Prefeitos se reúnem para impedir a construção de presídio em Conceição de Macabu
É preciso ver para crer. Essa é uma crença mais difundida na sociedade atual. Talvez por isso se entenda como violência somente agressão física. Hematomas, cicatrizes, feridas, arranhões e cortes são algumas das formas que a agressão contra a mulher se faz visível.
Quando o problema é de clareza solar, o diagnóstico acaba sendo menos complexo. Olho roxo? Algo aconteceu, está claro.
A questão se torna mais delicada ao se combater, em um primeiro momento, o invisível. O oculto pode trazer consequências até mais graves, porque se pode demorar muito tempo para entender sua existência.
A Lei Maria da Penha, de 2006, marco na proteção feminina, prevê algumas formas de violência doméstica e familiar contra a mulher. Entre elas, está a psicológica.
Apesar disso, somente em 2021 o Código Penal Brasileiro incluiu o artigo 147-B, que discriminou essa forma de agressão, ou seja, a não física. Causar “dano emocional à mulher, prejudicando-a e perturbando-a a seu pleno desenvolvimento, ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação”… tudo isso é violência psicológica.
Essa modalidade de agressão sempre esteve presente em nossa sociedade, mas agora é que, com a possível punição da sua existência, pode-se falar abertamente sobre o tema, que, em muitas ocasiões, é a porta de entrada para agressão física. Resumo: é crime violência psicológica.
A manipulação emocional das mulheres pode gerar inúmeros problemas emocionais, como depressão, crise de ansiedade, perda de propósito de vida, baixa autoestima. É como um lento asfixiar da sua própria existência.
Essa tática pode levar a mulher a se sentir dependente do agressor, dificultando a saída dela do relacionamento. Como em uma guerra, o adversário é enfraquecido, para não conseguir resistir.
Em meio ao turbilhão emocional, o isolamento da mulher, afastando-a de sua base de apoio, é corriqueiro, ainda que se dê de forma velada, como forma de proteção. As amigas são distanciadas, pois, na visão do agressor, não são boas companhias, impedindo a vítima de pedir ajuda. Somos seres sociais, o contato com o outro é o que nos engrandece.
Não é raro que, ao se queixar do seu estado emocional, a mulher seja desacreditada. É o famoso “mi-mi-mi”. Alguém se identifica com essas pequenas nuances narradas? Pois é, o índice de violência contra o gênero feminino ainda é elevado e não tem classe social.
Precisamos falar sobre isso. Somente pela constatação do problema é que é possível identificar a solução. Se há suspeita de que uma mulher esteja sendo vítima de violência, há algumas medidas de imediato que podemos tomar.
É importante demonstrar que ela não está sozinha, mediante diálogos cuidadosos até que haja segurança para falar abertamente sobre o sofrimento. Além disso, ouvir sem julgar, com interesse e atenção, faz com que a mulher se sinta acolhida e vista. É necessário que a sociedade esteja disponível, sem desacreditar ou desvalorizar a palavra da vítima.
Ninguém faz nada sozinho, diz um saber popular. Graças à imensidão humana e social de líderes, existem hoje diversos órgãos para o atendimento e auxílio adequados àquelas que passam pelo caos.
Ao olharmos para o nosso passado, muitas mãos foram estendidas para que a caminhada pudesse avançar. A vida é uma via de mão dupla, em alguns momentos, a mão a ser estendida deve ser a nossa.
Quando uma única mulher é agredida, nós perdemos como civilização. Quando uma única mulher é ajudada, nós crescemos como ser humano.