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No artigo Envelhecer Devagar, deixei de citar um octogenário, carioca da gema, destaque internacional; todavia, minha omissão foi intencional, uma vez que, na minha opinião, esse cidadão merece um artigo especial por seu trabalho intelectual na música, na literatura, no teatro e no cinema. Trata-se do compositor Chico Buarque.
Nascido na cidade do Rio de Janeiro, no dia 19 de junho de 1944, filho do sociólogo Sérgio Buarque de Holanda e da pianista Maria Amélia Cesário Alvim, Chico era componente de uma irmandade de sete membros. Quando o menino tinha dois anos, o pai foi nomeado diretor do Museu do Ipiranga, São Paulo, para onde a família passou a residir.
Em 1953, quando tinha nove anos, Chico Buarque passou a residir na Itália, quando seu pai, que além de sociólogo, era historiador, passou a lecionar História na Universidade de Roma. Como se observa, a infância do compositor foi movimentada, entrando em contato com hábitos e culturas diversas.
Desde jovem, Chico Buarque gostava de música, talvez por influência de sua mãe, que era pianista. Ao mesmo tempo, na adolescência, se dedicava à leitura de obras de clássicos da literatura francesa, alemã e russa, adquirindo uma boa cultura.
Cursou três anos de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, abandonando o curso em 1964, quando a repressão militar chegou à universidade. Nessa época, lançou Sonho de um Carnaval e, também, Pedro Pedreiro. No ano seguinte, fez a trilha sonora para a novela da TV Record, Prisioneiro de um Sonho.
Chico Buarque declarou que ter frequentado a Faculdade de Arquitetura foi fundamental para aguçar sua sensibilidade e ver a cidade com outro olhar. Tudo contribuindo para suas composições musicais e obras literárias.
Em 1966, com a música A Banda, na interpretação de Nara Leão, ganhou o primeiro prêmio no Festival de Música Popular Brasileira, na TV Record. Dois anos depois, 1968, consegue nova vitória no 3º Festival Internacional da Canção, com a música Sabiá, em parceria com Tom Jobim.
Entre seus grandes sucessos musicais encontramos: Noite dos Mascarados (1967), Cotidiano (1971), Apesar de Você (1970), Construção (1971), O que será (à flor da pele) (1976), Olhos nos Olhos (1976), João e Maria (1977), Pedaço de Mim (1978), Cálice (1978), Gení e o Zepelim (1978), Eu te amo (1980).
Chico Buarque foi autor do fundo musical dos filmes: Quando o Carnaval Chegar, Vai Trabalhar Vagabundo, Se Segura Malandro, Ópera do Malandro, Bye Bye Brasil, Dona Flor e Seus Dois Maridos e Eu Te Amo. O mesmo acontecendo com o filme humorístico Os Saltimbancos Trapalhões.
Chico Buarque é autor de diversas músicas de protesto durante o período dos governos militares, sendo várias vetadas pela censura da época, o que obrigou o autor a usar um pseudônimo, Julinho da Adelaide, compondo as músicas: Milagre Brasileiro, Acorda Amor e Jorge Maravilha. Nesse período, chegou a ser preso pelo DOPS, resolvendo se auto exilar na Itália. Em 1969, Chico Buarque participou da Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, protesto contra o regime militar e a volta da democracia.
Se não bastasse o sucesso como compositor musical, Chico Buarque também se dedica à literatura, com várias obras publicadas e alguns prêmios literários importantes. Durante o período escolar, escrevia crônicas para o jornal do Colégio Santa Cruz, de São Paulo.
Publicou as seguintes obras: “Chapeuzinho Amarelo”, livro-poema para crianças; “A Bordo do Rui Barbosa”; em 1991, publica o livro “Estorvo”, que no ano seguinte ganha o Prêmio Jabuti como melhor romance; em 1995, escreve o livro “Benjamim”; em 2004, o romance Budapeste, prêmio Jabuti como o Livro do Ano; em 2009, o livro “Leite Derramado” recebe e o mesmo prêmio.
Além dos destaques na música e na literatura, Chico Buarque também escreveu peças teatrais e participou do cinema brasileiro. Em 2019, o brasileiro recebeu o Prêmio Camões, principal premiação da língua portuguesa, pelo conjunto de sua obra.
Certa vez, quando jovem, Chico Buarque declarou: “Meu sonho era cantar como João Gilberto, fazer música como Tom Jobim e escrever letras como Vinícius de Moraes”.
Parece que Deus lhe concedeu tudo isso!