Colégio Conde de Nova Friburgo, em Euclidelândia, conquista vários prêmios
A história é escrita pelos vencedores.
George Orwell
Nesta série de artigos, pretendo falar sobre as origens de Cantagalo e registrar que o verdadeiro fundador de nosso município é Manuel Henriques, o Mão de Luva, brasileiro, filho de brasileiros, nascido em Ouro Branco, nas Minas Gerais. É uma espécie de folhetim, um termo que se refere a um gênero literário que surgiu no século 19 e se popularizou principalmente nos jornais e revistas da época, chegando ao século 20.
Há 33 anos, o jornalista, pesquisador e escritor Sebastião A. B. de Carvalho, publicou o livro O TESOURO DE CANTAGALO (Niterói, RJ: Cepec, 1991). Nele, Sebastião resgata a verdadeira história de Manuel Henriques, o Mão de Luva, brasileiro, nascido e batizado na Freguesia de Ouro Branco, na Capitania de Minas Gerais.
Acabou com a história romanceada do escritor Acácio Ferreira Dias (1889/1976), usada nas escolas de Cantagalo, sobre o fundador de Cantagalo. Acácio Ferreira Dias (1889/1976), que chegou a ser prefeito de Cantagalo, a partir de 1930, escreveu uma história romanceada sobre Manuel Henriques. No romance — MÃO DE LUVA (Fundador de Cantagalo) — ele descreve D. Manuel Henriques, duque de Santo Tirso, como um nobre português (Manoel Henriques), preso e deportado para o Brasil pelo nefasto Marques de Pombal que dominava o então rei de Portugal, D. José I. Na prisão, a infanta D. Maria, a namorada do duque, teria lhe feito uma visita na prisão, beijando-lhe a mão direita. Colocou nela uma luva preta que ele jamais deveria tirar, enquanto ela não fosse para o Brasil como rainha. Na vida real, a infanta casou-se um ano depois em Portugal…
Mas vamos começar o folhetim pelo “Certão dos índios bravos”.
O garimpeiro Manuel Henriques e seus parceiros na garimpagem de ouro, foram atraídos para os “Certões dos índios bravos” em virtude de informações sobre a riqueza aurífera dessa região, coberta de densa mata atlântica e farta em riachos e rios caudalosos, sobressaindo o rio Paraíba do Sul. A expressão “certão” ou “sertão” era, no século 18, de uso comum em Portugal. Identificava uma região desconhecida, ainda não explorada, inacessível, isolada. Para a Coroa Portuguesa era uma “área proibida”, ou seja, ninguém poderia nela morar.
Estamos no início da década de 60 do século 18. Manoel Henriques está com cerca de vinte anos. Entre os seus companheiros de desbravamento dos “Certões”, há três irmãos, um filho adotivo e outros garimpeiros, ansiosos por encontrarem novas minas. Mais tarde, conhecida por “Sertões de Macacu”, a região passou ser denominada por Novas Minas de Canta Gallo, em virtude da riqueza mineral. Esse “Canta Gallo” ninguém sabe de onde veio. A tradição oral, acolhida pelo historiador Acácio Ferreira Dias, dizia que o motivo era a existência de uma criação de aves, que atraiu a atenção dos policiais a serviço do governo das Minas Gerais, à frente São Martinho. Essa estória não se confirma com as pesquisas, mas admito que quando São Martinho veio, pela primeira vez, na região, possivelmente em 1763, ele chegou ao povoado Mão de Luva, por ele denominado EL-REY, ele ali chegou atraído pelo canta de um galo e começou a falar que foi atraído pelo canto de um galo. Daí ele falar em Canta Gallo.
As Novas Minas do Canta Gallo, situada na parte setentrional do Vale do rio Paraíba do Sul, compreendia uma área muito maior que a do atual município de Cantagalo, reconhecido como distrito em 1806 e vila ou município em 1814.
Os “Certões dos índios bravos” incluía a vertente interior das serras de Boa Vista, dos Órgãos, Macabu e Macaé. Era uma extensa área, com quase seis mil quilômetros quadrados. Uma região inexplorada. Em meados do século 18, somente aventureiros, desbravadores, bandeirantes poderiam “descobrir” essa área.
A região dos “Certões”, como descreve Mauro Leão Gomes, era coberta por “florestas primárias do tipo mesófilas caducifólias, típicas da Mata Atlântica, com árvores de espécies latifoliadas decíduas que chegam em média a trinta e cinco metros de altura e trocam de folhas durante a estação seca”.
Continuamos na próxima semana.