Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Recentemente ocorreu a reunião do G7, grupo dos sete países mais ricos do mundo, que possuem 64% da riqueza líquida do mundo. Logo depois foi a reunião do G20, que congrega os 20 países possuidores de 85% das riquezas mundiais. Como, atualmente, o globo terrestre é dividido em 195 países chega-se à conclusão que 175 nações são donas de apenas 15% das riquezas mundiais, daí as injustiças sociais que dominam o nosso planeta. O que acontece com os países também ocorre nos grupos humanos, uma minoria tem tudo e a maioria pouco ou nada possui, daí as grandes injustiças sociais. “Porca miséria”!
O G3 que hoje quero comentar não tem nada com países nem com riquezas, refere-se a pessoas que, por coincidência, tinham o nome iniciado pela letra G e que prestaram importantíssima colaboração para o desenvolvimento do Hospital de Cantagalo.
Durante dez anos o Conselho Deliberativo do Hospital de Cantagalo me deu a árdua tarefa de ser o Provedor da centenária instituição assistencial do nosso município, acumulando funções administrativas com atividades médicas, que já eram excessivas. Se na parte médica havia pessoal treinado adequadamente nas diversas funções, no setor administrativo havia carência.
Alguns anos antes, quando meu pai era o Diretor Médico, o Hospital conseguiu a cessão de um funcionário do DER-RJ, que trabalhava como enfermeiro na 8ª Residência, homem de cerca de sessenta anos, que havia possuído farmácia em São Sebastião do Paraíba, Campo Alegre e Cantagalo, possuidor de caráter corretíssimo, aliado a trabalho meticuloso e detalhista, que passou a ser o responsável pela tesouraria do hospital, onde permaneceu por quase 20 anos, só se afastando quando surgiram algumas doenças que o impossibilitaram de trabalhar. Quando o hospital tinha um número menor de pacientes, respondia também pelo setor de pessoal. O Hospital de Cantagalo muito deve a esse cidadão por seu trabalho honesto e perfeito que realizou. Seu nome era Geraldo de Oliveira Cardoso.
Com o aumento das atividades hospitalares o quadro de funcionários aumentou surgindo a necessidade de um gerente. Na época não havia em Cantagalo nenhum administrador de empresa, ficando difícil encontrar alguém para exercer essa função. Alguns membros da Loja Confraternidade Beneficente de Cantagalo, que eram do Conselho Deliberativo do Hospital, lembraram de um coronel reformado do Corpo de Bombeiros Militares do RJ, que residia em nossa cidade. A ideia foi aprovada e o candidato convidado aceitou, passando a ser administrador do hospital. Figura boníssima, sabia administrar, conquistando a amizade de funcionários e pacientes do hospital.
Certa vez, a conta do armazém estava aumentando além do previsto. Fiz uma reunião com ele, solicitando que acompanhasse de perto a dieta dos doentes e a cozinha do hospital para que não ocorressem gastos excessivos. Olhou para mim e disse-me: “Doutor, mas isso eu não entendo”. Respondi: “Calma, não é difícil“. No dia seguinte levei para ele uma revista sobre dieta hospitalar e lhe disse: “Lleve essa revista, leia o que puder sobre a parte das dietas hospitalares para depois conversarmos“. Na outra manhã, ao chegar ao hospital, ele veio sorrindo e me disse: “Doutor, eu li a revista até tarde da noite, pode deixar comigo, não é difícil, é o mesmo que fazia no rancho do quartel”. Passou a acompanhar o gasto da cozinha e a despesa com o mercado caiu. Assim era o coronel, boa vontade acima de tudo: às sete horas, diariamente, estava no hospital, afinal era militar.
Acompanhou de perto a construção do bloco de apartamentos, comunicando-me tudo que acontecia. Obra que só se realizou graças ao saudoso Sr. Gildo Camino, que sugeriu a sua construção, doando todo material pesado: pedras, tijolos e madeira. O coronel colaborou com o Hospital de Cantagalo até o dia em que faleceu subitamente. Seu nome era Geraldo Penna da Fonseca, filho da Prof.ª Corina Penna da Fonseca, que alfabetizou e educou inúmeras gerações cantagalenses.
Naquele tempo, o melhor convênio do hospital era o do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS). Havia convênios, também, com a Cassi e a Caberj, mas eram pouco usados, uma vez que os bancários tinham boa saúde.
A Previdência Social resolveu realizar uma reclassificação dos hospitais conveniados baseados em três setores: instalações físicas, parte administrativa e setor de exames complementares. Como o hospital estivesse funcionando em um velho prédio em forma de T, senti que nossa classificação seria das piores, caindo os valores pagos pela previdência social. Resolvi procurar quem pudesse melhorar nossa situação.
Como trabalhasse na maternidade de Nova Friburgo, indicaram-me um jovem que tinha curso de administração de empresas e especialização em administração hospitalar. Resolvi procurá-lo, sendo o mesmo contratado para organizar a parte administrativa de acordo com os critérios da Previdência Social, vindo a Cantagalo duas tardes por semana.
A comissão de avaliação chegou ao hospital à noite, por volta das 21h00, permanecendo por cerca de três horas, examinando todos os detalhes exigidos. Na parte física, como já era esperado, a pontuação foi baixíssima. Na parte administrativa, o hospital obteve todos os pontos (arquivo médico, estacionamento para clientes e para médicos, centro de estudos, sala de reuniões, etc.) e, nos exames complementares, conseguimos a quase totalidade dos pontos, graças ao Laboratório Rodolfo Albino, do Dr. Osmar de Souza Vieira, que além dos exames de análise clínica realizava exames citológicos e anatomopatológicos, funcionando em prédio anexo ao hospital. Em radiologia, o hospital também obteve bom número de pontos, possuindo um bom aparelho de Raios-X, comprado na administração do Provedor Sr. Nelson Marcelino de Paula, tendo como responsável técnico Dr. Humberto Schwartz. Resultado: fomos classificados como hospital de categoria 2, ficando como um dos melhores da região, em virtude da organização feita por um jovem administrador de empresas.
Esse elemento também foi importantíssimo no processo dos contatos com firmas do Rio de Janeiro durante a construção do novo Hospital de Cantagalo, com 78 novos leitos e um amplo centro cirúrgico e obstétrico. Sempre que era necessário, estava pronto a vir a Cantagalo ou a viajar ao Rio de Janeiro, levando documentos solicitados com urgência pela Caixa Econômica Federal ou por algumas das firmas envolvidas no longo processo de empréstimo que se arrastou por três anos. Seu nome: Geraldo Vasconcellos.
A coincidência fez com que três pessoas de nome Geraldo fossem fundamentais para a organização administrativa do Hospital de Cantagalo, daí o artigo G3. O trabalho dos três gerou mais recursos financeiros para a instituição, tornando mais positiva a contabilidade realizada pelo contador José Wanderlan Guzzo, cidadão competente e correto que atendia o Hospital de Cantagalo em qualquer horário que fosse necessário, sempre sorridente e bem disposto.
Hoje, os quatro já passaram para a vida eterna, deixando uma grande saudade, mas o Hospital de Cantagalo muito deve a esse quarteto que se dedicou de corpo e alma para o crescimento da centenária instituição hospitalar. A eles a gratidão!
Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.