Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Leia a parte 1 e parte 2 deste artigo nos respectivos links.
O Centro de Memória do Povo Puri¹ assim descreve suas origens, a região que ocupavam no século 18 e os motivos da extinção das tribos:
Nós, o povo Pury, somos originários da região sudeste do Brasil, em áreas de seus quatro estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo.
Segundo o mapa etno-histórico Nimuendajú, a extensão do território original ocupava áreas entre o Vale do Paraíba, a bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul e seus afluentes, bem como parte da bacia hidrográfica do Rio Doce, o que incluía seu alto curso e a região do Rio Manhuaçu. Pertencemos ao tronco linguístico Macro-Jê constituído por doze famílias linguísticas (ramos): Jê, Kamakã, Maxakalí, Krenák, Puri, Karirí, Yatê, Karajá, Ofayé, Boróro, Guató e Rikbáktsa. A família Pury é composta por três línguas: Pury, Koropó e Coroado.
No século XVIII fomos estimados em mais de 5.000 pessoas e, apesar de invisibilizados pelo Estado brasileiro e por seu órgão indigenista do início da República, o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), no último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010, foram registrados 675 puris. Sendo 335 autodeclarados em Minas Gerais, 169 no Rio de Janeiro, 113 no Espírito Santo e 24 em São Paulo.
As violentas políticas de aldeamento, catequização, escravização e etnocídio institucionalizado colaboraram para que fôssemos considerados extintos desde o século XIX. Por meio do caminho deixado pela nossa ancestralidade, atualmente nosso povo se encontra em processo de retomada da comunidade, da língua, da cultura e do território.
Esses índios considerados “bravos” foram conquistados por Manuel Henriques, com a ajuda do padre Gabriel e colaboradores de Mão de Luva e dos seus parceiros do garimpo, e, posteriormente, convertidos ao catolicismo e catequisados. Rugendas retratou, com fidelidade, os índios Puris em sua obra iconográfica, que imortalizou o retrato dos brasis do século 18/19.
A lenda
O escritor, jornalista e historiador Acácio Ferreira Dias publicou, nos idos dos anos 50 do século 20, um romance histórico sobre Manuel Henriques, mais conhecido como Mão de Luva, considerado o fundador de Cantagalo. O livro: O Mão de Luva – Fundador de Cantagalo.
No Capítulo II – Um baile no Paço de Queluz -, o historiador dá-nos notícia do encontro entre D. Manuel Henriques, Duque de Santo Tirso, e a Infanta D. Maria (Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança (1734/1816).
Ela era filha do Rei de Portugal, D. José I (1714/1777), terceiro filho do rei D. João V (1689/1750) e a rainha Maria Ana Josefa de Áustria (1683/1754). Ao diálogo²:
O Duque convida a Infanta para dançar. Acácio constrói o seguinte diálogo entre os dois, na grafia original:
– Princesa encantadora e divina dos sonhos orientais, cândida açucena a perfumar o ramalhete das mais lindas flores colhidas em um jardim de fadas, quer dar-me a suprema honra desta valsa? Isso constituirá valioso favor ao mais humilde dos vossos vassalos, que todavia é o maior dos vossos admiradores!
– Enganai-vos senhor Duque, o prazer desta contra-dansa é todo meu, respondeu a princesa com um sorriso angelico a aflorar-lhe os lábios feitos de coral.
Mas a Infanta D. Maria, após declarar o seu amor ao Duque de Santo Tirso, levanta o véu que cobre a aproximação dos dois, e diz que o “diabólico Marquês de Pombal”, com sua ascendência sobre El-Rei de Portugal e pai da princesa, “destróe o meu futuro e esmaga o humano almejo de dois entes que aspiram unir os seus corações num sonho lindo de amor”.
Notas
¹ Disponível em: <https://povopuri.wixsite.com/memoriapuri/a-etnia-indigena-puri>. Acesso em: 20 mar. 2023.
² As transcrições respeitam a grafia original das palavras.