Prefeitos se reúnem para impedir a construção de presídio em Conceição de Macabu
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Na viagem para o degredo, Manuel Henriques fica sabendo que D. Maria, agora rainha de Portugal, estava casada há mais de vinte anos com seu tio, o Infante D. Pedro. Por vias de um monge, antes de sua morte, por tuberculose, Manuel Henriques envia para a rainha de Portugal, D. Maria I, a luva e um crucifixo. Entregue a encomenda, a rainha entra abruptamente na sala em que os ministros, o clero e fidalgos aguardavam a sua presença. D. Maria, segundo o historiador, “alucinada, levava bem alto um crucifixo e uma luva preta” e gritava a plenos pulmões: “Vêde senhores! São relíquias de um romance desgraçado… Corre sangue deste crucifixo e desta luva preta… Uma soberana faltou a fé jurada! Não é digna da proteção de Deus! É o castigo… É o castigo… Enlouquecera a rainha de Portugal!”.
Mas a lenda ainda persiste… Persiste? Ou vai sendo aos poucos envolvida por pesquisas e documentos que tiram o romantismo, mas buscam a realidade.
A lenda continua
A escritora e poeta Amélia Tomás – pseudônimo literário de Amélia Thomaz, filha de Olga Herdy Brito e Alberto Augusto Thomaz – publicou dois livros sobre Manuel Henriques, na mesma vertente de Dias: Mão de Luva, o fundador de Cantagalo e Gente da Casa de Mão Luva. É mais uma lenda. São volumes que seguem uma tradição oral, por ela divulgada amplamente nas suas aulas de Língua Portuguesa no ginasial e no científico.
Ela dramatizou sua versão do Mão de Luva em uma peça teatral inédita.
Faço, a seguir, uma transcrição livre da abertura do livro Gente de Mão de Luva, editado em 1978.
A história de Cantagalo guarda o nome de seu fundador: Manuel Henriques, cognominado o Mão de Luva, por usar em uma das mãos uma luva preta. Que mistério envolveria esse homem, que tudo indica ser superior aos companheiros, aventureiros, exilados de Portugal, cuja lenda relata estar envolvido em um caso de amor, e na Conspiração dos Távora, bandeirante pela necessidade de sobreviver, numa região que abria o seio fértil, onde rolavam veios de ouro?
Exilado de Portugal, vemos no historiador de Cantagalo, Acácio Dias, que Manuel Henriques era nobre e pertencia à Casa de Santo Tirso.
Portugal sofria o jugo do Marquês de Pombal, poderoso ministro de D. José, o déspota que exilava suspeitos e praticava a mais férrea ditadura.
Muitos fidalgos, sem culpa formada, foram banidos ou encarcerados, bastando a denúncia de um áulico ou a cobiça dos bens que possuíam.
Exilado, Manuel Henriques instalou-se em Minas. Exercia a garimpagem, mas o poder oficial atento a tudo quanto se ligasse ao ouro, perseguiu-o.
Pelo Rio Paraíba do Sul, no lugar denominado Porto do Cunha, veio Mão de Luva, para instalar-se em nosso rincão, vagamente conhecido como Sertões de Leste.
Era vice-rei D. Luiz Vasconcelos e Souza, no último quartel do século 18. O ouro começava a escassear e a fiscalização sobre os garimpos tornara-se mais severa.
Em nossa região, Manuel Henriques e seu bando passam a explorar os rios Macuco, Negro e Grande. Segundo um historiador, seu raio de ação era principalmente entre a atual Fazenda das Lavrinhas e o município de Cordeiro. Na verdade, esse espaço era bem maior, como se constatou na prisão dos garimpeiros, em 1786.
Sobre a captura de Mão de Luva há várias versões. Uma diz que um de seus companheiros, subornado, denunciou seu esconderijo.
Outra relata que numa escolta, vinda de Minas, o perseguia e, já desanimada, preparava-se para regressar, muito de madrugada, quando ouviu o canto de um galo. Acompanhando de onde vinha o canto, veio a descobrir onde se refugiava o bando.
Encontramos em mais de um historiador o nome do Sargento-Mor encarregado da prisão: Pedro Afonso Galvão de São Martinho.
Foi incorporado à diligência o alferes Joaquim José da Silva Xavier, “que tem inteligência e memória lógica” (mineralógica, segundo a interpretação de Celso Falabela de Figueiredo Castro).
Preso, é Mão de Luva julgado em Vila Rica; seus bens postos em hasta pública e finalmente degredado para a África.
Desaparece assim o nosso herói.