“Mão de Luva e as origens de Cantagalo – 7”, por Celso Frauches

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Leia a parte 1, a parte 2, a parte 3, a parte 4, parte 5 e parte 6 deste artigo nos respectivos links.

 

Preso, é Mão de Luva julgado; seus bens postos em hasta pública e, finalmente, degredado para a África. Desaparece assim o nosso herói.

Mão de Luva fundara um arraial organizado e, com o sentido inegável de liderança, pusera nesse arraial cerca de 200 famílias, um diretor espiritual, o padre Gabriel, capelão, prova evidente de ordem e de respeito à moral e à Igreja Católica.

Ao lado dos dados históricos, há uma belíssima lenda em torno do fundador de Cantagalo. Fidalgo, frequentava o paço d’El-Rei D. José, onde espelhava sua graça régia, D. Maria, a princesa herdeira do trono. Entre a princesa e o fidalgo, nasce um romance de amor.

O Marquês de Pombal, que tudo fiscalizava, temeroso de um enlace, encontra estratagemas para afastar o fidalgo, acabando por exilar o nobre Santo Tirso. Mas a princesa, sem poder valer ao amado, consegue uma última entrevista, despedindo-se dele antes de sua partida para o Brasil. E Manuel Henriques jura que ninguém tocaria a pele da mão que estreitara as mãos amadas, até poder voltar a Portugal. Calça então a luva preta que lhe valeu passar à História como o Mão de Luva.

 

D. João V, rei de Portugal
D. João V, rei de Portugal

 

Acreditamos piamente que Manuel Henriques não era um homem vulgar. Num Almanaque do Correio de Cantagalo, de 1908, sendo diretor o Dr. Júlio Santos, há um interessante artigo. Segundo esse artigo, o infeliz bandeirante, em velho pergaminho, diz: “Perseguido por uma escolta que destroçou e aprisionou os meus companheiros das lavras do Rio de Janeiro, atravessei o Parahiba tendo deixado enterrado no alto da serra que margeia esse Rio, pelo lado do Sul, junto a uma lagoa que nunca secca, entre os galhos de um pão de lei, um sacco com ouro, e na previsão de morrer sem poder voltar ao lugar, ficão estas indicações que lego a quem der sepultura a meu corpo”.

A leitura deste documento revela que o Mão de Luva sabia expressar-se em bom português, coisa rara entre os aventureiros que garimpavam clandestinamente, ou entre os que eram despachados do reino para as colônias.

Uma indagação paira em meu espírito, quando analiso os fatos da origem de Cantagalo. Por ocasião da Inconfidência Mineira, era Portugal governado por D. Maria, a princesa que figura na lenda amorosa de Manuel Henriques. Sabe-se através dos historiadores da fuga de D. João, regente do trono, que D. Maria durante a viagem, já demente, gritava incessantemente: “Vou para o inferno! Vou para o inferno!”. Tal o horror que lhe inspirava o Brasil.

 

Tiradentes
Tiradentes

 

Por quê? Cabia a ela condenar ou não os conspiradores da Inconfidência, atenuar as penas aos culpados ou perdoá-los. Abrandaram-se algumas penas, porém a Tiradentes, o alferes que ajudara a capturar Manuel Henriques, ela não perdoou. Não seria o coração de Dona Maria movido por um sentimento de vingança contra aquele que perseguira seu amado?

Deixo a conclusão aos que puderem investigar melhor do que eu os meandros do coração humano, à luz de documentação segura. E veio a “documentação segura”.

 

Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.
Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.

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