Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
O caricato Mão de Luva da TV Globo, com uma espada na cintura. O verdadeiro Mão de Luva usava era arma de fogo, como todo sertanejo brasileiro.
A primeira notícia sobre Manoel Henriques, o Mão de Luva, é de autoria do escritor, jornalista e historiador Acácio Ferreira Dias, no livro Terra de Cantagalo (Niterói: Diário Oficial, 1942). Nesse livro, Acácio cita duas versões: uma, a do verdadeiro garimpeiro Manoel Henriques; outra, segundo a qual o “jovem Manoel Henriques, duque de Santo Tirso, possuidor de vastos domínios e incalculáveis riquezas, perfeito cavalheiro, de elevadas virtudes, cultura e extraordinária simpatia, deixava se prender por funda paixão à filha daquele monarca (D. José I). Esse amor nascera, numa pomposa recepção realizada na Corte”. Terra de Cantagalo é o mais importante livro sobre a história do município de Cantagalo.
A lenda sobre Mão de Luva, Acácio a desenvolveu no romance histórico “O Mão de Luva (Fundador de Cantagalo)” (Niterói: Imprensa Nacional, 1953). Não há, nesse livro, a citação de fontes que corroborem a história de Manoel Henriques como duque de Santo Tirso, um português de Lisboa, degredado para o Brasil por artimanhas de Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, tido como a ovelha negra do reinado de D. José I. Ocupava o cargo de primeiro-ministro.
A professora, escritora e poeta cantagalense Amélia Thomaz publica, em 1990, o livro Mão de Luva, o fundador de Cantagalo, e mais tarde Gente da Casa de Mão de Luva. Cita como uma das fontes o livro Terra de Cantagalo, de Acácio Ferreira Dias (Niterói: Diário Oficial, 1942). É, ainda, uma história romanceada pela criativa mente da poeta cantagalense.
O pesquisador, escritor e jornalista Sebastião Antônio Bastos de Carvalho foi redator-chefe do jornal Cantagallo Novo, fundado em 1936 por seu pai, o jornalista Antonio Ferreira de Carvalho. Desde 1991, Sebastião realizou pesquisas sobre as origens de Cantagalo. Nesse mesmo ano, ele publicou o livro O Tesouro de Cantagalo, no qual levantava a verdadeira história de Manoel Henriques, o Mão de Luva, como fundador de nossa cidade. Após a morte de Sebastião, a viúva, Rosa Maria Werneck Rossi de Carvalho, publicou, pela editora Outra Margem, A Odisseia de Mão de Luva na Região Serrana, lançado em novembro de 2020, na Fazenda São Clemente, no distrito de Boa Sorte. Aqui aparece, documentada, a verdadeira história das origens, atividades de garimpeiro e desbravador dos Sertões de Macacu, “terra dos índios bravios”, e a prisão, condenação, degredo e morte de Manoel Henriques, o Mão de Luva.
Em 2008, o pesquisador e professor Rodrigo Leonardo de Souza Oliveira restaura a verdadeira origem de Manoel Henriques, como Sebastião Carvalho. É na dissertação de mestrado, sob o título “Mão de Luva e Montanha: bandoleiros e salteadores nos caminhos de Minas Gerais no século XVIII (Matas Gerais da Mantiqueira: 1755-1786)” (*), apresentada ao Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), nas Minas Gerais, e aprovada por unanimidade, tendo como orientador o Prof. Dr. Angelo Alves Carrara, da mesma universidade. Aqui, também, com farta documentação, mapas e fotos, Oliveira conta a verdadeira história de Manoel Henriques, o Mão de Luva, fundador do povoado onde foi construída a cidade de Cantagalo.
As duas versões – lenda e verdade – foram contadas num resumo incompleto, em virtude do espaço da coluna no JR, em artigos anteriores. Algumas narrativas são comuns nas quatro histórias. A origem da luva preta na mão direita, que deu origem à alcunha “Mão de Luva”, porém, não é documentada em A odisseia de Mão de Luva na região serrana fluminense, de Carvalho, e nem na dissertação de mestrado de Oliveira. Não há documento que ateste a sua origem e uso. O degredo de Manoel Henriques, na lenda, é para a África; na versão de Carvalho pode ter sido para a África ou Rio Grande do Sul. Em Oliveira, a versão aceita é o degredo para o RS, onde veio a falecer, com outro nome, sem citação da data.
A origem da denominação do nome Cantagalo para a cidade e, mais tarde, para a freguesia, distrito e município, só aparece na lenda. Teria saído do canto de um galo, o que indicava existir, entre as montanhas de nossa futura cidade, um povoado, que seria o do garimpeiro Manoel Henriques. Essa versão não tem base documental nas versões de Carvalho e Oliveira.
Jean Baptiste Debret, em Viagem pitoresca e Histórica ao Brasil (São Paulo: Martins, 1940), editado originalmente na França, em 1835, no capítulo “Colônia suíça de Canta-Gallo”, fala da localização, “no distrito de Canta-Gallo (São Pedro de Cantagalo), dependente da província do Rio de Janeiro”, da primeira colônia suíça instalada no Brasil, durante o reinado de João VI, a Colônia Nova Friburgo, a partir de 1819.
A lenda pode ter sido construída com base na tradição oral. O canto do galo parece, realmente, indicar a origem do nosso topônimo: Cantagalo. Não há outra explicação plausível.
Quanto ao mais, com poucas diferenças, há uma série de coincidências, por exemplo, sobre a “carta de engano”; os nomes dos irmãos de Manoel Henriques, “Os Luvas”; a época de ocupação e exploração aurífera do Descoberto dos Sertões de Macacu; a região de exploração do ouro de aluvião, nos rios, como o Negro, Macuco e outros da região serrana, a cachoeira do Ronca Pau; a venda ilegal do ouro na baía da Guanabara, para a Europa, fugindo do pagamento do “quinto” à Coroa Portuguesa, “o quinto dos infernos”. São Martinho aparece nessas histórias e estórias. É até nome de locais em Cantagalo. A “Estrada de São Martinho” era um dos sonhos do cantagalense conhecido por seo Rocha, conceituado farmacêutico em nossa cidade.
Os livros Tesouro de Cantagalo e O Mão de Luva (Fundador de Cantagalo), de Acácio Ferreira Dias, têm méritos incontestáveis, assim como A odisseia de Mão de Luva na região serrana fluminense, de Sebastião A. B. de Carvalho, e a dissertação de mestrado do Prof. Dr. Rodrigo Leonardo de Souza Oliveira, devem ser usados nas escolas e universidades para o estudo dos Sertões de Macacu ou região de índios bravios, quando Cantagalo dominava toda essa região, hoje palco de cerca de catorze municípios.
Caso os prezados leitores tenham informações mais detalhadas do que esses autores sobre as origens da denominação de nosso município, da luva preta na mão de nosso fundador e do destino final e fatal de Manoel Henriques, o Mão de Luva, por mim resumidas nesses cinco artigos publicados no nosso Jornal da Região, um periódico que conta com a bravura, a competência e pertinácia do jornalista Célio Figueiredo, terá espaço em nosso Projeto Mão de Luva. Sejam bem-vindos!
(*) Disponível em <http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UFJF_507c0a2af0b72316257739ac19d20ba1>.
Leia os artigos anteriores:
- Mão de Luva: a lenda – parte 1
- Mão de Luva: a lenda – parte 2
- Mão de Luva: a verdade – parte 1
- Mão de Luva: a verdade – parte 2
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.