O saudoso Ginásio Euclides da Cunha

O antigo Colégio Brasil, de Cordeiro, foi semente frondosa de vários colégios na Região Serrana. Com sua transferência para Niterói, em 1914, alguns dos professores se dispersaram, preferindo fundar, na área geográfica, seus próprios educandários. Entre eles, podem ser citados: João Bittencourt, que criou o Colégio Bittencourt em São Fidélis (levando-o depois para Itaperuna e Campos); Carlos Cortes, que fundou o Colégio Modelo em Nova Friburgo; Sílvio Freire, que criou o Colégio de Miracema; e Manoel Vieira Baptista, misto de bedel e professor do estabelecimento cordeirense, que fundou o Colégio Moderno na fazenda Poço d’Anta, do Cel. Eugênio Erthal, em Barra Alegre (Bom Jardim).

Este último, depois de prestar bons serviços pedagógicos à família do proprietário da fazenda e verificar que Barra Alegre era um reduto rural demais para nele desenvolver o seu projeto, resolveu transferi-lo para São José do Ribeirão, sua terra, mudando o nome do estabelecimento para Colégio Euclides da Cunha, escritor regional que se tornou famoso nessa época. Ali, o educandário cresceu e até chegou a contratar professores de grande porte, como Alberto Lontra, Rodolpho Pizzarro Portocarrero e Mário Bittencourt, atraindo alunos em grande cópia das cidades vizinhas, cujos pais, satisfeitos com o aproveitamento escolar deles, acabaram levando-o para Cantagalo em 1927.

Chegando ao novo domicílio, o colégio funcionou provisoriamente no palacete do Gavião até construir sua sede própria na Rua Rodolpho Albino (hoje Nilo Peçanha) em local atualmente ocupado pela Sociedade Espírita Jesus Escola, onde permaneceu até 1941. Nesse período, passou por várias mãos. Em 1935, foi desapropriado pela Prefeitura (Decreto nº 110) com o nome de Ginásio Municipal Euclides da Cunha, quando foi oficializado, voltando à iniciativa privada em 1938, sob a tutela da firma Bittencourt Irmãos, dirigido pelo Dr. Jayme da Siqueira Bittencourt.

Nos primeiros tempos de Cantagalo, quando o colégio ainda não tinha habilitação legal para expedir certificados, o professor Baptista (que na época só contava com a ajuda da própria esposa, Corina Penna e do professor Benedito Barros) levava, anualmente, os alunos mais graduados aos colégios Pedro II, Brasil ou Paduano para, neles, prestarem seus exames.

Transformado o colégio em ginásio no curto período em que esteve sob o controle da Prefeitura, os exames começaram a ser feitos no próprio estabelecimento, adotando o Dr. Jayme uma estrutura mais dinâmica e compatível com os padrões pedagógicos da época. Para tanto, cercou-se de professores jovens e entusiastas, como Jabes Leão, Paulo Campos, Manoel Ramos e duas irmãs dele próprio, diretor. Isso, sem falar nos melhoramentos materiais introduzidos no estabelecimento, como o grande barracão de entrada, duas praças esportivas e um excelente gabinete de história natural.

Mas, sobrevindo grave desentendimento com o inspetor federal Paulo Roberto de Baere, em 1941, o Dr. Jayme afastou-se, com a transferência do colégio para a praça central da cidade (velho sobrado onde residiu o Cel. Bibi de Mello) e a consequente passagem dele por vários diretores: Dr. Alcides Ventura, Padre Hugo Montedôneo Rego, Monsenhor Acchiles de Mello e, por fim, Dr. Messias Moraes Teixeira, talvez o mais atuante mentor do tradicional estabelecimento.

Além de contar com o decisivo apoio do dedicado secretário Joaquim Soares, o Dr. Messias (que também dirigia o Colégio Modelo, de Nova Friburgo), compôs o quadro docente com professores extraídos da própria sociedade cantagalense, a saber: ele próprio, lecionando inglês; Manoel Vieira Baptista, ensinando latim e francês; Dr. Alcides Ventura, história do Brasil; Sílvio Lutherbach, matemática e ciências naturais; Marino de Paula Pinto e, depois, Amélia Thomaz, português; Lourdes Dietrich Gonçalves, geografia e canto orfeônico, e o Dr. Niltho Leite com história geral.

O colégio, embora não tão numeroso como noutros tempos, porque passou a sofrer concorrência de outros ginásios que surgiram na área, continuou emblemático, inclusive deixando muita saudade entre os alunos que o frequentaram.

*Clélio Erthal é ex-desembargador, ex-juiz federal e pesquisador da história de Cantagalo e região. Mais em www.cantagalo.rj.gov.br/index.php/filhos-ilustres/136-clelio-erthal.

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