“Origem da família Frauches no Brasil”, por Celso Frauches

Marco em Estavayer-le-Lac, situada às margens do lago Neuchâtel

O resgate da memória de um povo faz crescer o respeito pela nação onde este mesmo povo vive.
(Prof. Márcio Manhães Folly)¹

Acervo digital: Osmar de Castro - Navio Urânia, que trouxe os colonos.
Acervo digital: Osmar de Castro – Navio Urânia, que trouxe os colonos.

O professor e pesquisador suíço Martin Nicoulin, em sua tese de doutorado na Universidade de Fribourg, Suíça, publicada em A gênese de Nova Friburgo², narra a saga dos imigrantes suíços que colonizaram Nova Friburgo (RJ), no período 1817/1827. Entre os imigrantes da primeira leva, que chegaram a Nova Friburgo em dezembro de 1819, estava Jean Abram Frauche, registrado por Nicoulin³ como sendo Louis Abraham Fauchez. Era o único Frauche entre os emigrantes suíços embarcados nos oito navios saídos da Holanda e que conseguiram chegar à Colônia Nova Friburgo, no final de 1819.

O médico, pesquisador e escritor cantagalense, Henrique Bon, em seu excelente livro Imigrantes – A saga de primeiro movimento migratório organizado rumo ao Brasil às portas da independência4, amplia as informações sobre o Frauche em sua chegada à Colônia Nova Friburgo, situada na região pertencente a Cantagalo, e sua descendência.

Da esquerda à direita: Yuri, o tradutor, Clóvis Ozenil de Souza Jr., Werverton Ozenil de Souza, Clóvis Ozenil de Souza e Jean Pierre Frauche em Estavayer-le-Lac, às margens do lago Neuchâtel.
Da esquerda à direita: Yuri, o tradutor, Clóvis Ozenil de Souza Jr., Werverton Ozenil de Souza, Clóvis Ozenil de Souza e Jean Pierre Frauche em Estavayer-le-Lac, às margens do lago Neuchâtel.

Em junho de 2015, Clóvis Ozenil de Souza e seus filhos Clóvis Ozenil de Souza Jr. e Werverton Ozenil de Souza, após contatos com Jean-Pierre Frauche, residente na comuna de Bussigny, próxima a Lausanne, no Cantão de Vaud, Suíça, viajaram até Lausanne e, ciceroneados por Jean-Pierre e a esposa Deborah, com a intermediação do tradutor Yuri, um brasileiro residente na Suíça, viajaram de Lausanne até Ursins, para conhecerem a comuna onde nasceu Jean. Conseguiram obter o registro de nascimento do nosso patriarca, com o sobrenome correto – FRAUCHE –, na Prefeitura de Lausanne, capital do Cantão de Vaud, mediante cópia de página do livro da antiga igreja de Ursins, em microfilme.

Igreja d'Ursins onde Jeam Abram Frauche foi batizado
Igreja d’Ursins onde Jeam Abram Frauche foi batizado

Por esse registro, ficamos sabendo que FRAUCHE, Jean Abram, é filho de Pierre Abram Frauche, de Ursins, e de Marion Peitrigner, nascido em 27 de setembro e batizado na Igreja de Ursins em 10 de outubro de 1802, tendo por padrinho Jean Abram Beney, de Vallayres, e madrinhas Marion Christin, de Ursins, e Jeanne Baudin, também de Ursins, sendo o único Frauche imigrante suíço para a Colônia Nova Friburgo.

Consultando o órgão suíço Archives Cantonales Vaudoises, do Cantão de Vaud, encontramos o registro de cinco filhos do casal Pierre Abram Frauche e Marion Peitrigner, incluindo Jean Abram, nascidos em Ursins: Françoise Frauche, nascida em 4/6/1799; Jean Abram Frauche, nascido em 27/9/1802; Jeanne Frauche, nascida em 25/9/1804; Jean Pierre Frauche, nascido em 26/3/1806; e Jean Pierre Frauche, nascido em 30/3/1808. Os dois últimos filhos do casal têm o mesmo nome – Jean Pierre Frauche –, um nascido em 26 de março de 1806 e o outro em 30 de março de 1808. Uma diferença de dois anos. Possivelmente, o Jean Pierre, nascido em 1806, tenha falecido antes de completar um ano de idade e o filho seguinte, nascido em 1808, herdou o seu nome.

Cena a bordo de um dos navios que transportou os imigrantes suíços do porto de Amsterdam, na Holanda, até a cidade do Rio de Janeiro, em 1819.
Cena a bordo de um dos navios que transportou os imigrantes suíços do porto de Amsterdam, na Holanda, até a cidade do Rio de Janeiro, em 1819.

Jean Abram Frauche era um jovem corajoso que, talvez por ter ficado órfão aos 14 anos de idade e diante da situação socioeconômica da Suíça, resolveu tentar novos horizontes no Brasil. Deixou a sua comuna, Ursins, com a idade de 17 anos. Ele se juntou a 187 suíços de Valais, Vaudois e Fribourg que emigraram, em 1819, para o Brasil.

Jean Abram Frauche e mais 89 pessoas do Cantão de Vaud (francês) emigraram, em 1819, para o Brasil. Os motivos podem ser identificados na situação de crise social e econômica por que passava a Confederação Helvética, na segunda década do século 19. Jean Abram Frauche, assim como milhares de suíços, desejava ter a oportunidade de trabalho e de uma vida digna. A emigração para o Brasil representava uma “luz no fim do túnel”, com a possibilidade de casa e terra para trabalhar e obter, pelo menos, o seu sustento. A viagem teve início em 4 de julho de 1819, em Estavayer-le-Lac, situada às margens do lago Neuchâtel, com destino ao porto de embarque, em Amsterdam, Holanda.

Trajeto percorrido pela embarcação que transportou Jean Abram Frauche de Estavayer-le-lac, Suíça, até o porto de Mijl, na Holanda. De lá, ele foi, com outros imigrantes, levado até Amsterdam e daí para o porto do Rio de Janeiro, na Baía da Guanabara.
Trajeto percorrido pela embarcação que transportou Jean Abram Frauche de Estavayer-le-lac, Suíça, até o porto de Mijl, na Holanda. De lá, ele foi, com outros imigrantes, levado até Amsterdam e daí para o porto do Rio de Janeiro, na Baía da Guanabara.

Em 28 de julho, o comboio atingiu o rio Waal, em Nimègue ou Nijmegen, afluente do Reno. Chegando a Dordrecht, no dia seguinte, os colonos foram transferidos imediatamente para Mijl, na Holanda, pequena localidade situada ao sul daquela cidade, onde aguardaram, entre 45 a 80 dias, o embarque definitivo para o Brasil.

Jean Abram Frauche chegou em Mijl, Holanda, em 30 de julho de 1819. Ali permaneceu acampado, juntamente com outros viajantes, durante 71 dias. Seu navio, o Elisabeth et Marie, tendo como Capitão A. Struyck, zarpou de Amsterdã somente em 10 de outubro, do porto de Den Helder. Nesse período, tendo em vista suas parcas condições financeiras, Jean deve ter ocupado uma das barracas improvisadas, bastante precárias, situadas no acampamento localizado nos pântanos de Mijl. A sua juventude e saúde contribuíram para que aportasse no Rio de Janeiro e chegasse à Colônia Nova Friburgo sem as sequelas dessa torturante viagem, que vitimou mais de 300 emigrantes. O Elisabeth et Marie aportou na Baía de Guanabara em 6 de dezembro do mesmo ano, transportando parte dos imigrantes para a Colônia de Nova Friburgo.

A saga de Jean Abram Frauche continua na próxima semana.

Celso Frauches
Celso Frauches

Cantinho da poeta Amélia Thomaz
Ternura

Ao ler tua carta-poema,
Senti um grande desejo
De aquecer-te as mãos do frio
Com o calor de meu beijo…
(Extraído do livro Alaúde. Cantagalo, RJ: s/Ed., 1954, p. 3)

Celso Frauches é professor, escritor, pesquisador, ex-secretário Municipal de Cantagalo e consultor Especialista em Legislação

Fontes:

  1. WERMELINGER-MONNERAT, Alberto Lima Abib. … E os suíços chegaram!!! – A imigração suíça de 1819/1820. Nova Friburgo, RJ: A. Lima Abib, 2010, p. 6.
  2. NICOULIN, Martin. A gênese de Nova Friburgo – Emigração e colonização suíça no Brasil – 1817-1827. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1995.
  3. Ibid., p. 277.
  4. BON, Henrique. Imigrantes: a saga do primeiro movimento migratório organizado rumo ao Brasil às portas da independência. Nova Friburgo, RJ: Imagem Virtual, 2004.

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