“O roteiro perfeito de uma mulher feliz”, por Amanda de Moraes

Mulher empresária CEO

Somos seres em eterna construção. Com nossas singularidades, desejos, projeções pessoais. Nascemos e nos desenvolvemos em sociedade. Hoje, o mundo que nos encanta pode não ser o que amanhã nos alegrará. Hoje, gostamos de doce; amanhã podemos preferir salgado. Forjamos os nossos valores a partir de um processo reflexivo de contato direto com o mundo. Caminhos podem ser refeitos. Na casa dos 30 anos, as prioridades não são as mesmas de quando tínhamos 20. Aos 40, podemos lamentar o avanço da idade. Aos 60 anos, talvez percebamos o quanto éramos jovens aos 40.

Caminhos são construídos, desfeitos, abandonados. Ao nascermos, não ganhamos um guia de “Como viver a vida” ou “O roteiro fixo de sua existência”. Bom, pelo menos, assim deveria ser, sob pena de uma vida inteira de frustração, dedicada ao que o outro definiu como o melhor caminho. Um quadrado tentando se encaixar em um buraco redondo. Os Pés de Lótus das mulheres chinesas, enfaixados e quebrados para caber dentro da expectativa social. Dói. Dói no corpo, dói na alma.

No entanto, mesmo com os gritos por uma vida de autonomia, há os que desejem que as certidões de nascimento sejam acompanhadas por roteiros preestabelecidos pelo gênero. Exemplo de roteiro fixo? Eis – a mulher, educada para casar e ser uma boa esposa, deveria aguardar, bem-humorada e arrumada, o marido chegar a casa. Enquanto isso, os homens ocupariam, exclusivamente, os espaços de poder, elaborariam leis que regem comportamentos, ditariam as condutas adequadas e participariam, protagonistas, da construção da sociedade.

Deus me livre de mulher CEO”, fomos obrigados a ler recentemente. A justificativa: o trabalho de liderança gera muito estresse, abalando físico e emocionalmente quem ocupa tal cadeira. De acordo com esse roteirista, como a energia feminina foi feita para a construção de um lar, a vida de uma mulher em uma posição de liderança não seria nada agradável. Por fim, o redator dos estereótipos ainda fez uma profunda reflexão: “Por que fazer a vida dessa mulher pior dessa forma?

É de se questionar por que esse ser humano redigiu tais palavras. Se fosse em um local bem longínquo, sentado em uma mesa de bar, sozinho, já seria ruim. A questão é que foi dito por um homem, em posição de liderança empresarial, com quase um milhão de seguidores nas mídias sociais, identificando-se como formador de empreendedores. Pois é, ele forma opiniões.

A declaração repercutiu e foi refretada de imediato, como deve ser, demonstrando que não será admitido retrocesso aos direitos das mulheres, conquistados ao longo de anos de luta. No entanto, muitos setores importantes da sociedade civil preferiram ignorar. Outros, “passaram pano”. É preciso se posicionar, principalmente quando pessoas que buscam a retração de direitos o fazem.

De acordo com a Forbes, citando pesquisa realizada pela FIA Business School, em 2023 mulheres ocupavam 38% dos cargos de liderança no Brasil. Há ainda um grande caminho pela frente.

Medidas já tão tomadas para impulsionar mulheres que querem ser líderes corporativos, como os comitês específicos para discutir a ascensão de mulheres a cargos de liderança, criados em empresas.

Por fim, um exercício de consciência: imagine que alguém seja favorável, mesmo que por um instante, a eliminar o livre-arbítrio do próximo. Dizem os sábios, tais qual Santo Agostinho, que a vida é o dom maior de um ser humano. Se é um dom e temos esse livre-arbítrio como uma dádiva, a mulher e quem quer que seja poderá fazer o que bem entender da vida. Se com ética e virtudes (inclua a responsabilidade), a caminhada será gratificante. Quem se atenta contra a liberdade e os direitos está também atentando contra a sociedade. Homens e mulheres virtuosos (ainda mais as pessoas públicas), ao menor sinal de preconceito, devem se posicionar, porque esse grito representa a luta de todos nós.

 

Amanda de Moraes Estefan é advogada, no Rio de Janeiro, e sócia do escritório Mirza & Malan Advogados. Ela é neta do ex-prefeito de Trajano de Moraes, João de Moraes
Amanda de Moraes Estefan é advogada, no Rio de Janeiro, e sócia do escritório Mirza & Malan Advogados. Ela é neta do ex-prefeito de Trajano de Moraes, João de Moraes

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