Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Mais um Natal se aproxima, mas que é o Natal? Será o dia de comer bem, beber bons vinhos, reunir os parentes e amigos, conversar bastante e rir muito? Tudo isso é ótimo e faz parte da vida em comunidade, afinal estamos comemorando o nascimento de Jesus, o Emanuel, aquEle que veio para redimir a humanidade de suas falhas, seus erros, seus pecados, ocorridos desde a criação do homem. Todavia, o Natal é muito mais que tudo isso, o Natal é dia, principalmente, de reflexões e orações.
Como andam os acontecimentos um pouco mais de 2.000 anos depois do nascimento de Jesus?
Narra o grande São Lucas: “Quando estavam ali, chegou o tempo do parto. Ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar na hospedaria” (Lc 2, 6-7).
Hoje, algumas vezes, os noticiários mostram que mulheres pobres dão à luz no interior de veículos da polícia, dos bombeiros, em táxis ou nas ruas, por falta de vagas nas maternidades públicas. São as Marias de hoje!
Lucas continua: “Havia naquela região pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho. Um anjo do Senhor lhes apareceu, e a glória do Senhor os envolveu de luz. Os pastores ficaram com muito medo. O anjo então lhes disse: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor!” (Lc 2, 8-11).
Os pastores não eram bem vistos pela sociedade da época, eram pessoas de pouca higiene, pobres, que viviam nos campos junto aos seus carneiros, mas foram os primeiros a receber a grande notícia. Deixaram tudo e partiram para adorar o Menino na estrebaria. E era inverno!
Hoje, não são os pastores, mas os moradores de rua que não são bem vistos pela sociedade; vivem dentro das cidades totalmente marginalizados, sem alimentos e sem teto, dormindo sob as marquises, envolvidos em cobertores pelejas; alguns são espancados, outros recebem banhos de água fria em pleno inverno e um já foi queimado com gasolina e fogo, em Brasília: era um índio.
Ainda escreve Lucas: “De repente, juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste cantando a Deus: ‘Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz aos homens de boa vontade‘” (Lc 2, 13-14).
O que vimos no século passado e nesse é a invasão de países menores pela maior potência militar do mundo, com destruição de uma civilização de mais de 5.000 anos, cujos museus foram saqueados. É a tomada de parte de um pequeno país por outro muito maior e melhor armado. É a concentração de tropas militares de um gigante bem armado nas fronteiras de uma pequena nação. É o domínio do mais fraco pelo mais forte em total desrespeito a autonomia do menor, morrendo nesses episódios parte da população civil. Onde está a paz cantada pelos coral de anjos?
Mateus escreve: “Quando Herodes percebeu que os magos o tinham enganado, ficou furioso. Mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os territórios vizinhos, de dois anos para baixo, de acordo com o tempo informado pelos magos” (Mt 2, 16).
Aqueles foram mortos a espadas. Hoje, são mortos nas escolas ou dentro de suas casas, por tiros de fuzis ou de pistolas, nos confrontos entre policiais e traficantes nas grandes cidades, com idade maior. Ou morrem de distrofia alimentar, por falta de alimentos de origem protéica com preços cada vez mais elevados, inacessíveis às camadas mais pobres do Brasil.
Tal situação me faz lembrar um livro de Josué de Castro que li na minha juventude. Quando a Índia era dominada pela Inglaterra, todo o arroz produzido no país asiático era exportado para outros países do mundo, enquanto o povo da Índia morria de fome. No Brasil está acontecendo algo semelhante!
Ontem, li em um dos jornais do Rio de Janeiro dados estarrecedores em relação ao Brasil:
- 13,5 milhões de desempregados;
- 7,8 milhões com oferta de trabalho insuficiente;
- 5,1 milhões de desalentados;
- 40 % de brasileiros na informalidade;
- A renda do trabalhador caiu 11%;
- A inflação chegou a 10%;
- A gasolina em um ano subiu 50%;
- 19 milhões passam fome no Brasil.
Será o Brasil um país cristão? Será esse o Brasil que queremos? Tudo isso contraria os ensinamentos de Cristo pregados na Palestina durante três anos e difundidos ao mundo pelo cristianismo.
As estatísticas mostram que na população mundial existem cerca de 2.600 milhões cristãos (30%) da população mundial. Chego à conclusão que são cristãos mas não seguidores do que Cristo ensinou. Se fossem, nosso mundo seria muito mais agradável.
Quando tinha 26 anos de idade conversei longamente com um padre da Companhia de Jesus, era gaúcho, tinha a minha idade e uma boa cultura. Já faleceu. Em dado momento ele me disse, causando-me surpresa e espanto: “a missão do Cristo fracassou”. Fiquei sem entender. Hoje, 60 anos depois, compreendi o que ele desejou falar. Penso do mesmo modo!
Não desejei entristecer o seu Natal. Comemore do melhor modo, pois o Aniversariante do dia merece toda glória e louvor, mas não deixe de pensar e refletir sobre o que escrevi sobre nosso Brasil. Em 2022 você poderá ajudar a melhorar todo esse quadro social desalentador que ai está. Pense bastante!
Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.