“Mês da Bíblia”, por Dr Júlio Carvalho

A Igreja Católica Apostólica Romana dedica o mês de setembro à Bíblia, o livro mais lido no mundo. Todavia, a Bíblia não é apenas um livro, mas um conjunto de livros escritos durante mais de 1.500 anos até chegar ao formato que conhecemos.

O número de livros não é igual nas Bíblias católica e evangélica, a primeira é formada por 73 livros, enquanto a evangélica possui 66 livros. Será que alguma coisa está errada? Não. O que ocorreu foi o seguinte: traduções de fontes diferentes.

Ilustração de um escriba
Ilustração de um escriba

Os judeus, de onde se originou o cristianismo, eram monoteístas, acreditavam em um só Deus, escrevendo seus livros religiosos em hebraico e aramaico, e permaneceram durante vários anos sob o domínio do império romano, senhor de quase a totalidade do mundo conhecido daquela época.
Mostra a história que o povo judeu, habitante da Palestina, resistia valentemente aos romanos, lutando em sistema de guerrilha, principalmente nos terrenos mais íngremes. Usavam roupas e armas leves, conheciam o terreno, deslocando-se com facilidade, enquanto os romanos tinham dificuldade em virtude dos equipamentos e armas mais pesadas, além do desconhecimento do solo montanhoso. As baixas romanas eram frequentes, apesar do domínio.

No ano 70 depois de Cristo, chefiados pelo general Tito, os romanos arrasaram a Palestina, destruíram o templo, sede religiosa e administrativa dos judeus; consta que num só dia crucificaram 10.000 judeus e levaram muitos como escravos para Roma. A maioria dos judeus se dispersou para outros países, foi a diáspora do povo judeu, principalmente para a Grécia, centro cultural do mundo daquela época.

São Jerônimo
São Jerônimo

Mais tarde, com receio de que a religião e as tradições judaicas desaparecessem das novas gerações, reuniram 70 rabinos e passaram para o grego, língua dominante da época, os escritos religiosos do judaísmo, acrescentando mais sete livros na Bíblia (1 e 2 Macabeus, Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc); além desses sete livros, ainda apareceram pequenos acréscimos nos livros de Ester e Daniel. Essa Bíblia em grego ficou conhecida como Septuaginta.

Quando São Jerônimo traduziu a Bíblia para o latim, língua que era usada pela Igreja Católica, o fez a partir da Septuaginta, incluindo os acréscimos colocados pelos rabinos; adição que recebeu o nome de deuterocanônicos (novos canônicos).

Em 1517, o monge Martinho Lutero, protestando contra erros do catolicismo, iniciou a Reforma Protestante e traduziu a Bíblia a partir dos originais em hebraico e aramaico, sem os acréscimos gregos. É onde se encontra a diferença entre a Bíblia Católica e a Evangélica, no Antigo Testamento, enquanto no Novo Testamento tudo é igual. Resultado, a Bíblia Católica tem 73 livros, enquanto a Bíblia Evangélica tem 66.

Martinho Lutero
Martinho Lutero

O Antigo Testamento é bem mais longo que o Novo Testamento; o AT se refere a história do povo judeu (povo escolhido), conta a história da criação do mundo, dos patriarcas judeus, dos juízes e reis, livros sapienciais e profetas, que anunciaram a vinda do Messias, que recuperaria o esplendor do tempo de Davi e de Salomão. Sua leitura vai da aridez do livro dos Números à beleza dos Salmos e Provérbios. Nele é que se encontra a diferença entre as Bíblias.

O Novo Testamento, com 27 livros, é o mesmo para todo cristianismo, passando pelos Evangelhos, Atos dos Apóstolos, Cartas, fechando com o Apocalipse, que é o livro da revelação.

Todo o Novo Testamento está centrado na figura de Jesus Cristo, na Nova Aliança de Deus com a humanidade.

Escrita durante muitos séculos, os livros da Bíblia possuem vários autores ou prováveis autores, que vão desde pastores e lavradores, passando por reis, poetas, profetas, cobrador de impostos, médico, pescadores, etc., resultando a variedade de estilos literários, embora se considere que todos foram inspirados pelo Espírito Santo.

Não se pode ler a Bíblia como um fundamentalista, uma vez que seus livros foram escritos durante muitos séculos, por autores tão diferentes e graus de cultura desiguais. Quando lemos a Bíblia, precisamos ter presente o contexto em que o texto foi elaborado, existindo até uma frase usada por alguns: “um texto sem contexto, vira pretexto”.

Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.
Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.

Os autores da Bíblia, como os orientais, usam muitas figuras nos seus textos, usam sentido figurado; Jesus pregava usando parábolas, algumas de difícil interpretação, portanto, o importante na leitura bíblica é a interpretação das mensagens contidas e a transferência para o mundo atual.

O povo judeu aguardava a chegada de um Messias capaz de recuperar a grandeza e as glórias de Israel, um grande estadista, um chefe militar; todavia o Messias do Novo Testamento era muito diferente, suas armas eram a concórdia, a justiça social, a pobreza, a piedade, a solidariedade e sobretudo o amor. Era tão pobre que nasceu num curral e morreu numa cruz!

Seus ensinamentos se espalharam pelo mundo mas nem todos os assimilaram. “Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas a todos aqueles que o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1,10-12).

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.

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