“Milton Loureiro: um mestre trovador”, por Celso Frauches

Conheci o Milton Loureiro na década de 50. Em 1954, concluí o curso de datilografia, com a professora Dulce Lutterback. Parêntesis. Aos jovens com menos de trinta anos de idade: a máquina de escrever existiu. Não é fake news na “linguagem” moderna. Hoje é considerada jurássica. Parêntesis. Com esse “diploma”, o Milton me convidou para ser escrevente da Delegacia de Polícia de Cantagalo (1954/1955). Ele foi meu mestre nas artes de escrevinhar cartas, ofícios, atas, relatórios etc.

Milton Loureiro - 1957
Milton Loureiro – 1957

Milton Nunes Loureiro (1923/2011) nasceu em Campos dos Goitacazes (RJ). Ao longo de sua profícua existência exerceu várias funções, destacando-se como radialista, jornalista, apresentador de programas de TV, escrivão de polícia, advogado, delegado de polícia, além de poeta/trovador. Com a competência demonstrada na arte de poetar, Milton foi presidente da União Brasileira de Trovadores (UBT), seção de Niterói, por mais de trinta anos, pela qual promoveu um dos mais tradicionais Jogos Florais do gênero no país.

Chegou a Cantagalo aos nove anos de idade, em 1932, onde radicou-se. Fez os cursos da hoje educação básica, estudando com os professores Manoel Vieira Batista, Amélia Thomaz, Arthur Nunes da Silva, Honório Peçanha e outros menos conhecidos, mas igualmente competentes.

Com o seu diploma de bacharel em Direito, advogado, pode exercer, por quarenta e três anos, o cargo de delegado de polícia em diversas delegacias do interior do Estado do Rio de Janeiro, na baixada fluminense e na capital.

Era membro efetivo de diversas entidades culturais, espalhadas pelo Brasil, como a Academia Fluminense de Letras, Ateneu Angrense de Letras e Artes, Academia Itaboraiense de Letras, Ciências e Artes, Academia de Letras de Uruguaiana, Associação Uruguaiense de Escritores e Editores, Academia de Letras Sudoeste, Associação Niteroiense de Escritores, Academia Internacional de Heráldica e Genealogia de Uruguaiana, Academia Internacional de Letras Três Fronteiras, Academia Internacional de Ciências Humanísticas de Uruguaiana e Centro Cultural Literário e Artístico de Filgueiras (Portugal).

Milton Loureiro - caricatura
Milton Loureiro – caricatura

Ainda era membro de outras instituições profissionais e culturais como a Ordem dos Advogados do Brasil, Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Rio de Janeiro, Associação dos Delegados do Brasil, Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, Associação Fluminense de Jornalistas, Sindicato dos Jornalistas Profissionais/RJ, Associação Fluminense de Relações Públicas, Conselho Regional de Relações Públicas, Associação Fluminense de Turismo e Loja Maçônica Antônio Vieira de Macedo.

Recebeu da Câmara Municipal de Cantagalo o título de Cantagalense Honorário, por sua relevante atuação em nosso município. É Cidadão Honorário também dos municípios fluminenses de Cabo Frio, Niterói, Petrópolis, São Gonçalo e Teresópolis. Da Assembleia Legislativa fluminense recebeu o título de Cidadão Benemérito do Estado do Rio de Janeiro. Foi agraciado com a comenda Ordem do Mérito Arariboia e com as seguintes medalhas: Mérito Policial José Cândido de Carvalho, José Clemente Pereira, Oswaldo Cruz e Jubileu de Ouro da Academia Niteroiense de Letras.

Exerceu as funções de noticiarista e repórter nas rádios Tamoio, Tupi, Continental, Copacabana, Club de Niterói e na Agência Meridional. Nas TVs Tupi, Continental e Rio, que não existem mais, atuou em diversos programas, como comentarista e trovador.

Dos seus 88 anos, dedicou 63 à sua amada companheira, Edmir, filha de Augusto de Paula e do Bejinha, irmã de Wilder de Paula e tia do prefeito Guga de Paula.

Em sua trajetória como poeta, legou-nos versos e trovas românticas e algumas jocosas, para alegrar os seus leitores. Manita, na apresentação do livro Dos sonhos brotaram versos (Niterói, RJ: Supergráfica, 1976), após citar versos da poeta Cecília Meireles (Eu canto porque o canto existe, E a minha vida está completa: Não sou alegre nem sou triste, sou poeta), diz que “é assim pensando que Milton Nunes Loureiro nos entrega inteira, na simplicidade e na harmonia dos seus versos a sua alma de poeta que vibra, que se exalta num canto de amor à vida, e em sonhos se eleva e mais se eleva ainda, buscando as infinitas alturas onde paira, sublime, a inspiração”.

Milton Nunes Loureiro
Milton Nunes Loureiro

Em uma trova de amor, Milton revela seu romantismo:

Beijos são taças ardentes,
Onde com todo esplendor,
Os namorados, frementes,
Tomam champanhe de amor…

Canta em versos as delícias de ser poeta…

O poeta em sua lida,
Ainda que o mundo o afronte,
Vence as distâncias da vida
E vai além… do horizonte…

… e o humor safado:

Nuca vi coisa mais jeca,
disse o sapo num lamento:
‒ Por que ver a perereca
Só depois do casamento?…
(Negritos no original)

Esse era o Milton, um amigo e cantagalense de coração que nos deixou, aos 88 anos, num triste 2011, mas ficaram os seus versos eternos, que “matam” a nossa saudade..

Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

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