Superthal e Caravana da Coca-Cola fazem noite mágica em Bom Jardim
“A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso. A palavra foi feita para dizer.”
Graciliano Ramos
No próximo dia 23 celebra-se o Dia Mundial do Livro. Trata-se de uma data escolhida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Seu objetivo é valorizar o livro, incentivar a leitura, homenagear autores e refletir sobre os direitos autorais. Essa data foi selecionada em tributo aos escritores: Miguel de Cervantes (espanhol), Inca Garcilaso de la Vega (peruano) e William Shakespeare (inglês), que faleceram em 23 de abril de 1616.
Aos catorze anos de idade, ganhei, no dia de meu aniversário, o meu primeiro livro – O Faraó Merneftá – de uma autora russa, Vera Kryzhanovskaia. É uma obra espiritual que nos transporta para a época do Antigo Egito. Uma trama repleta de paixões, disputas pelo poder e tragédias. O cerne da obra é a diáspora do povo judeu, libertado da escravidão do Egito. Moisés, uma figura central na história bíblica, desempenhou um papel crucial na libertação do povo de Israel da escravidão no Egito e na condução deles em direção à terra prometida.
Eu era “coroinha” nessa época e a história me fascinou! Eu me transportava no tempo “vendo” as proezas de Moisés para mostrar o poder de seu Deus ao faraó e a sua jornada rica de ensinamentos bíblicos, como os Dez Mandamentos, uma lei de regras, disciplina e alerta para educar o povo de Deus em sua longa caminhada pelo deserto.
Mas quem me abriu mesmo o mundo mágico dos livros foi a professora e poetisa Amélia Thomaz, que lecionava português e literatura. Um dos livros que mais me fascinou foi Vidas Secas, considerada uma obra-prima de Graciliano Ramos de Oliveira, filho de Sebastião Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos, nascido no município alagoano de Quebrângulo, no dia 27 de outubro de 1892. Família de classe média, Graciliano era o primogênito de 16 filhos.
Ele teve uma infância difícil, assinalada por dificuldades na relação com seus pais, bastante rígidos e frios. Estudou no Internato em Viçosa e, em 1904, aos doze anos de idade, publicou no jornal da escola, O Dilúculo (estranho nome para significar luminosidade do amanhecer, aurora), sua primeira obra: o conto O Pequeno Pedinte. Foi um escritor, político e jornalista brasileiro, conhecido por sua contribuição ao modernismo. Casou-se com Maria Augusta Barros, que faleceu pouco tempo depois. Com ela, teve quatro filhos.
No ano seguinte, passou a viver em Maceió, onde se matricula no Colégio Interno Quinze de Março. Ali, ele estabelece uma relação de identificação com a língua e a literatura.
Quando terminou o ensino médio, em 1914, seguiu para o Rio de Janeiro. Na cidade maravilhosa ele trabalhou como revisor dos jornais Correio da Manhã, O Século e A Tarde.
Em 1936, casou-se com Heloísa Leite de Medeiros, com quem teve quatro filhos: Ricardo, Roberto, Clara e Luísa.
A partir de 1930, assume a direção da Imprensa Oficial e da Instrução Pública do Estado em Maceió. Foi filiado ao partido comunista, sendo preso sob essa acusação, no início da ditadura Vargas. Apesar de possuir uma personalidade muita ácida, o próprio escritor ressaltou: “Em qualquer lugar, estou bem. Dei-me bem na cadeia. Tenho até saudades da Colônia Correcional. Deixei lá bons amigos.”
Atuou na carreira política, sendo eleito prefeito da cidade de Palmeira dos Índios (AL), em 1928, cargo que ocupou até 1930.
Graciliano faleceu no Rio de Janeiro, em 20 de março de 1953, vítima de câncer no pulmão. 2024 assinala 71 anos de sua morte. Graciliano escreveu romances, contos, crônicas, literatura infanto-juvenil e segundo ele: “Qualquer romance é social. Mesmo a literatura ‘torre de marfim’ é trabalho social, porque só o fato de procurar afastar os outros problemas é luta social”.
Li e reli todos os seus livros, aos 17 anos de idade: Terra dos Meninos Pelados (1939); Alexandre e outros Heróis (1962); Angústia (1936); Baleia (Conto, 2013); Brandão Entre o Mar e o Amor (1942); Caetés (1933); Cartas (1980); Cartas a Heloísa (1992); Histórias de Alexandre (1944); Histórias incompletas (1946); Infância (1945); Insônia (1947); Linhas Tortas (1962); Memórias do Cárcere (1953); O Estribo de Prata (1984); O Relatório do Prefeito Graciliano Ramos (1930); São Bernardo (1934); Viagem (1954); Vidas Secas (1938); Viventes das Alagoas (1962).
Graciliano não chegou a fazer nenhum curso superior. Algumas de suas obras foram adaptadas para o cinema, como Vidas Secas, São Bernardo e Memórias do Cárcere.
Publicado em 1938, o romance documental Vidas Secas é sua obra mais emblemática. Nele, Graciliano retrata a vida de uma família de retirantes com sua cachorra e papagaio. Nesse romance, o escritor traça a figura do sertanejo, explorando temas como a miséria e a seca do nordeste. É considerado o mais importante romancista da Geração de 30. Seu estilo é simples e seco, sem adjetivos, linguagem rigorosa, concisa, marcado por um pessimismo profundo em relação ao homem. Dizia: “Arte é sangue, é carne. Além disso, não há nada. (…)só podemos expor o que somos”. Graciliano Ramos, um dos maiores nomes da literatura brasileira, produziu uma rica variedade de obras.
Li, ainda, naquela época, também por indicação da professora Thomaz, os seguintes livros: de Castro Alves (1847/1871): Espumas flutuantes e O Navio negreiro; de Gonçalves Dias (1823/1877) : Canção do Exílio, Os Timbiras e I-Juca Pirama; e de José de Alencar (1829/1864): Iracema (Me apaixonei pela índia cearense), O Guarani e Ubirajara.
O Dia do Livro tem duplo propósito: homenagear obras literárias e seus autores, além de conscientizar as pessoas sobre os prazeres da leitura.
A tradição catalã também influenciou a escolha dessa data. No dia de São Jorge (23 de abril), naquela tradição, é costume dar uma rosa para quem compra um livro.
No Dia Mundial do Livro, podemos realizar diversas atividades para celebrar a literatura, como: escrever uma história em grupo; ler um livro em voz alta para crianças; incentivar as crianças a lerem versões infantis dos grandes clássicos da literatura; contar a história dos grandes escritores do mundo; desenhar ou pintar ilustrações relacionadas a personagens da literatura, como em Vidas Secas, de Graciliano Ramos, ou Dom Quixote de la Mancha, de Miguel Cervantes e Saavedra (1547/1616).
Aproveite essa data para mergulhar em boas leituras, apreciar o mundo mágico dos livros ou presentear filhos e amigos. Por que o livro nos oferece um mundo mágico? Como eu poderia ter ido ao Egito e ver as proezas de Moisés? Como ler o que ia na alma de Fabiano, em Vidas Secas? Como visitar planetas e asteroides sem sair de nosso quarto? Magia, magia, magia do livro!
Ao ler um livro desses, eu “viajava” nas cenas mais significativas descritas pelo autor.
Encerro este artigo com mais uma famosa frase de Graciliano Ramos:
Nunca pude sair de mim mesmo. Só posso escrever o que sou. E, se as personagens se comportam de modos diferentes, é porque não sou um só.