“A arte de transformar comportamentos em resultados parte 30: o impacto da comunicação não violenta (CNV)”, por Jalme Pereira

Comunicação não violenta

A comunicação é uma habilidade fundamental que permeia todas as nossas interações, sejam elas pessoais ou profissionais. No entanto, a maneira como nos comunicamos, algumas vezes pode ser considerada agressiva ou violenta, gerando conflitos e mal-entendidos. Quando a comunicação é acompanhada por críticas, julgamentos, sarcasmo e ameaças, ela causa dor e desconforto para outras pessoas. De acordo com um estudo da Myers-Briggs Assessment, 85% dos trabalhadores enfrentam conflitos no trabalho e programas que incorporam CNV demonstram queda de até 60% nos conflitos internos após a implementação de treinamentos de CNV.

A comunicação, quando usada de forma violenta, pode se manifestar de diversas formas, desde discussões acaloradas até comentários passivo-agressivos. Quem pratica a comunicação violenta, frequentemente sofre danos nas suas relações interpessoais e pode nem perceber o impacto negativo de suas palavras e ações, gerando conflitos e situações desfavoráveis.

O impacto da comunicação violenta

Embora possamos não considerar como “violenta” a maneira de falamos, muitas vezes, as palavras, o tom de nossa voz ou mesmo o ritmo que empreendemos na comunicação, podem induzir a mágoas e dor, para os outros ou para nós mesmos. As pessoas que estão em ambientes onde predomina esse tipo de comunicação, frequentemente relatam sentir ansiedade, estresse, baixa autoestima e até sintomas de depressão. A hostilidade constante cria um ambiente tóxico, prejudicando a confiança e o respeito mútuo.

Quatro formas de comunicação que podem ser prejudiciais aos relacionamentos:

1) Fazer diagnóstico, análise, julgamento, crítica e comparação: envolver-se em julgamentos e comparações, normalmente, criam ressentimentos e afastamentos.
2) Negar sua responsabilidade: não assumir a responsabilidade pelos próprios sentimentos e ações, colocando a culpa nos outros.
3) Fazer exigências: fazer pedidos como se fossem ordens, o que pode ser percebido como uma forma de controle.
4) Pensar baseado em “quem merece o que”: julgar as pessoas com base no que pensamos que elas merecem, o que pode levar a injustiças e desentendimentos.

Viver sob a sombra de uma comunicação agressiva é extenuante. Aqueles que são alvos de comunicação violenta tendem a se sentir desvalorizados, oprimidos e inseguros. Esse ambiente pode levar a sentimentos de raiva, tristeza e isolamento, afetando a saúde mental e emocional das pessoas envolvidas.

Porque as pessoas praticam ou toleram a comunicação violenta

Diversos fatores contribuem para a prática ou tolerância da comunicação violenta. Algumas pessoas, por exemplo, cresceram em ambientes onde esse tipo de comunicação era a norma, enquanto outras, costumam reagir a estresses ou frustrações. Estudos realizados pela American Psychological Association indicam que a exposição contínua a uma comunicação violenta pode levar a altos níveis de estresse e ansiedade. Em contraste, ambientes que adotam CNV mostram uma redução de 32% nos níveis de estresse dos funcionários. Além disso, a falta de habilidades de comunicação eficazes e empáticas pode levar as pessoas a recorrerem a métodos agressivos para expressar suas necessidades e sentimentos.

Praticando uma comunicação não violenta

A mudança começa com a conscientização e o desejo de melhorar. Para aqueles que querem reduzir o potencial de violência no processo de comunicação, é crucial reconhecer o impacto de suas palavras e ações e buscar maneiras de se comunicar de forma mais compassiva. Para aqueles que sofrem com a comunicação violenta, aprender a estabelecer limites e buscar apoio é fundamental. O processo de produzir ou reagir a uma comunicação não violenta deve passar por quatro etapas:

1) Observação: observe o que está acontecendo de fato, sem julgamentos e sem juízo de valores. “Quando combinamos observação com avaliação, as pessoas tendem a receber isso como crítica.”
2) Sentimentos: identifique o que está sentindo em relação ao que se observa. Nomeie para si mesmo o que está sentindo: frustração, alegria, tristeza, raiva, etc. “Expressar nossa vulnerabilidade pode ajudar a resolver conflitos.”
3) Necessidades: informe suas necessidades, valores e desejos, que estão conectados aos sentimentos que nomeou anteriormente. Em outras palavras, quais são as reais necessidades que lhe fizeram sentir dessa maneira? “Quando expressamos nossa necessidade, temos mais chances de vê-las satisfeitas.”
4) Pedido específico: peça o que deseja concretamente, de forma que atenda às suas expectativas. Não espere que o outro adivinhe as suas necessidades e desejos. “É comum não termos consciência do que estamos pedindo.”

Exemplos de comunicação não violenta no dia a dia

1) No trabalho: em vez de dizer “Você nunca entrega seus relatórios a tempo“, diga “Eu me sinto preocupado quando os relatórios não são entregues no prazo, pois isso impacta o nosso cronograma. Poderia me informar se há algo que está dificultando a entrega no prazo?
2) Em casa: em vez de dizer “Você nunca ajuda com as tarefas domésticas“, diga “Eu me sinto sobrecarregado quando as tarefas domésticas não são compartilhadas. Poderíamos estabelecer um cronograma para dividir as tarefas?
3) Entre amigos: em vez de dizer “Você sempre cancela nossos planos“, diga “Eu me sinto decepcionado quando nossos planos são cancelados de última hora. Poderíamos tentar agendar nossos encontros com mais antecedência para evitar cancelamentos?

Benefícios da comunicação não violenta

Praticar a comunicação não violenta traz inúmeros benefícios, como relacionamentos mais saudáveis, aumento da autoestima, redução de conflitos e um ambiente mais harmonioso. A CNV promove a compreensão mútua e fortalece os laços entre as pessoas, criando um clima de respeito e cooperação.

Comece hoje mesmo a transformar suas interações e a implementar os princípios da comunicação não violenta no seu dia a dia. Ajude a construir um mundo onde a compreensão e o respeito sejam a base de todas as relações.

 

Jalme Pereira é músico, palestrante, desenhista e trabalha na Universidade Veiga de Almeida (UVA)
Jalme Pereira é músico, palestrante, desenhista e trabalha na Universidade Veiga de Almeida (UVA)

 

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