“O Marechal”, por Dr Júlio Carvalho

Marechal é o mais alto cargo na hierarquia militar do exército, que poucos conseguem conquistar. Somente aqueles que prestaram relevantes serviços à pátria chegam a esse posto.

Cantagalo, nossa terra natal, tem o privilégio de possuir um dos seus ilustres filhos com esse galardão militar; aqui nascido em 29 de maio de 1903 recebendo na pia batismal o nome de Paulo, sendo filho de Antônio Francisco Torres e de Maria Zulmira A. Torres.

Quando Paulo tinha quatro anos, a família transferiu residência para Niterói, passando a residir na fazenda Santo Inácio, onde, hoje, é o bairro São Francisco. Na então capital fluminense, fez seus estudos iniciais no Grupo Escolar Aidano de Almeida, tendo como professora a Sra. Ormezinda Guimarães Correa, que, já muito idosa, declarou à imprensa sobre o seu ex-aluno: “era ótimo aluno, brilhante. Sempre se destacou como o melhor da classe, apesar da timidez e uma certa dose de teimosia”.

Paulo, natural de Cantagalo, era filho de Antônio Francisco Torres e de Maria Zulmira A. Torres
Paulo, natural de Cantagalo, era filho de Antônio Francisco Torres e de Maria Zulmira A. Torres

Aos 17 anos, ingressou no exército brasileiro. Submeteu-se a concurso e foi aprovado para a Escola Militar de Realengo, matriculando-se no curso de artilharia. Em julho de 1922, participando do movimento tenentista, contra a eleição de Arthur Bernardes a Presidência da República e contra a prisão do Marechal Hermes da Fonseca e o fechamento do Clube Militar por Epitácio Pessoa, foi preso e desligado do exército.

Durante o inquérito aberto, o encarregado pelo mesmo queria que ele respondesse que cumprira ordens superiores. Todavia, nosso conterrâneo não aceitou a sugestão, afirmando que participara do movimento conscientemente. Preferiu a punição pelo seu ato.

Afastado da vida militar, fez um curso de química industrial, indo trabalhar em Minas Gerais, em São João del Rey, em uma exploração de manganês. Pouco depois, submeteu-se a concurso público, no Rio de Janeiro, para fiscal do Imposto de Consumo; consegue ser aprovado com boa classificação, mas não é nomeado por haver participado do Movimento Revolucionário de 1922.

Ingressa, em 1927, na Faculdade de Direito da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, sendo diplomado após conclusão do curso, em 1931.
Com a Revolução de 1930, no governo de Getúlio Vargas, os tenentes da Revolta de 1922 são anistiados, reingressando Paulo Torres na Escola Militar; sendo essa sua verdadeira vocação.

Em 1933, é designado para o Segundo Batalhão de Caçadores, em Niterói. No ano seguinte, é promovido a Capitão, tornando-se Instrutor da Polícia Militar do RJ. A seguir, Delegado da Ordem Política do Estado do Rio de Janeiro.

Em 1937, com a criação do Estado Novo por Getúlio Vargas, o Interventor do Estado do Rio de Janeiro, Ernani do Amaral Peixoto, nomeia Paulo Torres para Prefeito de Teresópolis.

Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália. Foto: Durval Jr./wikipedia.org
Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália. Foto: Durval Jr./wikipedia.org

Retornando as atividades militares, após cumprir suas funções no executivo da cidade serrana, Paulo Torres faz o Curso de Estado Maior das Forças Armadas, passando a servir na 8ª Região Militar Norte do Brasil, em Belém, onde comandou a Polícia Militar do Estado do Pará.

Em 1942, o Brasil declara guerra à Alemanha e à Itália, sendo criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), sob o comando do General João Baptista Mascarenhas de Moraes. Nosso conterrâneo, no posto de major, parte para os campos de batalha na Itália, fazendo parte do Estado Maior da Primeira Divisão de Infantaria Expedicionária.

Nos campos de batalha da Itália, fez amizade com outros militares que participaram do comando das tropas brasileiras: Humberto Castello Branco, Zenóbio da Costa e Mascarenhas de Moraes. Durante os combates na Itália, percorreu mais de 400 Km, rumo ao norte italiano, enfrentando o terreno minado pelos alemães, o poder das armas inimigas e as baixas temperaturas, que chegavam, em alguns pontos, a 20 graus negativos. Participou das conquistas de Camaiore, Monte Prano, Fornacci e Coreglia, Monte Castelo, La Serra, Castelnuovo, Montese, Zocca, Marano Su Panaro, Collecchio e Fornoso, batalhas em que nosso exército sofreu 2.000 baixas entre mortos, feridos e desaparecidos.

Terminada a 2ª Guerra Mundial, em 08 de maio de 1945, Paulo Torres, como Adido Militar do Brasil na Itália, comandou o contingente brasileiro, em 1946, na Parada da Vitória, realizada na Praça Trafalgar, em Londres.

Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial
Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial

Em 1952, é promovido a Coronel, passando a comandar o 3º Regimento de Infantaria e Guarnição Federal do Estado do Rio de Janeiro.

Em 05 de agosto de 1954, após o Atentado de Toneleros, em que é assassinado o Major Rubens Vaz, que se encontrava em companhia de Carlos Lacerda, durante o segundo governo de Getúlio Vargas, Paulo Torres é nomeado Chefe de Polícia do Departamento Federal de Segurança Pública, em 10 de agosto de 1954. Com a suicídio de Vargas em 24 do mesmo mês, entrega o cargo, apesar da insistência do Presidente Café Filho para que ele continuasse.

A seguir, é nomeado Governador do Território do Acre, onde permanece durante treze meses. Retornando, assume o comando do 3º Regimento de Infantaria.

Em 1954, é criada a Comissão para Repatriamento dos Mortos do Brasil, sepultados em Pistóia, na Itália. Paulo Torres acompanha de perto os trabalhos da comissão e, em 22 de dezembro de 1960, participa diretamente do translado dos corpos dos 454 brasileiros da Itália para o Monumento aos Mortos da 2ª Guerra Mundial, no aterro da Glória. Longo e emocionante desfile da Praça Mauá ao aterro da Glória, passando por toda Av. Rio Branco, urna a urna funerária, conduzidas por militares brasileiros. O povo em completo e respeitoso silêncio por aqueles jovens patrícios que morreram na luta contra o nazi-fascismo. Dos edifícios, caía grande quantidade de papel picado!

Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.
Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.

Entre os mortos, nosso conterrâneo Miguel Marote Cabral, nascido em Cordeiro, quando era distrito de Cantagalo; portanto Marote deve ser considerado o herói de dois municípios: Cantagalo e Cordeiro.

Naquela época, 1960, cursava o 5º ano da Faculdade de Ciências Médicas (UEG) e fui assistir à merecida e triste homenagem àqueles jovens que perderam suas vidas na estupidez de uma guerra. Até hoje tenho presente em meu pensamento tudo que pude ver do meio-fio da calçada da Av. Rio Branco.

Como a vida militar e política do Marechal Paulo Torres foi longa e intensa, não cabendo apenas em um artigo, voltarei em outra ocasião. Perdão!

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.

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