Superthal e Caravana da Coca-Cola fazem noite mágica em Bom Jardim
Desde que me recordo por gente, em Dia de Finados sempre chove. Pelo menos é assim na minha cidade. Quando se aproxima o 2 de novembro, sinto um dia cinzento e coberto por garoa. Na verdade, em minha memória, é assim que está gravado. Uma data de saudade dos entes queridos.
Não é só de ausência que se alimenta esse dia. Lamenta-se a morte daqueles que nem sequer conhecemos, principalmente quando oriunda de histórica repressão que insiste em se manter viva. Algumas ideias bem que poderiam morrer e não choraríamos em finados.
Em 2023, foram registrados 495 casos de feminicídio em sete estados brasileiros (BA, CE, SP, PE, RJ, MA e PI), de acordo com o boletim divulgado pelo Elas Vivem, da Rede de Observatórios de Segurança. A causa dessas mortes? O fato de serem mulheres.
Companheiros e ex-companheiros são os principais autores desse tipo de crime, que, no geral, não ocorrem de repente. A violência sofrida é escalada, tendo início com sutis abusos psicológicos; depois se tornam físicos, até se escalarem para situações mais graves.
Em mais uma tentativa de coibir esse dado histórico, em outubro de 2024, entrou em vigor o que se denominou “pacote antifeminicídio”, que alterou legislações, como o Código Penal. Entre as inovações, está a classificação desse delito (artigo 121-A) como autônomo e hediondo, além de a pena ter sido elevada para o mínimo de 20 anos e a máxima de 40 anos.
Sem celebrar a famigerada lógica populista de se aumentar a pena para conter a criminalidade (uma ótima vitrine para a pauta de preocupação com questões sociais), carimbar com gravidade matar mulher por menosprezo ao sexo feminino relembra que essa violência é fruto de um sistema de dominação masculina, com raízes históricas. O tema é multidisciplinar.
É relembrar que todos nós falhamos. A sociedade falhou. O governo falhou. A Educação falhou. Tanto com as vítimas quanto com os autores. Há décadas, essa problemática vem ultrapassando gerações, apesar de, atualmente, ser alvo de mais atenção e críticas contundentes.
A banalização de relacionamentos abusivos e a manutenção de estruturas patriarcais devem ser alvo de questionamentos desde o seio familiar a políticas públicas, para conscientização e a extinção de preconceitos quaisquer.
Quando se chora por uma mulher assassinada, chora-se pela falência de nós como sociedade civilizada. Quando se chora em finados por uma mulher morta, chora-se também pelas falhas no sistema educacional. Neste dia 2 de novembro, como em tantos outros, alguém dirá: “Era seu parente? Morreu por quê?” E a resposta será: “Era mulher. Apenas por isso.”