O Leite, por Júlio Carvalho

 

Durante o sexto ano da Faculdade de Ciências Medicas (UERJ), em 1960, o curso de pediatria era no Instituto Fernandes Figueira, extraordinária instituição situada no Rio de Janeiro, na Av. Rui Barbosa, no Flamengo, que reunia os serviços de Obstetrícia, Ginecologia e Pediatria, pertencendo ao Instituto Oswaldo Cruz, hoje Fiocruz.

As aulas ministradas pelo saudoso mestre Mário Olinto, além de maravilhosas, eram bastante práticas. Fiquei tão empolgado com os ensinamentos do mestre que pensei em ser Pediatra; comprei dois livros do Prof. Cesar Perneta e mais três de outros autores, todavia a realidade nacional mudou minha opção.

Numa das aulas, sobre alimentação das crianças, o Prof. Mário Olinto falou sobre a importância e o valor do leite na nutrição infantil e também do adulto, chegando a dizer que o leite só não poderia ser considerado um alimento completo por ser carente em ferro e vitamina C.

Naquele tempo, trabalhava como acadêmico oficial da Suseme, no Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, que era considerado zona rural do Estado da Guanabara. Era comum, contrariando a finalidade do Pronto Socorro e, talvez, por falta de serviços de Pediatria, as mães levarem seus filhos com menos de um ano de vida ao serviço de emergência.

Era frequente, durante o exame, verificar que muitas crianças apresentavam quadro de desnutrição pluricarencial, em outras palavras, fome. A mãe recebia orientação sobre a alimentação adequada para o filho e depois, com fisionomia de resignação dizia: “Doutor, o que meu marido ganha não dá para comprar esses alimentos para meu filho”.

Cheguei à conclusão que a maior parte das doenças infantis era de ordem social e não querendo sofrer muito como Pediatra, passei a trabalhar na Maternidade Clovis Corrêa da Costa, no mesmo Instituto Fernandes Figueira, sob a orientação de dois grandes obstetras: Dra. Bertha Rosen e Dr. Amauri Menezes, tendo como companheiro de plantão meu colega de turma Ney Menna Gutterrez, que aliava grande dedicação à competência. Depois de formado voltou para sua terra natal, Miracema, onde já ajudou mais de 15.000 miracemenses chegarem ao mundo, o que motivou uma homenagem da Câmara Municipal, inaugurando na Santa Casa uma placa comemorativa.

Voltando à importância do leite como alimento as estatísticas mostram que o hábito de usar leite na alimentação ainda é muito baixo no Brasil, principalmente entre os adultos.

O município de Cantagalo possui um rebanho bovino de cerca de 50.000 cabeças, entre animais de corte e de leite, sendo talvez a maior bacia leiteira da região.

Procurando aproveitar essa riqueza de origem animal, os cantagalenses de outrora tiveram a inteligência de criar cooperativas de laticínios. Durante muito tempo Cantagalo possuiu três cooperativas de leite: Cantagalo, Euclidelândia e Boa Sorte, todavia, em virtude da inépcia, da incompetência e de outros defeitos de alguns dirigentes, hoje não possuímos nenhuma. A primeira a desaparecer foi a de Euclidelândia; vendida para a Spam como medida salvadora e, logo depois, fechada.

Atualmente, a maior parte do leite produzido em nosso município é enviado para a Cooperativa de Macuco, proprietária, também, da fábrica de Quissamã; com a recepção diária de 150.000 litros de leite a Cooperativa de Macuco tem a capacidade de produzir mais de quarenta produtos derivados do leite que são distribuídos por todo estado do Rio de Janeiro.

A Cooperativa de Macuco surgiu em 1939; durante a crise do café vinte produtores de leite compraram a Fazenda da Glória e fundaram a Cooperativa Regional Agropecuária de Macuco, passando a comercializar o leite, ocasião em que Macuco fazia parte do município de Cantagalo. Desde então, a Cooperativa passou a ser uma empresa de grande importância para o desenvolvimento econômico do atual município de Macuco.

Cooperativa fundada em 1966.

A Cooperativa sempre esteve preocupada com a parte social de Macuco; nas décadas de 1950 e 1960, sua usina forneceu energia elétrica para Macuco. Em 1990, cedeu o terreno para a construção da rodoviária de Macuco e liberou um galpão para o espaço multiuso da Prefeitura Municipal de Macuco e para sede do Banco do Brasil.

Sempre preocupada em crescer e em bem servir à população, a diretoria construiu nos últimos anos um prédio de sobrado em que funciona no térreo uma loja para venda de todos os produtos fabricados pela firma e, no andar superior, uma cafeteria confortável, onde podemos usar um café de excelente qualidade acompanhado de ótimo pão de queijo.

Nas paredes estão expostas diversas fotos que ilustram a história dessa gigantesca cooperativa desde os primórdios da sua fundação. Chegando a Macuco você não pode deixar de visitar a cafeteria, rua João Brasil, nº 184.

Além dessa cafeteria moderna e posto de venda, a Cooperativa de Macuco possui, ainda, em seu patrimônio: Filiais de Revenda Paraiso, Madalena, Visconde e Quissamã; Posto de Venda São Fidelis e Posto de Venda e Cafeteria Madalena.

Macuco é considerada a capital do leite do Estado do Rio de Janeiro.

Através de uma frota de 40 veículos modernos a Cooperativa de Macuco recolhe o leite nas propriedades de uma extensa região fluminense e distribui os produtos industrializados para todo estado do Rio de Janeiro.

Atualmente a Cooperativa de Macuco possui 1.000 cooperados diretos e 500 indiretos. Se admitirmos que cada propriedade rural tenha dois empregados e cada empregado uma família de quatro pessoas, são 6.000 pessoas que vivem em função da cooperativa, sem falar na família do cooperado.

Por outro lado a Cooperativa de Macuco conta em seu quadro de funcionários com cerca de 280 colaboradores; usando o mesmo critério utilizado acima, são mais 1.120 pessoas dependentes financeiramente da empresa. O que mostra a importância social da Cooperativa de Macuco em vastíssima área fluminense.

Por tudo o que foi escrito a Cooperativa de Macuco é um orgulho de nossa região e Macuco a “CAPITAL ESTADUAL DO LEITE”.

Júlio Carvalho.

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