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Maria Jacintha Trovão da Costa Campos nasceu em Cantagalo (RJ), em 25 de setembro de 1906. Ainda jovem, sua família transferiu-se para Niterói, a fim de encontrar espaço para o desenvolvimento dos talentos dessa futura professora, escritora, dramaturga, jornalista, tradutora e produtora teatral de expressão internacional.
Seu primeiro texto teatral, “O gosto da vida”, foi montado pela Companhia Jaime Costa, em 1937. Por essa peça recebeu o 1º Prêmio de Teatro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Encenada logo após o sucesso da primeira peça de Maria Jacintha, “Convite à Vida” tinha uma forte vertente pacifista, tendo presente uma questão controversa, a participação do Brasil na segunda grande guerra. Essa peça foi produzida quando os expedicionários brasileiros foram para a Itália.
O jornalista Genolino Amado escreve sobre “Convite à Vida”, encenada pela Companhia Dulcina-Odilon em 1945: “Há, na peça da Senhora Maria Jacintha, uma qualidade literária e uma alerteza, diante das questões políticas do momento, que a distinguem e, mesmo, a singularizam em nosso repertório atual, tão escasso de obras assim. […] há, em verdade, um convite ao que honra e enobrece a vida moderna – isto é, a desinteressada meditação diante da sorte do mundo, neste pós-guerra […]“.
Em 1968, encenou sua última peça, “Um não sei quê que nasce não sei onde“, uma crítica às situações dramáticas do golpe de 1964. Um dos fatos que a levaram à prisão durante o regime militar.
Jacintha foi tradutora de peças francesas – Anfitrião 38, de Jean Girandoux; Jezebel, de Jean Anouilh; O Sapato de Cetim, de Paul Claudel; Estado de Sítio, de Albert Camus e outros – e russas, como Anton Tchekhov; sua tradução de As Três Irmãs, em 1953, ganhou medalha do Serviço Nacional de Teatro (SNT). Exerceu as funções de diretora artística do Teatro do Estudante do Brasil, quando promoveu a reforma para a atualização do repertório do TEB. Fundou o Teatro de Arte do Rio de Janeiro e o Teatro Fluminense de Arte. Atuou ainda como professora no Conservatório Brasileiro de Teatro. Sob sua direção, faz seus primeiros cenários na estreia de Cacilda Becker e Sandro Polloni. Escreveu para radioteatro e suas peças foram ao ar pela Rádio Nacional. Sempre com sucesso de audiência.
Com Dulcina e Odilon Azevedo, lançou, os então novatos, Mauro Mendonça, Nicette Bruno, Fernanda Montenegro e Kléber Machado.
Criou a revista Esfera, com a pintora e jornalista Sílvia Chalréo. Colaborou com diversos periódicos – O Globo, Correio da Manhã, O Jornal, Jornal do Commercio, Revue Française du Brésil, entre outros.
Mário de Andrade se referia à Maria Jacintha como a autora que “faz questão de manifestar durante todo o texto uma imparcialidade absoluta, permitindo que as personagens exponham seus pontos-de-vista e se revelem“.
Maria Jacintha discute em suas peças os direitos da mulher e a motivação das guerras.
Prêmios recebidos pela cantagalense Maria Jacintha: 1939 – Rio de Janeiro RJ – 1º Prêmio de Teatro da Academia Brasileira de Letras, ABL – por sua peça O Gosto da Vida; 1953 – Rio de Janeiro RJ – Medalha do Serviço Nacional de Teatro, SNT – melhor tradução por As Três Irmãs, de Anton Tchekhov. Peças de teatro: Conflito. Porto Alegre: Edições Meridiano, 1942. (Coleção Tucano); Já é manhã no mar. Petrópolis: Vozes, 1968. (Coleção Diálogo da Ribalta); Um não sei quê que nasce não sei onde. Rio de Janeiro: Fon-Fon e Seleta, 1968. (Teatro Brasileiro); Convite à vida. Rio de Janeiro: Fon-Fon e Seleta, 1969. (Teatro Brasileiro); Intermezzo da imortal esperança. Rio de Janeiro: Serviço Nacional de Teatro, MEC, 1973; Intelectual do Ano foi concedido pelo Grupo Mônaco do Cultura, em 1988.
A Universidade Federal Fluminense estuda em profundidade a obra de Maria Jacintha. Em 2006, a professora e pesquisadora Marise Rodrigues defendeu uma tese de doutorado sobre a nossa conterrânea: Ressonâncias & memórias: Maria Jacintha, dramaturga brasileira do século XX, história de uma pesquisa. A dissertação foi aprovada.
Por essa tese descobre-se que grande parte da obra de Maria Jacintha permanece inédita. Esse importante trabalho acadêmico revela Maria Jacintha com extremado amor pelas artes, solidariedade e liberdade, com espírito de comunhão, de ideais humanitários e artísticos.
Ainda em vida, recebeu expressivas homenagens pelo conjunto de sua obra e pela coerência e firmeza de suas ideias e práticas como educadora, dramaturga, crítica e tradutora. O evento ocorreu no Teatro Municipal de Niterói. Nessa ocasião, com o teatro lotado, Nicette Bruno, já internacionalmente célebre como atriz de telenovelas, expressou, entre depoimentos outros de amigos e estudiosos da obra de Maria Jacintha, a gratidão pelo auxílio que Maria Jacintha lhe deu no início da carreira. Arlete Pinheiro Esteves da Silva – a Fernanda Montenegro – tornou-se a primeira atriz latino-americana a receber uma indicação, pela Academia de Hollywood, para o Oscar de melhor atriz, tendo iniciado o seu percurso teatral bem jovem com Maria Jacintha.
A notável cantagalense Maria Jacintha Trovão da Costa Campos faleceu em Niterói, em 1994, onde sempre residiu depois que saiu de Cantagalo.
Fontes consultadas: jornalista Luis Antônio Pimentel, A Tribuna, Niterói, 2 de janeiro de 1955, biografia; Ressonâncias & memórias – Maria Jacintha: dramaturga brasileira do século XX (UFF – Tese de doutorado).
Um Comentário
Agradeço ao jornalista Celso Frauches pela divulgação do meu livro sobre a vida e a obra da admirável escritora e dramaturga cantagalense, Maria Jacintha Trovão da Costa Campos.