Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Imigrantes subindo a serra Cachoeiras – Colônia Nova Friburgo, em 1819.
O Elisabeth et Marie, com Jean Abram Frauche a bordo, aportou na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, em 6 de dezembro de 1919. Ao ser registrado, no porto do Rio de Janeiro, recebeu a cidadania portuguesa, com o nome de João Abram Frauche.
O roteiro da viagem dos imigrantes suíços, da Baía da Guanabara à Colônia Nova Friburgo, teve três etapas.
A primeira, da Baía de Guanabara até Itamby, pelo rio Macacu, com o uso de chalupas (barco de vela e/ou remos). Ali foram abrigados em sessenta tendas, armadas para acolhê-los. Itamby não era um povoado, mas um engenho de açúcar, com um quartel, quatro edifícios e barracas para abrigar os imigrantes. Ali permaneceram por cinco dias.
A segunda etapa começa quando saem de Itamby, sobem o rio até Macacu ou Santo Antônio de Sá, vila de “uma rua só”, criada em 1697, com o Mosteiro de São Boaventura, uma Igreja Católica e um hospital de emergência, para atender aos imigrantes que chegaram doentes. Os imigrantes dormiram “em pouco menos do que o chão duro” em esteiras de palha muita finas, como registra o imigrante Joseph Hechet em seu livro¹.
A partir de Itamby, as mulheres, as crianças e as bagagens seguem por terra, em carroças; em cavalos, mulas ou a pé, os homens. Chegam à Fazenda do Colégio, “distante 18 quilômetros” da última parada, que pertence a um proprietário “imensamente rico”, com um engenho de cana de açúcar.²
Agora estão no sopé da montanha. A terceira etapa, de Cachoeiras de Macacu à Colônia Nova Friburgo. O imigrante Joseph Hecht narra a dramática subida da serra até chegar à Fazenda Morro Queimado, na travessia de rios e da floresta densa:
“[…] fomos atravessando grandes riachos, passando montanhas e vales. […] Enquanto andávamos em terra firme, éramos corajosos, mas, quando vimos um riacho de 80 passos de largura, que tínhamos que passar a vau e que as mulas achavam muito ruim, aí não havia perdão: era recuar ou continuar rumo à cidade recém-construída para nós. Por sorte esse riacho tão largo não tinha muita correnteza e, para nosso consolo, podíamos ver as pedras do fundo. Mas, mesmo assim, deu medo de atravessá-lo. […] Depois de descansar um pouco, continuamos nossa viagem, andando às cegas, pois não tínhamos sinais de aviso, em nosso caminho. Tivemos de atravessar vários riachos, alguns com água até a metade do corpo, porque era muito raro encontrar pontes ou degraus leves. Encontramos um monte bem alto e levamos quatro horas para subir”.³
Finalmente, os imigrantes chegam à Fazenda Morro Queimado, após meses de viagem, dos diversos cantões suíços à Colônia Nova Friburgo, enfrentando os mais diversos obstáculos, além de doenças e a perda de entes queridos ou companheiros de jornada. Foram cerca de doze dias de viagem da Baía da Guanabara à Colônia Nova Friburgo.
Dos 2.006 imigrantes que saíram da Suíça, chegaram a Nova Friburgo 1.617, com nascimento de 14 crianças ao longo da extensa viagem.
João Abram Frauche chegou à Colônia Nova Friburgo em 18 de dezembro de 1819. Levou 164 dias viajando, nas condições mais adversas, de Estavayer-le-Lac, na Suíça, à Fazenda Morro Queimado, no distrito de Cantagalo, onde passou a ocupar a casa 8 e o lote 41. Jean Abram Frauche ocupou a casa 8 com mais catorze colonos, sendo dois solteiros, três casais, uma viúva e cinco menores de 18 anos de idade.
Nas casas, segundo narra Nicolin, havia apenas uma janelinha para se olhar quem bate, sem abri-las. Dentro não existia soalho, pois segundo um colono “o chão dos quartos é de terra batida”. Não há cozinha. O fogão vai ficar do lado de fora. A construção é leve e rústica, não protege das intempéries. É uma típica moradia das classes pobres do Brasil colonial. O espaço habitável, o que é muito mais importante, é composto de quatro pequenos cômodos. Portanto, em cada um deverão viver mais de quatro pessoas. Assim, no começo de sua história, Nova Friburgo está superpovoada. Essa superpopulação forçará os homens a se dispersarem. “Mas primeiro, é preciso viver nessas condições que não propiciam um ambiente muito agradável, e que, ao contrário, são fonte de tensão pela presença de diversas famílias misturadas com pessoas solteiras de ambos os sexos”.5
O colono Schueller, de Fribourg, revela seu desencanto com a colônia. O gado prometido só chegou em parte, as sementes não brotam, há quatro meses que os subsídios estão suspensos e os mantimentos estão caríssimos. Para ele, o “vale de Cantagalo é a terra mais miserável de todo o Brasil”.
O suíço Pierre Schmidtmeyer, de Genebra, visita a colônia em junho de 1821 e constata que a vila de Nova Friburgo sofre de paralisia, parou de crescer e não há mais obras em andamento e que “as terras distribuídas aos colonos são de qualidade desigual, algumas são de todo incultiváveis, consistem de encostas e picos muitos escarpados”.6
Em agosto de 1821, o Príncipe regente autoriza os suíços a deixarem Nova Friburgo. João Abram Frauche migra para São Sebastião do Paraíba. Na vila, é identificado como João Abrom Frauche, segundo pesquisa de Henrique Bon, inserta em seu livro Imigrantes – A saga do primeiro movimento migratório organizado rumo ao Brasil às portas da independência (Nova Friburgo, RJ: Imagem Virtual, 2ª Ed., 2004).
Na próxima semana encerrarei a saga do patriarca da Família Frauches, em seus primeiros tempos em Cantagalo.
Cantinho da poeta Amélia Thomaz
Orientação
O caminho da saudade
Eu sei muito bem, porque
Minha alma quando ela invade,
Eu penso logo em você…
(Extraído do livro Alaúde. Cantagalo, RJ: s/Ed., 1954, p. 4)
Celso Frauches é professor, escritor, pesquisador, ex-secretário Municipal de Cantagalo e consultor Especialista em Legislação
Fontes:
- HECHT, Joseph. A imigração Suíça no Brasil 1819-1823 (descrita por um participante). Tradução de Armindo Müller. Nova Friburgo, RJ [s.n.], 2009, p. 62.
- NICOULIN, 1995, p. 170.
- HECHT, 2009, p. 67-68.
- NICOULIN, 1995, p. 179.
- NICOULIN, 1995, p. 206.