“Nilo Guzzo – o tri-prefeito de Cantagalo”, por Júlio Carvalho

Nilo Guzzo era um camponês, filho de José Guzzo Sobrinho e de Olympia de Mattos Guzzo; o pai de origem italiana e a mãe descendente de portugueses. Foi membro de uma enorme irmandade, formada por 16 irmãos de sangue e dois de criação. Desses, dois faleceram precocemente, uma irmã de nome Auxiliadora, conhecida como Dôra, aos 8 meses, vítima de difteria; e um irmão, Antônio (Antonico), após queda de cavalo, aos quinze anos.

Nascido e criado na zona rural de Cantagalo, Nilo Guzzo, durante grande parte de sua vida, se dedicou aos trabalhos severos da lavoura e da pecuária, em sistema de economia familiar; durante algum tempo, com seus irmãos, transportava para a cidade, em carro de boi, cereais que ajudavam a abastecer a cidade, bem como lenha que era vendida nas padarias e queimada nos fornos de assar os pães.

Mais tarde passou a dirigir caminhões, com viagens ao Rio de Janeiro, no transporte de diversas mercadorias. Durante alguns anos, foi motorista de uma linha responsável pelo transporte diário do leite para a extinta Cooperativa de Laticínios de Cantagalo. Dizem alguns da época que Nilo Guzzo, não sabendo escrever, guardava, mentalmente, todas as solicitações dos produtores de leite, levando todas as encomendas no retorno. Sempre solícito, foi conquistando amizades e admiração daqueles que servia.

Em 1965, Nilo Guzzo, o camponês, resolveu ingressar na vida política de Cantagalo. Candidatando-se à Câmara de Vereadores, obteve expressiva votação. Foram eleitos seis vereadores do primeiro distrito e cinco dos outros distritos. Nilo Guzzo sugeriu para presidente da Câmara um vereador do interior. Sendo sua ideia criticada por alguns do primeiro distrito, Nilo Guzzo e mais os cinco vereadores distritais elegeram Joaquim Mauricio de Souza Carvalho, o candidato mais votado naquela eleição, presidente da Câmara Municipal de Cantagalo.

Os adversários criticavam que Nilo Guzzo não sabia escrever, que sua assinatura era igual ao número 1033; todavia, o vereador não se importava com as críticas. Criado o Mobral, Nilo Guzzo frequentou o curso no Lameira de Andrade. Com isso, conquistou mais admiradores e eleitores entre seus colegas de turma.
Como vereador, apresentou Projeto de Lei considerando a Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Cantagalo instituição de utilidade pública, isenta do pagamento de taxas e tributos municipais. Projeto aprovado por unanimidade na Câmara Municipal de Cantagalo.

 

 

Em 1970, Nilo Guzzo foi eleito vice-prefeito de Cantagalo, como companheiro de chapa de Antônio Carlos Gonçalves, por um período de dois anos. Foi um vice participativo e ativo, responsável pela Patrulha Mecanizada, criada naquela governo municipal; deu ampla assistência às estradas vicinais de Cantagalo, conquistando mais admiradores pelo interior cantagalense.

Em 1972, é eleito prefeito de Cantagalo, ocupando o executivo cantagalense de 1973 a 1976. No terceiro ano do seu governo, é inaugurada a fábrica de cimento Rio Negro S/A., do grupo Votorantim, em Euclidelândia, 3º distrito de Cantagalo, passando nosso município a ser o maior produtor de cimento do estado do Rio de Janeiro. A fábrica oferecia, inicialmente, cerca de 400 novos empregos à população da região.

Ao mesmo tempo, as Cooperativas de Laticínios de Cantagalo e Boa Sorte funcionavam a todo vapor, exportando leite pata vários pontos do estado e fabricando manteigas de excelente qualidade; enquanto a fábrica de Massas Alimentícias Nádia e a CIPAC, no 1º distrito, e a de Artefatos Vegetais, no 2º distrito, funcionavam plenamente.

Em 1974, estando a Casa de Caridade de Cantagalo em dificuldade financeira para manter o Serviço de Pronto Socorro funcionando durante 24 horas, o prefeito Nilo Guzzo assinou um convênio com duração de 36 meses assumindo o custo do Pronto Socorro.

Por mais duas vezes, Nilo Guzzo foi eleito prefeito de Cantagalo, ocupando o executivo de 1983 a 1986 e de 1993 a 1996. Manteve sempre o seu estilo de homem simples, comunicando-se com todas as camadas sociais, desprovido de qualquer vaidade.

 

 

Nilo Guzzo foi casado, em primeiras núpcias, com a senhora Zilda Estorani Guzzo, resultando do casamento os filhos Zoeth, Zilda Helena, Nilo José, Nelson Henrique, Maria Emília, Júlio Cesar e Jorge Antônio. Durante o segundo mandato, a esposa faleceu. Anos depois, casou-se com Carmen Helena Felippe de Jesus, sua colaboradora até o final de sua vida.

Durante os dez anos que ocupei o cargo de provedor da Casa de Caridade de Cantagalo, sempre contei com o apoio do prefeito Nilo Guzzo. Inicialmente, com um vasto serviço de terraplenagem, adequando a área para receber a nova construção e, posteriormente, no transporte de 1.500 sacos de cimento doados pela Votorantim. Interessante que éramos adversários políticos, mantendo sempre um bom relacionamento exigido pela democracia.

Anos depois, estando o Hospital de Cantagalo com dificuldade financeira para quitar as prestações do empréstimo com a Caixa Econômica Federal (F.A.S.), atendendo apelo do Provedor Manoel Francisco de Paula Bom (Tatico), reuniu todos os recursos financeiros possíveis da Prefeitura Municipal de Cantagalo, quitando de uma única vez o débito do hospital.

Nos doze anos que administrou o município de Cantagalo, Nilo Guzzo realizou diversas obras: manutenção de 36 escolas municipais, com 1.075 alunos, apoio aos estabelecimentos estaduais de ensino, investimento na Biblioteca Pública Municipal, apoio à Semana Euclidiana, realização dos Primeiros Jogos Florais de Cantagalo (iniciativa da Prof.ᵃ Amélia Thomaz), repasse de recursos financeiros para o Mobral, realização da Feira de Amostras de Cantagalo, realização do Concurso Senhorita Estado do Rio, preparo do solo e saneamento da Avenida do Contorno, saneamento do Bairro São José com empréstimo do FAS; avenida Jornalista José Naegele, rua Prof.ᵃ Amélia Thomaz e rua Nelson de Paula (estas três no Cantelmo). Calçamento com pedra portuguesas do centro de Cantagalo. Água e rede elétrica no Bairro São José. Calçamento e rede de esgotos em várias ruas de Cantagalo e dos distritos. Trinta pontes de concreto nos cinco distritos de Cantagalo.

Um governo que constrói pontes visa aproximar o povo, por isso, após o velório do corpo de Nilo Guzzo, no prédio da Prefeitura de Cantagalo, ao chegar o carro da funerária, o povo fez questão de conduzir a urna nos braços até o cemitério, seguida por uma multidão jamais vista em um sepultamento. Era o reconhecimento do povo ao líder que partia rumo à eternidade!