Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
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Carvalho revela também que “as armas existentes eram usadas exclusivamente na caça e na proteção contra feras”. Os habitantes do Descoberto (Sertões de Macacu) viviam em paz, trabalhando, produzindo, criando seus filhos e progredindo.
No povoado que criou – El-Rey −, Mão de Luva ocupava um rancho, com mulher e filhos. A casa era servida por cinco escravos e “um pardo forro”. Quanto ao relacionamento dele com os índios e negros, Sebastião afirma que “era bom, tendo em vista os relatos existentes em documentos oficiais, como o relato do soldado José de Deos, verbis ‘A comunicação com os índios ainda a conservam…”.
E São Martinho, em seu Relatório de 17 de maio de 1786 a Luiz da Cunha Menezes (1743/1819), Conde de Lumiares e governador da capitania de Minas Gerais, registra: “No dia 14, depois de feita a diligência das prisões, veio o Capitão dos Índios, chamado Joaquim, a falar-me e pedir-me lhe não fizesse mal, nem ao seu Manuel, que era bom, e que ensinava a gente a rezar, o que assim é, porque alguns rapazes o confirmaram, rezando algumas orações. Eu lhe prometi não fazer mal ao seu Manuel…”. E assim foi. São Martinho entregou os presos ao governador da província do Rio de Janeiro, o vice-rei D. Luiz de Vasconcelos e Sousa, 4º Conde de Figueiró, por determinação de D. Maria I, sem qualquer violência física.
Carvalho informa que “houve várias discordâncias em relação a procedimentos militares, entre o vice-rei do Brasil e o Governador da Província de Minas Gerais, no decorrer da tomada do Descoberto do Macacu, que culminou numa verdadeira ‘contenda epistolar‘”.
O autor de A odisseia de Mão de Luva na região serrana fluminense também revela que Tiradentes, cognominado o “mártir da Independência do Brasil”, foi designado pelo governador da Província de Minas Gerais, antes da invasão da aldeia de Mão de Luva, para “investigar o potencial aurífero, a configuração do terreno e da rede hidrográfica, verificando as possibilidades de penetração, para a implantação de postos avançados, e ainda a situação exata dos moradores: número de pessoas, forças de que dispunham e ocupações a que se dedicavam”. Tiradentes cumpriu a sua tarefa. Essas informações serviriam, mais tarde, após a desocupação de El-Rei, para a divisão de Cantagalo em sesmarias, fato que ocorreu a partir de 1786.
Sobre a luva preta que Manuel Henriques usava na mão direita, ao contrário de outros pesquisadores, Carvalho afirma que fora, “talvez aleijada nas lides de mineração”.
Sebastião A. B. de Carvalho lamenta a história-lenda de Mão de Luva:
“Vigora, há muito tempo, uma séria indiferença sobre a verdadeira história de Manuel Henriques, o garimpeiro; não o bandoleiro, o bandido. Desconsiderar assim um homem que, arrostando grandes perigos, penetrou na selva, em busca de ouro, contrariando as autoridades portuguesas e brasileiras, é desconhecer a verdadeira história de Manuel Henriques. Ele e seus companheiros e escravos edificaram e mantiveram, por cerca de 26 anos, suas rancharias, é um crime contra a história do Estado do Rio de Janeiro e Brasil”.
Na administração do ex-prefeito de Cantagalo, Saulo Gouveia, Sebastião solicitou constar do saite (isso mesmo: saite; sítio é onde eu criava galinhas, plantava bananas, batatas, etc.) da Prefeitura a história real da fundação de Cantagalo e de seu fundador, Manuel Henriques. Mas não foi atendido. Infelizmente.