“Mário Bon: bom além do nome”, por Celso Frauches

Conheci Mário Curty Bon em 1950. Ele, com o sócio Nelson de Paula, tinha uma farmácia onde hoje é a Farmácia Cantagalo. Ele me deu a oportunidade do primeiro emprego aos catorze anos de idade. Ali trabalhei até os dezessete anos. Com o Mário, aprendi a ser balconista e aplicar injeções; com o Nelson, filho do coronel Manoel Marcelino de Paula, as primeiras noções de finanças. Ele era um excelente gerente, sério, disciplinado.

Aos dezessete anos, o amigo Milton Loureiro me convidou para trabalhar como escrevente do cartório da Delegacia de Polícia de Cantagalo. O delegado era o dr. Dalossi e Américo Ventura, o suplente de delegado. Ali aprendi “as primeiras letras” sobre os expedientes da administração pública – ofícios, requerimentos, cartas, atas, relatórios e similares.

A família Curty integrou a leva de suíços que emigrou para a Colônia Nova Friburgo, em 1819, então pertencente ao município de São Pedro de Cantagalo, elevado a essa categoria em 9 de março de 1814. Era natural de La Roche, do cantão suíço de Fribourg. Dos dez Curty que embarcaram no navio Urania, francófonos (falantes da língua francesa) e católicos, cinco faleceram durante a viagem. Sobre a família Curty, Henrique Bon, em seu livro Imigrantes – A saga do primeiro movimento migratório organizado rumo ao Brasil às portas da independência (Nova Friburgo, RJ: Imagem Virtual, 2ª ed. revista e ampliada, 204, p. 402/409), esclarece: “A família Curty, embora tenha permanecido nos números coloniais (em Nova Friburgo) durante alguns anos, já na terceira ou quarta década do século XIX começa a ser assinalada em outras regiões, notadamente, no distrito de São Sebastião do Paraíba“.

A família Bon no Brasil teve origem com a vinda de Henri Bon para Nova Friburgo, em 1826. Em seguida, ele migrou para São Sebastião do Paraíba, distrito do então município de São Pedro de Cantagalo, reconhecido em 1814.

Mário Curty Bon nasceu em São Sebastião do Paraíba, em 29 de dezembro de 1910, filho de Helena Curty Bon e de Francisco Bon. O antigo curso primário ele realizou com a professora Angelina, na vila onde nasceu. Lá casou-se com Irinéa de Paula Bon. O casal teve dois filhos: Manoel Francisco (Tatico) e Eugênia Helena.

 

Mário Bon

 

Quando Tatico completou quatro anos, a família mudou para a cidade de Cantagalo, para que o filho aqui fizesse o antigo Curso Primário.

Mário trabalhou, inicialmente, na propriedade rural de seus pais. Mas esse não era o seu destino. Começou a praticar as artes farmacêuticas na farmácia da Light, na Ilha dos Pombos. Ali trabalhou com médicos ingleses durante um bom tempo. Trabalhou em farmácias nos municípios mineiros de Cataguases, Juiz de Fora e Leopoldina. Voltou a residir na vila de São Sebastião do Paraíba, a fim de cuidar de seu pai, em idade avançada e carente de assistência especial. Nessa vila adquiriu sua primeira farmácia, onde ele era médico, farmacêutico e um fraterno e manso cuidador das pessoas da região, às margens do rio Paraíba do Sul. Competência e habilidades adquiridas na prática.

Chegou a estudar farmácia em Juiz de Fora (MG), por dois anos, por insistência de um amigo, o dr. Ernâni. Seus estudos foram interrompidos em virtude da doença de seu pai, quando teve de retornar à vila do Paraíba.

O futebol era o seu esporte favorito – um meia-direita de admirável condições atléticas, completo, com talento e disciplina. Atuou pelas equipes da Ligth F. C, Cataguases F. C. e Ribeiro Junqueira F. C. Chegou a titular da seleção mineira de futebol amador. Jório Noronha, um apaixonado pelo futebol, era um de seus admiradores, em tempos que atuou pela São Sebastião F. C.

 

Mário Bon, na Praça João XXIII, com a neta Samara, filha de Tatico, e o sobrinho, João Bosco
Mário Bon, na Praça João XXIII, com a neta Samara, filha de Tatico, e o sobrinho, João Bosco

 

Graças à sua comprovada competência profissional, ingressou na política e, entre 1958 e 1962, exerceu o mandato de vereador na Câmara Municipal de Cantagalo, sendo alçado à vice-presidência do legislativo cantagalense. Era prefeito Licínio José Gonçalves, seu cunhado, casado com uma filha do coronel Manoel Marcelino de Paula.

Em 1960, aposentou-se e adquiriu uma propriedade rural, em São Martinho.

Faleceu aos setenta anos, em 13 de junho de 1980, sendo sepultado no cemitério de Cantagalo.

Guardo de Mário Curty Bon a figura de um ser humano além da simples bondade, caridoso, afável, sempre disposto a cuidar de “seus doentes”. Ele foi um dos meus “mestres de vida”.

 

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.

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