesmo na história oficial do município de Cantagalo.

Aguardem a publicação do livro “Mão de Luva e as Origens de Cantagalo”!

 

Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.
Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.

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